sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Vem cá, 2010.

faz um tempinho que estou com isso entalado na garganta, então lá vai: Fique sabendo que apesar de tudo, das vezes que você tentou me fazer desistir, das pessoas especiais que você trouxe e levou com uma rapidez incrível, ainda tenho um certo apreço por você. Porém, estou muito feliz que você tenha acabado, e que no próximo ano eu possa dar o melhor de mim, apurar meu lado racional, e não deixar o emocional tomar as rédeas da minha vida. Vem cá, 2011: você vai ser ótimo pra mim, e tenho dito.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Status: Sozinho/Solitário

O fato de estar sozinho há muito tempo não vem me afetando tanto quanto no início do ano. A cada mês que passa, essa coisa chamada solidão vai ficando cada vez mais fraca, ainda que de vez em quando ela volta, um pouco mais forte, um pouco mais agressiva, porém, vai embora mais rápido. O fato de estar sozinho neste momento não significa que eu vou estar sozinho daqui alguns meses, mas isso não é uma certeza absoluta, é só um desejo pressuposto. O que me afeta não são os casais que vejo na rua, o problema está quando chego em casa, ou quando preciso de ajuda. Não é porque estou sozinho que choro antes de dormir, é porque eu tenho vontade de contar como foi meu dia e não há ninguém ali do lado segurando minha mão, ou trocando os canais na televisão. O que me afeta não é estar sozinho agora, mas sim a possibilidade disso se estender pelos próximos vinte anos.

Sempre ao seu lado.

          Já fazem onze anos desde que ele morreu. E a última coisa que eu disse quando ele saiu de casa, antes de sofrer um ataque cardíaco aos trinta e três anos, foi que me trouxesse um café sem açúcar.
12 de junho, 2000.

“Estava terminando de preparar as coisas para o aniversário do Eduardo. Dessa vez, eu iria – e esperava – surprendê-lo com um jantar romântico à beira mar. Ele nunca tinha visto o mar, então comprei passagens para o litoral, iríamos depois do almoço e chegaríamos lá antes mesmo do anoitecer. Só que houve um problema no trabalho do meu namorado. Justo nesse dia, a filha do seu chefe, que estava grávida, entrou em trabalho de parto e acabou vivendo uma tragédia, o filho havia nascido morto. Eduardo não teve como avisar, até tentou ligar no meu celular, mas eu acabei não atendendo. Fiquei com raiva por achar que ele havia esquecido, e já
tinha cancelado tudo. Jantei e fiquei aguardando na sala. Quando a porta finalmente se abriu, iniciei uma briga desnecessária.
- Você esqueceu?
- Esqueci, o que?
- Não acredito Eduardo, nós iríamos viajar hoje para o litoral, eu estava preparando uma surpresa pra você.
- A filha do chefe perdeu o bebê, eu tive que ficar lá no lugar dele enquanto ele estava no hospital.
- Não podia ter avisado?
- Eu liguei no seu celular, mas ele não estava com você. Nós podemos ter essa discussão outra hora? Realmente foi um dia difícil.
Ele passou andando para a cozinha, encheu um copo de água e ficou sentado. Enquanto isso, fui ao nosso quaarto e procurei meu celular. Realmente, havia várias chamadas não atendidas. Fui andando para a cozinha e parei na porta.
- Eduardo?
- Oi.
- Me desculpa?
Ele fez um gesto com a mão pedindo que eu fosse até ele. O abracei bem forte e perguntei como estava Aline (filha do chefe). Está lidando com a perda, é difícil sabe, explicou ele. Eu tinha uma grande dificuldade para expressar meus sentimentos, mas nunca tive tanta vontade de dizer que eu o amava, quanto naquele dia. Aproximei minha boca do seu ouvido e…
- Posso te dizer uma coisa?
- Claro. Mas antes, deixa eu ir ali no supermercado comprar café pra gente?
- Aqui não tem café?
- Acabou, eu acabei de me certificar disso.
- Tudo bem, pode ir.
- O que você ia dizer pode esperar, certo? É urgente?
- Não, tudo bem amor, eu falo quando você voltar.
Antes dele fechar a porta e sair, gritei:
- Eu quero o meu sem açúcar.
- O que?
- Sem açúcar.
- Tudo bem.
O supermercado não era longe, e ele estava demorando muito. Resolvi ligar no celular dele, e alguém atendeu:
- Alô? Amor, por que está demorando tanto?
- Alô, quem está falando?
- Aqui é o Paulo… E você quem é? O Eduardo está por perto?
- Desculpe, eu achei esse celular aqui no chão, acho que é do rapaz que acabaram de levar para o pronto-socorro mais próximo.
Desliguei o celular. O hospital mais próximo estava apenas a duas quadras de onde nós moravámos. Não demorei muito, apenas dez minutos depois e eu já estava lá aguardando notícias dele. Minhas mãos suavam, e eu sentia que precisava ir até onde ele estava. Contrariando a placa de “não entre”, passei pela porta e encontrei a sala onde Eduardo estava. Os médicos estavam apreensivos, o coração batia, até que tudo parou. Eu não acreditava no que via. Parado. O coração dele havia parado, e mesmo com as infinitas tentativas de fazê-lo voltar… não foi possível, Eduardo estava morto.”

          O que eu tinha para dizer era urgente, mas a gente sempre acha que pode esperar mais um pouco.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Isabelle.

Ele de uma cidade, ela de outra. Se conheceram em um festival parasiense, quando ambos estavam de férias. Tinham o mesmo gosto dramático por filmes de romance com dedos de ficção,e por que não dizer que ficção são os finais felizes? Durante as férias, conseguiram ser um para o outro, a melhor que coisa que acontecera naqueles trinta dias em Paris. Mas, como toda história de amor, essa deveria que ter uma pausa, visto que, ela estudava pintura no Rio de Janeiro, e ele dava aulas de dança em uma famosa escola no Chile. Um dia antes, Carl deixou a cidade e veio embora sem dizer adeus, deixou apenas um bilhete dentro da mala de Isabelle. Quando ela acordou e não encontrou o seu corpo ao seu lado na cama, desabou a chorar e caminhou até o bar mais próximo. Bebeu como nunca havia bebido antes na vida, e quase, quase foi parar no hospital. Imaginou que nunca mais o veria de novo, e que talvez aquilo tudo não passou de uma brincadeira, afinal, era Paris, e não havia lugar mais inspirador que começar um romance, só não sabia que também era o local mais mórbido para se acabar um dessa forma. Já não via mais beleza em nada. Ligou para o Brasil, cancelou suas aulas de pintura, começou um curso de música em Paris, e começou a cantar em alguns barzinhos da cidade. Tinha uma bela voz, sempre disse isso a ela. Pintura nunca foi a área dela, mas como vinha de uma famílias de pintores famosos [talvez você conheça algum deles achou que isso estaria no seu destino também. Isabelle demorou cinco anos para superar isso tudo, até que finalmente resolveu jogar fora tudo que lembrasse Carl. Ela iria seguir em frente, estava disposta a isso. Revirando as coisas no apartamento, enquanto relia os bilhetes que ele deixava toda vezque saía sem ela pela cidade, encontrou um bilhete, já um pouco amarelado. Eram poucas linhas que a deixaram pensativa por vários segundos, embora tudo fizesse sentido agora. Procurou na internet, qualquer informação sobre a escola que Carl estudava, e encontrou um telefone. Ligou. Cada ruído que se ouvia do outro lado da linha, ela sentia seu coração pulsar quase que em uma mesma sintonia, até que estivessem desregulados, o seu peito estava quase sufocando os outros orgãos do corpo.


- Alô?
- Eu gostaria de falar com o Carl.
- Carl? Da contabalidade?
- Contabilidade? Aí não é uma escola de dança?
- Foi há uns anos, você não está sabendo de nada?
- De nada?
- Sim... a escola foi fechada há uns três anos quando uma pessoa morreu de câncer.

Isabelle hesitou em perguntar um nome por alguns segundos.

- Qual o nome dele?
- Roberto.
- Roberto?
- Sim, o que aconteceu foi que um rapaz veio de Paris às pressas para tentar ajudar o melhor amigo, mas houve um grande problema no transplante, e o paciente não aguentou.
- Era compatível?
- O único. Carl era o único que podia salvar o amigo, e depois que não conseguiu fazer isso, fechou a escola e nunca mais ninguém o viu.
- Você não têm nenhum [a ligação caiu]

Deitada na cama, segurava o telefone na mão direita e as lágrimas começavam a escorrer pelo seu rosto. Durante os trinta dias, Carl ajudou Isabelle a seguir os seus próprios sonhos, os próprios desejos, e quando deixou Paris, não foi porque não a amava, e sim porque precisava. Essa foi a única vez que ela amou alguém de verdade, e mesmo sem saber que ele havia morrido de depressão, a moça sentia que de alguma forma nunca mais iria encontrar qualquer pessoa que parecesse com Carl.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A caixa.

De repente, ele parou o carro no meio da estrada e disse que não podia mais aguentar um só segundo. Aguentar? O que? Nada foi respondido. Ele olhava pela vidraça do carro, a chuva caindo lá fora, as luzes do poste mirando quase que o rosto dele. Estava um pouco escuro dentro do carro, eu perguntei se poderia ligar a luz, e pegando levemente na minha mão, interrompeu e disse - quase que mandando sutilmente - para que eu ficasse quieto e de boca fechada. Consenti. Então, voltei meu olhar para fora da janela, assim como ele o fazia. Quis perguntar, mas também não quis interromper o pensando que talvez transcorria pelo cérebro dele naquele momento. Eu sentia uma tensão que estava quase que sufocando. O carro fechado, aquela chuva abafando o lado de fora, de dentro. Sem querer acabei soltando um: Porra Caio! Ele não se mexeu, continuou ali olhando para o lado de fora, talvez se perguntando quando que finalmente aquela chuva pararia de cair, e eu comecei a me preocupar. Apertei as coxas dele, como se pedisse com muita vontade que ele finalmente abrisse a boca e me dissesse, ainda que fosse para nunca mais entrar naquele carro, sair da vida dele, qualquer coisa. Então, ele retirou uma caixa do banco traseiro e colocou no meu colo. Enquanto eu expressava uma curiosidade nos olhos, ele abria vagarosamente um sorriso. Antes de abrir, não me contive e perguntei se era algo ruim.

- Eu não sei o que eu vou fazer se você estiver terminando comigo, Caio. Esses aqui são os meus presentes que eu te dei, não é?
- Por que você não abre? Por que você precisa sempre ficar duvidando de tudo? Abre logo isso, poxa.

Eu entendi "porra" ali no finalzinho, mas quando chegamos em casa, ele me explicou que havia falado "poxa" mesmo, ainda que pela pressão do momento queria ter dito "porra". Eu disse que seria grosso da parte dele, e ele riu. Saímos do quarto, e fomos para a sala. Lá estavam todos os amigos reunidos, cinco. Eu estava noivo, e dali pra frente seria a pessoa mais feliz do mundo.

Sobre críticas e o poder de se permitir.

Muito da gente é cobrado. Faça isso, faça aquilo. É nos dito como devemos nos vestir, padrão de beleza, cabelo arrumadinho e o peso em dia. Um mundo sem leis, não seria um mundo organizado, mas quem disse que precisamos diariamente viver fazendo/dizendo tudo como querem, ou preferem? Posso até parecer louco quando falo com desconhecidos. Aliás, eu fazer tal ato já é algo bastante inusitado, visto o grau de timidez que me persegue desde os primórdios da minha existência. "Sai dessa depressão", diz ele. É tão fácil você aí, do seu sofá, digitar algumas palavras e me enviar por email. Se eu quisesse esse tipo de ajuda que me oferecem todos os dias, eu compraria livros de auto-ajuda, porque só pode ser de lá que vocês retiram todos esses conselhos clichês pregados nos quatro cantos do mundo. Eu estou me permitindo ficar triste, porque é assim que eu me sinto. Você pode até discordar, mas o que é que você sabe sobre mim? Fico meio impaciente com algumas coisas que chegam aos meus ouvidos, com comentários aqui e ali, sobre como eu devo fazer isso, se estou fazendo errado, certo, que é melhor dormir de lado porque de barriga para baixo me faltará ar. Não sou inteligente, e nem sei se serei e se quero ser um dia. Sei falar de algumas coisas, mas não sei falar de tudo, não tenho opinião sobre política, por exemplo, e eu sinto muito se me tornei menos atraente por causa disso, você ainda vai achar alguém que adore as mesmas coisas que você. E eu sei que mesmo sabendo um pouco sobre seres humanos, eu não sou bom o bastante para ninguém, e vou digerindo essa idéia dia após dia, aos poucos não está sendo mais difícil conviver com a idéia de que terminarei meus dias completamente solitário. Apenas eu, um copo de chocolate quente, filmes e cobertores. Ou não. O que o futuro me reserva? Não sei. De qualquer forma, vou me preparando para o pior.  Meu rapaz, críticas nunca trazem consigo um abraço acolhedor. O problema que eu tenho é em distinguir críticas construtivas de "críticas", apenas. Nunca sei quando algo é dito para mim, visando meu bem interior, ou se eu fui contemplado por alguém que não tinha nada para fazer e resolveu soltar qualquer burburinho no corredor. É complicado? Muito. 

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Mais um fim.

Durante o ano não pensei em como seria o fim do mesmo, e nem com quem desejaria passar. Não planejei nenhuma festa, se quero muito barulho ou apenas um jantar para relaxar. Fogos de artifício, fumaça, brilho, pessoas com as mãos para cima, contagem regressiva, ano novo. E mais uma lista de coisas que eu irei fazer ano que vem - tudo mentira. Vou emagrecer, amar alguém, me sentir bem comigo mesmo, aproveitar a minha vida. Se eu soubesse que estaria onde estou agora, certamente não pensaria a doze anos atrás que tudo foi previsível demais. Pelo contrário, foram muitas novidades. Mas não foram boas novidades. Em relação as amizades, conheci poucas pessoas, e provavelmente todas eu consegui afastar naturalmente. Naturalmente? Poucas conseguem lidar com meu jeito de superação. Eu fico ali, por perto, e uma hora ou outra, sem motivo aparente, eu me afasto. Não é de um, nem de outro, é de todos. Faz tempo que eu deixei de dividir meus problemas com alguém. Me acostumei a dividir apenas os bons momentos, e talvez por isso eu seja visto de uma forma distorcida. E talvez por ser visto assim, as pessoas geralmente acham que eu sou muito forte, muito racional, e muitas vezes... muito frio. Algumas coisas infelizmente eu não posso explicar. Não posso explicar o motivo de rejeitar alguém, e nem o motivo de não me arriscar na primeira paixão que aparece pela frente. Foi mais um ano que passou, mais um fim que se aproxima, e por que não dizer que é um ciclo que se finaliza? Porque não é assim que parece. Este ciclo que deveria ter acabado, vem perdurando faz alguns anos. E não, não foi nesses doze meses que eu consegui quebrá-lo, embora nesses últimos dias eu venho pensando bastante nisso, e talvez tenha encontrado a resposta que queria. Só que não é simples, de novo me deparo com a palavra risco, coragem... Que por sua vez trazem junto a palavra incentivo. Não quero me estender no assunto, Scott disse que eu me estendo muito nos assuntos, em tudo, e talvez seja por isso que eu - no dia a dia - sou meio incompreendido pelos demais. Vocês entenderam, certo? Espero que sim. É o fim. E por enquanto, só mais um dia de trabalho que termina. O ano? Calma, ainda falta um pouquinho, não vamos nos despedir assim tão rápido.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O estraçalhado e o esparadrapo.

Scott sempre foi assim: diferente da maioria, sempre com opiniões contrárias da "massa", e quase nenhum amigo em volta. Nunca conseguiu se encaixar, e nem queria. Não se achava tão quadrado, e nem esperto o suficiente para conseguir "dominar" outra pessoa. Para se entrar em um grupo de amigos é preciso que você se encaixe, e ele não sabia como fazer isso, e até tinha um pouco de preguiça. Achava que amigos se conquistava naturalmente, ao ar livre, sem pressão, ou puxa saquismo. Além de ter idéias diferentes, e um gosto peculiar para tudo, ele era tímido desde que se entendia por gente. Sempre se achava um pouco atrasado, ou um pouco adiantado perante a sociedade, mas nunca esteve no presente. Quando não era seu gosto musical por músicas "oitentistas", era a sua forma de ver a vida que dispensava qualquer tipo de artifício tecnológico. É meu senhor, a tecnologia só distanciou ainda mais as pessoas. Costumava entregar cartinhas aos amigos na porta de casa, hoje em dia, não precisa vê-los, apenas um email e tempo para digitar qualquer coisa já parece suficiente. Bem, não vamos entrar em detalhes. Sempre puxava algumas pessoas para perto de si com seu humor ácido, e seu mal-humor trabalhado de forma que não desanimasse as outras pessoas. Ainda assim, a maioria delas se desprendia e logo voltava para o aconchego dos amigos cabeça-vazia. Ele também não fazia questão de agradar todo mundo, e dava liberdade para que os amigos que fazia voltassem a qualquer momento para o lugar que os pertencia. E o coração desse rapaz? Dava vergonha de ver em um raio-x. Ainda que colecionasse muitos ferimentos de doer a vista, ele não deixava que isso enrijecesse o seu caráter. Pegava a sua sensibilidade e estocava em qualquer parte escondida do seu corpo. Logo depois, voltava ainda mais sensível e forte, como uma fênix. Era um ciclo que não se acabava. Sofria, se escondia, e voltava, mas nunca, nunca pensou em apelar para o suicídio. Ainda que a vida fizesse questão de esbofetear a sua cara, ele não se dava por vencido, e nem perdia as esperanças de que um dia as coisas iriam mudar. Esforçava-se para não ser um merda, ainda que vezenquando tivesse que cortar raízes sujas que tentavam lhe sugar a energia que continha em seu peito. Vingança é uma coisa, auto-defesa é outra. Sabe se lá quantos esparadrapos fazem parte desse coração estraçalhado. Vou te dizer uma coisa que Scott me contou um dia desses: é difícil espantar os corvos quando se têm apenas duas mãos para tentar fazê-los acreditar que sim, aquele corpo ainda permanece de pé.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Entre cacos e desejos de morte.

"O leitor do ano": Esse era o prêmio - aliás, único - que Scott ganhava na vida. Toda aquela rotina de ir e vir da biblioteca, pencas e pencas de livros amontoados sobre a cabeceira da cama. Romances policiais, dramas de virar canecas de lágrima. Que ridículo, pensava. Alguns dias atrás, quando estava alugando mais uns livros na biblioteca, foi indagado pelo bibliotecário:

- Mais romances?
- É, pelo menos na ficção tudo termina bem.
- Como assim?
- Esquece, você não vai entender...

Provavelmente não entenderia mesmo. O que sabe sobre depressões, um bibliotecário vindo de família nobre, feliz e casado com uma rústica e bonita latina? Pouco? Muito? Scott não queria saber. No dia seguinte, ficou sabendo que uma ponte caiu e levou a alma do pobre bibliotecário. Sabe se lá o que seria da moça. Depois do luto deve encontrar outro rapaz interessante e se casar de novo. Essa gente têm a vida agitada, e eu aqui olhando para esses livros, essas garrafas de vodka vazia, esses rabiscos sem final algum, tão parecidos com a minha vida. Vida essa que vou esticando com um fio incerto, cheio de desejos alheios, nenhuma auto estima, e vontade de abrir os olhos no dia seguinte. Quero morrer, pronto. Se a Ana estivesse aqui, certamente me acertaria com um tapa e diria com aquela voz mansinha de quem não sabe o que quer: Então toma toda aquela caixa de remédio ali e seja feliz. Sempre era a mesma frase, e sempre  - quase sempre - era o mesmo impacto que me embrulhava por dentro. Já me deparei diversas vezes olhando para caixas de remédio, colocava um bocado de comprimidos na mão, levava até a boca e depois cuspia. Engolia um, ou dois. No máximo: um sono incontrolável. Agora mesmo, estava aqui lendo um romance qualquer quando avistei lá embaixo - moro no quinto andar de um prédio pintado em cores mórbidas - pela vidraça um casal trocando amores em público. Fiquei estarrecido, deprimido. Senti um dedo - um dedo não, uma mão inteira - de inveja. Fui atrás da minha agenda de contatos em busca de qualquer romancezinho de verão, desses que a gente não tem coragem de arremessar o corpo em queda livre com medo de dar de cara com pedras, e não com água, até que achei um Kevin perdido entre parentes e nomes de farmácias.  

- Alô.
- Kevin?
- Sim Scott, o que você quer?
- Nada...
- Nada? Você quer conversar, certo?
- É... Pode ser?
- Na minha casa, ou na sua? 

Eram quase sempre os mesmos assuntos, mas quase sempre ele extraía toda a vontade de morrer que perambulava pela minha cabeça. Kevin era o único amigo que eu tinha, ainda que eu tivesse que pagar pra isso.

sábado, 27 de novembro de 2010

E então eu conheci esse rapaz em um chat.Nunca fui muito fã de chats. Namoros virtuais então... melhor nem comentar, todos deram errado. Mas dessa vez a afinidade não era a longa a distância. Ele morava aqui, na mesma cidade que eu. Era um domingo - e eu deveria saber que daria tudo errado, era um domingo - e eu estava um pouco entediado - o que é normal -, foi aí que eu liguei o computador e pronto, estava em uma sala com mais de vinte pessoas desconhecidas, atrás de conhecer alguém que... preenchesse qualquer vazio, lacuna, ou seja lá o que estava/está faltando em mim. Foi totalmente perfeito. Nossa conversa sincronizava, era como se conversássemos pessoalmente, como se fosse possível ouví-lo, mesmo de tão longe, mesmo tão... superficial, embora estivesse mais intenso que qualquer outra coisa real. Por um momento temi, afinal, já estavámos ali nos expondo, e eu nem tinha visto o rosto dele, e nem ele o meu. Apenas medidas, imaginação e pronto, lá estava ele na minha cabeça. No mesmo dia, ele me ligou - como prometera - a noite e disse que passaria na minha casa para nos conhecermos pessoalmente. E veio. Ele dentro do carro, e eu fora na calçada de casa. Ele me disse que eu não era gordo como havia dito, e eu aleguei modéstia da parte dele quando disse que não era bonito. Sim, ele era um partidão. Faculdade, trabalho. Minha mãe ficaria impressionada se tivesse conhecido ele. Alguns minutos depois ele disse estar com pressa, tinha que ir buscar uns amigos e só passou mesmo para... me ver. "Eu te ligo mais tarde, pode ser?" Pareceu sincero, e eu respondi que poderia, que eu ficaria feliz se ele me ligasse. Ele apenas sorriu, deu meia volta e foi embora. E não ligou. Passaram-se três dias. E eu imaginei que ele havia viajado, que ele havia tido problemas em me ligar, que meu número tinha sido apagado acidentalmente, e então... fiz o que não deveria ter feito, ou melhor, fiz a única coisa que eu poderia ter feito, se quisesse realmente chegar a algo concreto: afinal, o que aconteceu depois daquele dia? E liguei no celular dele. Acho que da primeira vez eu liguei errado, estava tão nervoso e nem sabia direito ainda o que iria dizer. Caiu na caixa postal. Meia hora depois eu liguei de novo, e ele atendeu.

- É o Diego?
- Sim.
- Oi, tudo bem? Lembra de mim?
- Quem?
- Lucas. Daquele dia... você foi lá em casa...
- Não, não me lembro de nenhum Lucas. Tem certeza que ligou no número certo?
- Você disse que ia me ligar... nos conhecemos na internet... domingo...
- Ahhhhh sim.
- Lembrou?
- Eu estou terminando um trabalho enorme da faculdade e preciso entregá-lo hoje, assim que acabar eu te ligo.

Trabalho... ele estava de férias da faculdade há um mês. Eu não soube o que fazer com aquilo no dia, aliás, nem sei como vim digerindo isso por esse tempo todo. É tão simples você dizer que não vai ligar. Por que alimentar a esperança de outra pessoa em vão? Eu já me achava tão esperto, tão experiente nessa área... e de todas as possibilidades, nem havia passado pela minha cabeça que eu não tinha o agradado fisicamente. O que a gente tinha em comum, acabou assim que ele estacionou o carro, na porta da minha casa, e abriu o vidro do carro. Me senti a pior pessoa do mundo nesse dia, e me sinto toda vez que me lembro dele parado - eu totalmente acreditando que seria daquela vez - na frente da minha casa, com um sorriso estampado no rosto dizendo que me ligaria mais tarde.

De louco todo mundo tem um pouco.

Estive no manicômio esses dias. Dias que se passaram tão rápido quanto uma faísca no céu - achando que era estrela cadente fiz um pedido, em vão - e tão lentos na mesma proporção. confuso, eu sei. Conheci Matilde, que matara o marido com uma leve facada que acertou em cheio o coração do pobre - pobre de alma-. Ela nega. Eu acredito, sério, eu acredito na inocência de Matilde. Como pode uma mulher tão pura e cheia de sensações indescritíveis nos olhos, matar assim o marido que amara mais do que a própria vida? Ainda que eu desconheça bons motivos para crer na humanidade, prefiro apostar minhas velhas moedas que ainda vagam por aí boas almas para se confiar cegamente. Depois, encontrei Carlos deitado no chão, se debatendo, pedindo para que tirassem dele tudo que fosse podre, mas não havia nada, estava tudo tão branco quanto leite. Que estranho, pensei. Ajudei ele a levantar, e dando os primeiros passos com suor pingando pelo rosto, disse que eu era um anjo. Obrigado. Ele ordenou que eu não o agradecesse que eu nunca fui de ser gentil assim. E ele estava certo. Loucamente certo, eu acho. Coloquei ele na sua cama e ele permaneceu com olhar fixo no teto, como se olhasse um quadro qualquer de difícil interpretação. Já na cafeteria, havia um casal degustando e conversando sobre qualquer coisa que eu não entendia bulufas. Nunca fui mesmo de entender casais apaixonados, nunca nem estive apaixonado - como assim? - por ninguém, nem por mim mesmo, suponho. Até hoje, só pequenos casos que não faço muita questão de forçar a memória para lembrar. Deixe eles lá - quietos, em modo sleep - no lugar que devem estar. Na saída - é, o sinal havia tocado faz alguns minutos - me deparei com borboletas de todas as cores. Uma delas pousou no meu ombro esquerdo e ficou tão próxima que pude ouvir algo mais ou menos assim: seria mais justo se todos nós pudéssemos voar.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Você têm uma nova mensagem.

          Foi isso que eu ouvi quando cheguei em casa cansado, coloquei o terno sobre a parte alta do sofá-cama e apertei o botão da secretaria eletrônica. Fiquei pensando em quem poderia ter me ligado. Eu não tinha amigos, minha família já não se importava se eu estava vivo ou morto, e eu acabara de sair do trabalho. Apoiei as mãos no parapeito da janela e permaneci ali por alguns segundos. Nem me dei conta de que não havia fala na mensagem. Decidi aumentar um pouco o volume, me agachei no chão e coloquei os ouvidos próximos, mais próximos, afim de tentar ouvir alguma coisa. Até que doze segundos depois, saiu isto:

- Ele não vai lembrar de mim... {e desligaram}

          O meu telefone tinha bina, e facilmente eu poderia descobrir quem havia ligado. Nunca fui muito curioso. Ok, minto. Já houve uma época em que eu era muito, muito curioso. Mas isso faz bastante tempo. Eu passei a viver em uma redoma. Não achava ninguém interessante ou divertido, logo, não me importava se alguém se aproximava de mim pelos meus bens exteriores ou interiores. Resultado: ninguém chegava perto. Ou, eu os afastava, não sei bem. O que iria mudar na minha vida ou em mim saber quem havia me ligado? Provavelmente era alguém que errou de número. Isso acontece sempre. Aliás, aconteceu na semana passada.  Ligaram se declarando, dizendo mil e uma coisas que eu gostaria de ouvir, até que o rapaz se deu conta de que havia ligado para a pessoa errada. Eu respondi: É, são sempre os errados. Desliguei na cara, sem dizer adeus. Suponho que ele não tenha entendido bem a minha revolta. E nem precisava. Ah, cansei.
          Eu já estava deitado na cama, sonhando com ruas, ou becos, não sei... Enfim, quando o meu celular resolve tocar. E eu, meio que instantaneamente resolvi atendê-lo.

- Por que não me retornou? {em um tom meio agressivo}
- Você poderia primeiro me dizer quem teria me ligado mais cedo? E outra, eu não entendi nada, nada sobre o que você disse na ligação.
- Você estava dormindo?
- São duas da manhã, sabia?
- Desculpa, mas você não retornava... eu já estava enlouquecendo.
- Sim, o que você quer?
- Terminar nossa conversa de hoje à tarde.
- Que conversa?
- Você aceita, ou não?

          Eu me levantei da cama em um pulo, quando me veio uma lembrança remota na minha cabeça. Não sei como esqueci tão rápido. Eu estava almoçando em um restaurante qualquer ao lado da Galeria de Artes, quando alguém entrou no estabelecimento.

- Você era o cara do almoço?
- Sim... responde minha pergunta, não tenho tempo.
- Calma aí.

          Eu já havia acabado de almoçar e como tinha o resto do dia livre, resolvi ficar por ali e colocar minha leitura acadêmica em dia. E então, um rapaz se aproximou com o seu almoço em mãos.

- Direito Administrativo? {ele disse interrompendo minha leitura}
- Sim... E pelos visto - olhei para os livros que ele trazia embaixo do braço - você faz o mesmo curso que eu.
- Eu? - fez uma cara de desentendido levantando uma das sobrancelhas e espiou os livros que trazia - Não, não. Esses livros são de um guri que eu estou conhecendo.
- Ah, sei.
- Posso me sentar aqui?
- É... claro, fique à vontade.

          Idades. Relacionamentos anteriores. Onde trabalhava. O que fazia durante o dia, durante a noite. Músicas favoritas. Filmes. Artes, no geral. Planos. Idades - minha memória costuma ser meio fraca. Desejos. Assuntos sem nexo. E risos, e bebidas. E minha leitura interrompida. Conversa agradável. Sol se pondo. Noite vindo. E horas. Voando, tempo. E por último... nomes. Um aperto de mãos, abraço curtinho. Mesmo sendo tudo de forma rápida, já fazia anos que eu não me sentia daquele jeito. Aquele jeito meio babaca que fica a nossa expressão facial, quando a pessoa vai desaparecendo conforme vai ficando mais, e mais longe da gente.
          Na verdade, eu não havia esquecido. Minha memória não é tão ruim assim. A verdade é: eu não achei que daria em alguma coisa, que essa pessoa me ligaria, e que me pediria em namoro antes do aperto de mãos e do abraço curtinho. Eu não esperava. E foi justo por não esperar, que eu me senti nas nuvens. Só que... não queria cair de novo. Cair é doloroso. Depois de viver de quedas - lembra quando contei que eu vivo em uma redoma? - me isolei de tudo que fosse in, dentro. Fiquei desconfiado, me sentia sempre com vontade de continuar ali deitado, sem forças para levantar sequer meu corpo da cama. Ia trabalhar, mas não ia com qualquer mínima vontade que fosse. Eu já não sabia o porque de existir, e nem para que. Preferi não pensar nisso, e fui tocando a vida. Sem olhar para os lados. Era eu comigo mesmo. Sempre.
          Permaneci ali olhando a janela. Quando fui ouvir a mensagem de novo, não era nada. Doze segundos de silêncio e eu fantasiando amores que nunca vão acontecer de verdade.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Festa Junina


- Quer milho?

Eu nunca fui muito fã de milho, talvez bolo de milho, mas nunca o milho cru regado a manteiga. Ou cereais. Quando me oferecem granola, por exemplo, eu me sinto meio ofendido, com um estômago um pouco preso, não sei.
- Não. {respondi meio que grosseiramente}
 Ele não se intimidou, perguntou eu queria tomar suco de laranja. Eu rebati com outra pergunta:
- Por que tão óbvio?
- Como?
- Suco de laranja?
- Você não gosta?
- Claro. Mas eu prefiro limão, se tens tanta curiosidade em saber de frutas.
- É tudo cítrico.
- “É tudo cítrico” {falei com uma vozinha meio babaca}
- Eu vou embora, é melhor…
- Você não serve, não foi nada fácil despistar você.
- Você é grosso, por isso está sozinho.
- Sou não… quer dançar?
- Não. Não gosto desse estilo musical.
- E do que você gosta?
- Algo mais calmo. 
- Algo mais calmo… Ballet?
- Olha… isso não tem nada a ver com festa junina.
- Como não? Olha a fogueira, as coisas feitas de milho, aquelas pessoas bizarras dançando quadrilha.
- Peraí, quem são aqueles dois se casando em pleno altar junino?
- Não os reconhece?

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Minha vida sem mim.

O que vai acontecer quando eu se for? Será que as pessoas vão se lembrar de mim? Elas vão pensar em mim e dizer: ele era bem tímido. Ou será que vão voltar atrás e falar: tímido não, ele era uma fortaleza. Que tipo de fortaleza eu sou? Não estou certo se posso ser algo agora. Daqui a um mês, dois meses quem sabe, eu não vou ser nada. A doença vai ter consumido metade do meu corpo, e eu morrerei deitado na minha cama. Me perguntando: Quando foi que o amor passou e eu não vi? Será que eu fingi que ele não existia com medo de sofrer, ou será que eu vivi algo intenso sem saber? E as viagens que eu queria fazer? Será que ainda dá tempo? Bem... eu tive poucos amigos. Lucie, Carl... vocês sabem, eu amo vocês. Não, acho melhor não contar nada para eles. Vamos imaginar que é só uma brincadeira, que não há ninguém doente, que esse frio nunca mais vai ir embora. Eu te disse, eu gosto do frio, ele faz eu me sentir vivo. E da chuva também. Aliás, você viu como as folhas ficam mais bonitas depois de uma boa chuva? Não, não amei ninguém. Fui amado, mas... não é a mesma coisa. Sabe, eu queria ter sentido essas palpitações, o enjôo no estômago, a palma da mão suando. Durante esses vinte anos, todos me disseram que eu encontraria alguém bacana, que me levaria para conhecer todos os lugares, que iria captar minhas idéias mais idiotas e participar delas comigo. Seja quem for, vai chegar tarde. Não há mais tempo para sonhos. Não há mais tempo para vida. Esse é o último gole de café.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O que vem depois?

          Não estou certo do que quero amanhã. Se devo me aventurar entre os panos vermelhos, as músicas alegres ou aqueles que sofrem de obesidade mórbida. O que vem depois da desgraça, dos dias em que você brinca com objetos cortantes e chora no canto do banheiro, tentando descobrir quem foi, ou o motivo de você se sentir tão inútil? Você não sabe, nunca sabe de nada. É sempre um conselho qualquer, vai vivendo que depois tudo melhora. Já fazem dois anos que o mesmo sentimento de desfalecimento percorre pelas minhas veias, e nada melhorou. Essa sua teoria não faz sentido algum - nunca fez - pra mim. O que é que você sabe de se sentir deprimido, não é mesmo? Logo você, que sempre viveu romance após romance, tragédias, felicidades, tudo assim, se alternando constantemente, sem parar, como se fosse uma montanha-russa de sentimentos, que não param de mudar, até que resolve tropeçar em romance de novo, e aí está você: apaixonado, criativo, vivendo de emoção e jantares no fim de semana. O que é que você sabe sobre monotonia, não é mesmo? É um corre-corre, faculdade, namoro, brigas familiares, problemas alheios, compras no supermercado, vai em casa, arruma as coisas na geladeira, volta pra faculdade, encontra o namorado na esquina, te esperando, alguns amassos dentro do carro, faça-me o favor, você não sabe nada de viver entre a casa e o trabalho. Alguns passo até a escrivaninha, encher um copo de vodka e voltar para o quarto. Devorar filmes, livros, qualquer coisa com um mínimo de cultura, pra que mesmo? Nada, imagino. Tanta cultura assim ainda vai levar meu cérebro a morte. Por que querer ser tão culto, saber de tantas coisas, se quando saio de casa a conversa é sobre números e novidades do mundo da música pop. Deve ser esse humor ácido que atrai tanta gente sem fins emocionalmente lucrativos. O que vem depois de tanta nuvem negra, chuva de cacos de vidro e trovões quase-que-acertando o centro do meu peito? Nada, imagino. Talvez eu esteja destinado a viver nessa montanha-russa que não anda nunca, que fica ali no ponto de partida, sem impulso, sem coragem, sem um pingo de força para subir a rampa.

sábado, 13 de novembro de 2010

Raparigas.


Se mulher eu tivesse nascido, provavelmente seria uma dessas raparigas bem safadas. Mentira. Seria frágil, de coração mole, salto alto e professora de língua portuguesa. O cabelo sem química, um pouco de pó no rosto pra disfarçar as imperfeições da pele. Aliás, quando vão criar um pó para disfarçar a dor interna? Enquanto isso, vamos fingindo, atuando. Não, não seria atriz. Esse negócio de aparecer em revistas, prender homens com o golpe da barriga e beijar vários homens em novelas não é pra mim. Talvez atriz pornô. Se é para trabalhar com o envolvimento corporal, que seja em todos os sentidos possíveis. Mas aí, provavelmente eu iria querer colocar silicone, plastificar a cara, mudar esse nariz de batata, dar um jeito nas pernas tortas, ih, ia ter que transar muito para pagar isso tudo, melhor esquecer. Poderia também casar com alguém rico, engravidar, criar um programa de televisão bem ruim e fazer "sucesso". Tanta gente ia falar mal de mim, que provavelmente eu iria virar referência, e quando alguém vira uma referência da vida de outras pessoas, o próximo passo é lançar um livro. "Morte e vida Severina", puta livro chato. Ah desculpa, você gosta do João Cabral, mas foi obrigado a ler o livro para o vestibular? No fim das contas eu seria uma safada mesmo, que iria da escola para casa, da casa para o trabalho, e do trabalho para o motel com qualquer motorista que estivesse passando por mim na hora. Afinal, raparigas só precisam mostrar um pouco das pernas, tossir o cérebro, e mostrar os peitos em um decote profundo para causar um impacto nos homens de hoje.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Amando um filho da puta.

No começo, imaginei que seria tudo diferente. Ele do outro lado da rua, fazendo um sinal com a mão como se quisesse meu telefone. Nunca havia visto aquele rapaz, e nem sabia o motivo de ele estar pedindo meu telefone. Imaginei que seria para pedir alguma informação, eu era um pouco ingênuo na época. Ele se aproximou, e eu lhe entreguei um bilhete que continha meu telefone e nome. Eu te ligo amanhã, ele disse. Entrou no ônibus e sumiu. No dia seguinte, lá estava eu, andando pela cidade, segurando fortemente meu celular na mão, pois imaginei que se estivesse no bolso, eu poderia não ouvir, não sentir ele vibrar, não queria perder aquela ligação de jeito nenhum. Talvez devesse ter perdido. No final da tarde, meu celular tocou. Era ele. Nos encontramos e ele foi me levando de carro para a casa de um amigo. Achei que haveriam outras pessoas além de nós, mas estavámos sozinhos. Não houve muita conversa, o que eu havia achado bastante estranho. Achei que ele fosse do tipo tímido, que não gostava muito de conversar, ou que tinha medo de puxar assunto e falar besteira. Achei fofo, a princípio. Ainda que, pela feição dele, não achei que fosse tímido, e sim, que sabia muito bem o que estava fazendo. Quinze minutos depois e estavámos na cama. Quinze minutos depois eu já estava na rua. Foi rápido, ele disse que não tinha muito tempo. Eu perguntei se ele iria me ligar de novo, e ele disse que sim. Imaginei que ele fosse do tipo que começa as coisas de forma diferente. Primeiro se vai para a cama, e depois se conhece o parceiro. Deixei de supor isso quando nos encontramos de novo e a mesma coisa aconteceu. Pouca conversa, todas as peças de roupa pelo chão. Eu perguntei então, o que ele realmente queria de mim. E sem titubear, ele disse que queria sexo. Depois disse que tinha namorado, mas que ele não lhe dava a devida atenção. Peguei a carta que iria lhe entregar expondo toda a merda que eu sentia, e fui rasgando pelo caminho. Desgraçado, pensei. Passado um tempo, nos encontramos ocasionalmente. Ele estava meio triste, havia terminado o namoro. Eu o consolei, ofereci carona para casa, parei na metade do caminho e disse que queria transar com ele. Foi ali mesmo, numa rua escura, dentro do carro. Depois que terminamos, o deixei ali mesmo. Ele disse que não sabia onde estava. Eu abri o vidro e disse: Você sabia para onde estava me levando da primeira vez, e ainda assim fez questão de ficar quieto. Você sabia que não era sexo o que eu procurava, e mesmo assim disse que seria tudo diferente, que seríamos só eu e você. Pois bem, você está perdido, triste e com um término de namoro enfiado na clavícula, acho que é a hora exata pra você começar a passar pelo que eu passei, durante os seis meses em que não consegui tirar teu cheiro da minha roupa. Ele então, pediu para que eu respondesse apenas uma pergunta: Vou para a direita ou esquerda? Não sei, indo por ambos os caminhos você vai se fuder de qualquer jeito. Nunca mais o vi, e nunca mais espero vê-lo de novo.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Junie.

1995. Paris. Disco vinis. Nostalgia. Junie, 20 anos de idade.


        
          Apaixonada pela professor de ciências biológicas, e amada por um de seus amigos de classe, Otto. Um irmão gay indeciso quanto a idéia de assumir sua sexualidade. Talvez por ser o caminho mais fácil, ela decide se envolver com Otto. Cabelos claros, nariz afilado, olhos azuis, bonito por dentro e por fora. Ingênuo. O namoro dos dois parecia ir bem, até que ela se viu envolvida pelo professor. Mais velho, cabelos pretos e um cigarro na boca. Ela, aparentava ser frágil, despreparada, uma presa fácil, mas estavam todos enganados. Junie era inteligente, observadora, e não pisava em nuvens. Sabia dos riscos que correria se começasse um envolvimento secreto com seu professor, mas foi quase inevitável. Não houveram beijos, mas as trocas de olhares acabaram acontecendo, sempre nos intervalos, sempre que se viam. Otto estava sentindo uma diferença no comportamento da moça, que agora o evitava quase sempre. Uma dor de cabeça incessante , uma falta de paciência, sem tempo... ela alegava não ter mais tempo para Otto. Os estudos, são os estudos, ela justificava. Junie brincava com o perigo, a escola era pequena, e os corredores tinham olhos, olhos por todos os lados. Quando ela se deu conta, já era tarde demais.   Alguém-que-não-sei-quem avistou ela e o professor juntos no intervalo. De perto, ele tentava beijá-la, mas ela o mantinha distante, enquanto tentava empurrá-lo com as duas mãos contra o seu peito. de longe, outra concepção. E foi justo a concepção errada que chegou aos ouvidos de Otto. O rapaz por sua vez, tentou fazer com que a moça contasse, mas ela negava. Não houve nada, e nunca haverá, disse ela. Ele não acreditava, ainda mais depois de saber que ela pretendia sair da cidade. Por que? perguntou. Junie disse que precisava de tempo para pensar, que a escola não havia ajudado, e que provavelmente essa tinha sido a pior escolha, que a morte de sua mãe a tinha atingido mais forte do que imaginava. Ele entendeu que não tinha sido bom o suficiente, e que tinha falhado na sua tentativa de fazê-la melhorar do luto. Ela se importava com ele, mas estava cego a ponto de conseguir perceber isso. O irmão de Junie, esse por sua vez não tinha problema algum. Namorava com Martin, e depois da aprovação da irmã, não tinha mais porque se esconder dos outros. Ainda que mesmo assim, preferia manter o relacionamento longe dos olhos dos outros estudantes. Burburinhos seriam inevitáveis. Manhã na escola, horário do intervalo, Junie ignorava Otto. Ela não sabia que o garoto estava tão abalado, até que o sino tocou. Uma, duas, três vezes. Enquanto todos conversavam no pátio, alguém pulou lá do segundo andar. Uma grande roda abriu-se em volta do corpo. O garoto havia se matado. Ela ficou ali por um tempo, olhando para o corpo. Mas nada, nada podia ser feito. Quer dizer, quase nada. Naquele mesmo dia, o professor foi até a casa de Junie, a fim de convencê-la a ficar na cidade. Chegando lá, soube pelo irmão dela que a mesma teria viajado, ido embora, para bem longe e que não podia dizer para onde, que era melhorar assim, e que por recomendações dela, ele deveria deixá-la em paz e nunca procurá-la. Nessa mesma hora, ela estava já avistava a cidade, cada vez mais distante. Junie viu alguém que a amava se matar, e não conseguia de modo algum, conseguir superar a dor da morte de sua mãe, a dor da morte de Otto, e a dor de amar alguém que jamais poderia amar. Uma hora ou outra, ela sabia que seria trocada por alguma estudante mais nova. Uma hora ou outra, ele iria perceber que se desfazer de mulheres, como se fossem objetos, era mais prejudicial a ele do que poderia se imaginar.

sábado, 6 de novembro de 2010

e lá estava ela, trocando olhares com o homem da livraria. ver o anel na mão do rapaz não era suficiente. ela não se importava. perguntava quanto custava esse, outro livro, só para poder começar qualquer assunto com o moço. ela não se dava ao respeito, e nem ele. quarenta minutos depois, lá estavam eles, improvisando entre caixas e mais caixas no almoxarifado. uma mão aqui, outra ali, alguns gritos abafados pela parede maciça. um roçar de línguas experientes na traição. mais vinte minutos e os dois estariam no balcão, como se nada tivesse acontecido.

- Você ficou com o cara da livraria? Sério?
- Sim.
- A que preço?
- Eu precisava saber se o que eu sentia pelo Carlos era sério, ou não.
- E chegou a alguma conclusão?
- Cheguei. Eu vou me casar com ele.
- E precisava traí-lo para ter certeza disso?
- Eu tentei da maneira fácil, e não cheguei a resposta nenhuma. Então, achei que se eu ficasse com outro cara, eu saberia se com Carlos era só atração física, ou não. Entende?
- Mais ou menos.
- Olha... acredite, seria pior se eu tivesse me casado com todas essas dúvidas, e daqui um mês pedisse o divórcio.
- Não, eu acho que o pior mesmo, vai ser você conviver com a confiança do seu marido, sem ele saber que você casou já tendo quebrado uma das regras, antes mesmo do casamento acontecer.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

orando pro livro de auto-ajuda.

          dizem por aí que ele cansou de rezar. desejos atrasados, promessas acumuladas. todas as velas queimadas. os santos dormem, não há ninguém para ajudá-lo. conversei com alguns amigos dele, nenhuma informação foi útil o suficiente. aliás, nem lembro quem são os amigos dele. enquanto eles estão ocupados sendo felizes, ele está lá, trancado dentro do quarto, devorando filmes por cima de filmes. várias travessas de pipoca. tentando achar uma solução em livros de ficção. eu não sei não. que caminho foi esse que ele escolheu? disseram que ele sairia de casa hoje. dançaria. beberia. perderia a vergonha na cara. só um segundo. é, vocês acertaram, ele acabou de cancelar. vai ficar em casa, desejar uma chuva grossa, uma janela embaçada, se agarrar nos cinco travesseiros e viver. hoje vai ser o que? um drama romântico da mocinha com câncer terminal, ou um pedro almodóvar?
eu avisei, não bebe desse cálice que o líquido não é puro. não come desse pão, ele já está aí há dias, manhãs, sol e chuva. eu avisei para ela não deitar, não ouvir, mas já era tarde. ela já estava encantada. os olhos brilhando  no espelho, o cabelo arrumado de um jeito, tão envolvente, tão... ah, ela estava fraca. dava de ver nos olhos. sentir na pele. eu avisei para ela que não seria fácil. era caminho de espinhos, pouca água, desgastante. cuidar de si já dá um trabalho, ser responsável pela felicidade alheia é não dormir mais, é ficar ali... vivendo de dependências, definindo tudo como uma droga, que vicia, e que mata se você não souber dosar. eu te disse, tenho experiência suficiente para te dizer que o pior que você podia ter feito era se apaixonar desse jeito.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

perdão

me perdoa pelos rabiscos. pelo prometido não cumprido. pelas noites que te fiz esperar. pelo mundo que eu jurei que ia dar. me perdoa pela mão que eu deixei de estender. o carinho que deixei de oferecer. as cartas que eu esqueci de entregar. me perdoa por ter trocado o vaso de flores de lugar. de ter remexido nas suas coisas. vasculhado seu email. celular. eu não sabia mais o que fazer. faz um mês que você não olha na minha cara. não dá bom dia. boa noite. vamos aqui almoçar? há quanto tempo não dormimos juntos. seu trabalho. seu trabalho. há quanto tempo você vai usar a mesma desculpa? durante quanto tempo você vai conseguir suportar essa mentira inventada para me afastar?

da carta que não me levava a lugar algum.

ela era de pele branca. eu de pele negra. ele descia o morro. enquanto eu andava em carros luxuosos. ela mexia no cabelo com calma. eu escondia o meu com o boné. quase sempre rasgado. quase sempre largado. ela usava vestidos. eu preferia bermudas. embora um pouco curtas, bermudas. sentávamos na calçada. uma hora da madrugada. ela me contava sobre o seu dia. eu fingia que ouvia. fingia que entendia. bebia alguns goles de vinho barato. acendia um cigarro e sorria. eu estava meio desinteressado, mas ela nem percebera. ela estava se despedindo, e eu pedia para ela ficar mais um pouco. ela saiu correndo, dizendo que me ligaria mais tarde. ela fingia que me amava. e eu me deixava ser amado, mesmo sabendo que ela tinha namorado.
- Amor, acorda. {cutucou o outro com o cotovelo}
- O que foi? Você sabe que horas são?
- É que tem alguém andando em cima da casa.
- Não é ninguém, devem ser os gatos. Vai dormir!




          Eu estava lá parado diante uma rua vazia, quando um aglomerado de pessoas começou a se formar. Eu não sabia bem o que iria acontecer, e nem o motivo de estar ali. Olhei lá para o alto da ladeira, e comecei a avistar travestis e carros alegóricos. Que coisa louca, pensei. A avenida estava bem colorida, mas eu não sabia qual era a comemoração, ainda assim, entrei na festa e gritei como os outros. Os carros e travestis iam passando, até que avistei alguém entre os enfeitados. Ele estava de máscara, uma roupa discreta e uma garrafa de água na mão. Tudo parou por um milésimo de segundos. Ele era o único que se movimentava entre os demais, em câmera lenta, tipo filme mesmo. Ele fez sinal para que eu o acompanhasse pelo lado de fora. O encontrei no final da rua, e ele me perguntou se eu estava com sede. Respondi que sim, mas que alguém poderia me ver aceitando água de um estranho, eu era casado, e podiam interpretar aquilo de outra maneira, vocês sabem como os outros são. Recusei. Mas, a curiosidade foi maior que a sede e eu retirava a máscara dele enquanto ele aproximava o seu rosto do meu. Calma, eu disse. Retirei a máscara e antes mesmo que eu pudesse configurar o seu rosto na minha cabeça, ele já havia me beijado. Eu tinha vontade de afastá-lo, mas meus braços não se moviam. Quando a minha língua finalmente desencontrou da dele, começava a reconhecer aquele rosto

- Acho que eu fiz besteira. Caio? Você está me ouvindo?

          Passei minha mão esquerda pela cama e só me deparei com um punhado de travesseiros. Não havia barulho no forro da casa, não havia travestis, carros alegóricos, beijos e nem qualquer Caio. Outro sonho diluído na realidade {pensei}. E voltei a dormir.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Amor e suas bagagens.

          E quando falo bagagens, eu falo dos relacionamentos rompidos, alguns cortados definitivamente pela raiz, outros que a gente nem sabe como começou, e muito menos de que forma terminou. Em algum lugar do meu consciente eu carrego imagens. Um choro. Um não. Uma rosa e um chocolate. Pizzas. E muitas palavras. É possível que eu tenha deixado o amor escapar, sem perceber? Acho que em algum dos casos, faltou minha total dedicação, confesso. Cada tentativa frustrada de gostar de alguém, e de não conseguir sentir nada além de paixão. E eu achando que paixão era meio caminho andado, me deixei acreditar que não precisava fazer mais nada, ledo engano. Toda essa coisa acumulada, pregada na minha pele feito cicatriz, me levou até aqui. Tímido, com várias mágoas espalhadas pelo corpo, e desejando não esbarrar com algumas dessas mágoas pela rua. Fingindo que nunca estive na cama com outras. Sendo educado pelo simples fato de não querer deixar uma imagem ruim. Mas a verdade mesmo, é que eu queria que todos eles sumissem, porque toda vez que eu os vejo, não me recordo de nada bom, nada que tenha valido a pena. Confundi muito atração física com amor, e minha aventuras não duravam mais que dois dias, até que eu percebia que havia comprado o ticket errado, havia embarcado em barco furado, caro senhor, de novo, e de novo. Talvez eu mesmo, seja um barco furado, que só vai te pegar em qualquer parada e te levar para o fundo do mar fazendo com que você fique sem ar e morra. Ou, talvez eu seja só alguém que tenha que esperar a hora certa, pois devo ter tentado engatar romances quando deveria estar me preocupando com algo melhor, como por exemplo, me amar primeiro. O problema é: encontrar outro remédio que me tire desse pântano, qualquer coisa que não tenha a ver com sentimentos, abstrato, irreal, algo desse tipo. Mas eu não quero, não quero viver perto de amor. Até eu conseguir sentir isso de verdade, eu me recuso a conviver com algo que nunca conheci.

sábado, 30 de outubro de 2010

Sobre a religiosidade em excesso.

          Há quem se apegue demais a fé, com uma força tão grande, que começa a querer trazer toda uma galera pra essa mesma vibe. Alguns esquecem que diferente de ser gay, religião é uma opção. Se você quiser seguir o budismo será bem-vindo, se quiser ser judeu, ateu, cristão, e etc. Nunca vou sair por aí pregando minhas crenças, tentando converter as pessoas e fazerem elas acreditarem naquilo que eu acredito. Acreditar é uma coisa, saber se está totalmente correto é outra. Você acredita em Jesus, mas pode me mostrar uma foto dele? Tens alguma prova concreta de que ele existiu? E o pai dele, te ouve quando você reza antes de dormir? Se o mesmo é totalmente bom, onde ele está quando crianças são sequestradas e pessoas inocentes morrem? Só acredito na hipótese de Deus existir, se ele for uma criança, pois só isso explicaria os erros e acertos que acontecem a minha volta. Mas, voltando ao assunto, tudo que é exagerado sufoca e mata. Se você quiser sair por aí lendo a bíblia e tentando convencer todo mundo de que só vai para o céu aquele que beber a água divina, a escolha é sua, só não vá depois pedir ajuda ao Diabo quando um raio partir a sua cabeça ao meio. Raio que geralmente, vem do céu.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

I'm here.


          Estava perambulando pela internet, quando encontrei a trilha sonora bem bonita de um filme. O nome: I'm here. Primeiro ouvi a trilha sonora, e sem exagero nenhum, é muito boa, se não for perfeita. Daí, hoje por sinal, acessei o site para ver o filme: http://imheremovie.tumblr.com/ Você não precisa de cadastro, download, nada. Você só precisa clicar e se apaixonar por Sheldon (Andrew Garfield) e Francesca (Sienna Guillory). Quando vi as feições do Sheldon, logo me identifiquei. Um olhar vago, triste, melancólico, monótono. Ele ia do trabalho para casa, da casa para o trabalho. Ele era simpático, cumprimentava todos, mas, não era visto pelos outros robôs. E eu ia assistindo, e continuava me identificando com esse robô. Até que um dia, ele está na parada de ônibus, cumprindo a mesma rotina de sempre, quando vê uma moça rindo (descontroladamente) em seu carro vermelho. Bastou isso. Sheldon estava apaixonado por ela. Em um outro dia, da mesma forma, ela passou, mas dessa vez, estava com amigos no carro. Foi lá na frente, deu meia volta e o chamou para ir à uma festa. Prefiro parar por aqui, o resto do curta é sensacional. Ah, o curta é em inglês. Ainda não pesquisei para ver se alguém resolveu legendar. Mas, mesmo assim é de fácil entendimento. Em uma das cenas Sheldon dá sua perna para Francesca, pronto, parei. Só pra vocês verem como ficou meio complicado pra mim não chorar na hora que estava assistindo. Espero que vocês gostem!


Francesca e Sheldon passeando.



A trilha sonora pode ser baixada aqui: http://nodata.tv/?p=8381
Sem dúvidas, a música mais linda do filme é "There Are Many Of Us" (clica no nome da música para ouvir a canção)

Não podia perder a chance de dar essa dica. Quem já viu, comenta o que achou. Até mais!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Felicidade que incomoda.

         





Bonito para quem tá "IN"

           Seria feio dizer que a felicidade do outro me incomoda? Seria arrogância pedir para que as pessoas felizes me deixassem um pouco de lado? A alegria do outro lembra a tristeza que eu tranco, dentro do meu quarto, quando eu saio para "badalar". Eu seria cretino se recusasse convites para sair por isso? Me diz, eu tenho culpa de sentir essa coisa toda quando vejo um casal de pombinhos? Isso é inveja? Despeito? Fica bonito na foto um casal e o pardal solteirão do lado? Será que não seriam eles que deveriam se preocupar e ter cuidado com a minha fragilidade emocional? Talvez eu só queira achar que estou entre iguais, e não me sentir excluído, mal amado. Não mereço amar também? É castigo? É temporário? Por que vocês todos sempre dizem a mesma coisa? Relaxa meu amigo, isso passa. Passa quando? E por que vocês também não tiveram essa fase? Se somos todos iguais, por que ele merece mais do que eu, ou eu tenho que sofrer mais do que ele? Me diz qualquer coisa, só pra eu poder pousar minha cabecinha no travesseiro e dormir tranquilo, nem que seja por uma noite.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Humanóide.

Eu no dia-a-dia
        

          Sou como vocês. Pele, ossos, orgãos e um coração um pouco desgastado. Vivo de sonhos e morro nos pesadelos. Já quis ser nadador, mecânico, tentei aprender a tocar piano, dedilhar um violão, dirigir carros de corrida, fazer da minha vida um desenho, um filme de romance, de terror, embora hoje seja só drama. Sou como aquele ali que chora, que pede ajuda, que é acolhido por estranhos e levado para tomar sopa. Ou então, como aquele outro, chutado pelos bem afortunados, sendo obrigado a assistir a própria morte, cada dedo arrancado, língua sangrando, e o grito por socorro. Você vai atendê-lo? Você realmente quer ir lá por você, ou por que não tem outra coisa melhor para fazer? Tentei pintar meu quarto de azul, de amarelo, de vermelho, acabou ficando isso, esse cinza desbotado, essa coisa mórbida, sem vida alguma. Seria eu estampado nas paredes do meu quarto? E esses móveis velhos, seriam meus sonhos enfileirados em uma caixa de sapato? A poeira, bem, a poeira certamente seriam minhas lágrimas derramadas todas as noites antes de dormir, às vezes apoiado com o cotovelo na escrivaninha, outras rolando pelo chão buscando uma solução. Uma, duas pílulas antes de dormir, aonde isso vai dar? Onde meus dias irão terminar? Vendo o sol nascer quadrado, no altar ou em um sanatório? Onde esses passos vão me levar? Viu, eu sou como vocês. Não sou uma máquina de fazer rir e nem um robô projetando o lado feliz. Olha aí ele chorando outra vez. Chega mais perto, não é farelo de ferro não, o meu choro é igual ao teu, como já disse, meu coração está meio desgastado, mas ainda funciona, é só abastecer com um pouco desse fluído que tu tens aí no corpo.

domingo, 17 de outubro de 2010

domingos e domingos.

         


          Domingo, o sol está lá fora, o céu bem azulzinho, parece um dia como os outros, mas não é. Domingos parecem que já surgem com uma sombra ruim. Deve ser porque a gente acorda, e pensa: É domingo, não há nada para fazer. Embora sempre tenham coisas para fazer. Os estabelecimentos estão abertos, há lugares para visitar, são as mesmas nuvens dos dias passados, então, por que essa tristeza? Essa melancolia? Durante a semana estamos muito atarefados para refletir, para pensar no quão ruim a nossa (a minha, no caso) vida anda. Estamos estudando, lendo livros sobre diversos assuntos, trabalhando, ocupando nosso tempo com coisas produtivas. Pronto, está aí a solução: ocupar domingos com coisas úteis. Parece ser fácil quando colocada assim, mas junto com os domingos vêm a preguiça, a vontade de não sair da cama. Se não há a obrigação de ir trabalhar, de ir pra faculdade, por que sair da cama? Hoje eu posso simplesmente ficar aqui, mofando, e deixar as outras pessoas lá fora, quem quiser que aproveite o seu domingo. Não, não gosto de ficar trancado dentro do meu quarto ouvindo músicas, que vão me deixar com vontade de não acordar amanhã, longe disso. Mas é o que eu acho que combine com domingos, com esses dias que não fazem a menor importância pra mim. São os cookies, as gorduras saturadas em excesso, o chocolate, os filmes franceses (que você assiste, mas às vezes nem entende, embora não assuma), e o celular desligado que combinam com dias assim, onde nada, nada faz sentido algum. Domingos são como areia nos olhos. E nem há graça em sair na rua, por que não aproveitar um dia, onde você pode imaginar o que quer e fingir ter a vida que gostaria? Nem me lembro que há casais vagando por aí, eu estou no meu quarto, só me depararei com isso se eu quiser. Já que meus olhos nada podem ver, meu coração logo, nada irá sentir. Bem, o brigadeiro com biscoitos está pronto. Telecine Cult na tv. Esse é o meu domingo, espero que não seja igual ao de vocês.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Por simples medo de arriscar.

          Nada está fazendo sentido. Se eu voltasse cinco anos no tempo, eu diria que não estou onde deveria, ou, gostaria de estar. Faculdade de administração? Sério? Não foi você mesmo que disse: "Administração é coisa de gente confusa. Administração? Números? Argh!"? Mas eu estou confuso. Não, você pensa que está confuso, é diferente, você sabe do que você gosta. Eu gosto de artes, verdade, mas se eu não for bom o bastante? Você sabe quantas mentes criativas por aí não são valorizadas? Então é isso, você está com medo? Claro, pro meu trabalho ser reconhecido ele precisa ser diferente, se for comum ou parecido com algo que as pessoas já estão acostumadas a ver, simplesmente vão me ignorar. Vai por mim, você é diferente. Vindo de você, é fácil falar, eu não sei se é você quem está dizendo, ou se é a voz da nossa intimidade. Desperdício, só o que eu posso te dizer. Sua mente criativa está sendo colocada de lado por medo, e isso é infantil. Bem, talvez eu não tenha crescido o suficiente, eu ainda moro com meus pais, lembra? Eu sei, e o seu complexo de inferioridade também não te ajuda muito. Complexo de quê? In-fe-ri-o-ri-da-de. Não precisava soletrar. Só estou tentando fazer você acordar, antes que seja tarde, antes que você esteja completando trinta anos, sentado na frente de um computador, frustrado, decepcionado, infeliz e comemorando aniversários jogando wii. Eu já tentei me destacar, mas eu não acho espaço. Não encontro lugar pras minhas piadas, para a minha personalidade, aí acabo me fechando mesmo. Antes parecer arrogante, do que uma película cinza, algo que nem fede, nem cheira. A própria imagem que você criou sobre a vida, família e amigos já são temas suficientes para te destacar, você só não está sabendo usar isso ao seu favor. Quer saber a verdade? Eu tenho medo sim. Mas não é medo de me arriscar, não, eu tenho medo das consequências. De não dar certo? Também, mas, principalmente, medo de quando as portas começarem a se fechar, eu não ter alguém que vá me apoiar. Um simples "Acontece, na próxima você vai conseguir" já bastaria, mas eu não vou ter essas pessoas, e nem essas frases para me levantar. Essa de você se achar ruim demais para ser importante na vida de alguém, é totalmente incompreensível. E baseado em que você fala isso? Você só está aqui há cinco minutos. Eu? Por favor, você sabe que estamos conversando sobre isso há muito tempo, e quer saber? Estou cansado de você sempre voltar a esse assunto, no final das contas, você acaba voltando pra vida infeliz que você criou pra si mesmo. Só queria tentar denovo, é pra isso que a consciência serve.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Faith



          Em que você acredita? Quando você está sobrecarregado de energia negativa e nada parece fazer sentido, você apóia seus cotovelos na cama e ora? Ora para quem? Você que acredita em Deus, deixa eu te perguntar uma coisa, ele nos ouve mesmo? Deus é bom? Alguém pode acreditar nele, mesmo depois de uma vida achando que ele era apenas uma nuvem qualquer? Já me denominei religiosamente neutro, agnosticista. Já fui cristão, e frequentava a igreja todos os domingos. Hoje em dia, eu não sei. Não costumo rezar, mas costumo conversar com alguém. E esse alguém, às vezes me dá ouvidos, às vezes parece estar dormindo. Se é Deus, eu não posso te afirmar. Ainda que você acredite nele e na sua história cegamente, não há provas. Eu acredito que o mundo não veio de uma explosão idiota, que há um dedo sobrenatural nas coisas, mas não posso afirmar que o culpado pela criação de tudo é esse que vocês tanto falam. Muita gente se agarra a fé, quando se vê caindo em um buraco sem fim, e eu não quero que pensem que eu só passei a acreditar em algo, porque me senti fraco. Algumas pessoas quando se sentem bem e felizes, não se preocupam em acreditar em alguma coisa, mas quando o chão abre-se diante dos seus pés, tudo muda. É hora de apelar pro invisível. E começam as ameaças. "Deus, se você não me ajudar, eu volto a ser uma má pessoa". E começam a testá-lo. "Deus, se você existe mesmo, faz um favorzinho pra mim?". O que eu sei, é que temos que acreditar em algo. Algo que esteja a cima de nós. Algo que talvez o vizinho não acredite, que seus pais não entendam, que pareça baboseira, imaginação fértil. Todo mundo precisa disso, porque chega uma hora que você se vê completamente sozinho. Seus amigos estão ocupados demais sendo felizes, seus pais não sabem um terço do que se passa com você... é só você, e ele. Ele quem? Não sei, isso aí é você quem vai dizer. Não me julgue por desacreditar em seres divinos, que eu te perdôo por ficar uma hora orando em vão. De qualquer forma... aponte para sua fé e reme, seja ela qual for.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Eles não desconfiam de nada.

                                          "Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo, e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos,  dos choros". Caio Fernando de Abreu








          Todo mundo acha que é sintoma de personalidade mal resolvida, timidez, ou até frescura mesmo. Dizem que ele tem medo de falar, por correr o risco de se comprometer. Que ele prefere evitar tragédias a ter que remediá-las, e que prefere esperar deitado do que sair no sol quente e ir à luta. Já o classificaram como frio, devido a calma com que ele dizia as palavras "não dá, não insista" quando terminava o seu primeiro namoro, nenhuma lágrima, nenhum arrependimento ou preocupação. Enquanto o outro enxergava o céu escurecer, ele via aquilo como uma forma de estar livre e assim, finalmente encontrar alguém que o encantasse o suficiente. Ninguém parou um momento e pensou se aquilo doía, se era fácil, se não era só encenação. É tão fácil sorrir quando as câmeras estão filmando. Nos bastidores, entre quatro paredes, o cenário é outro. Coloca-se para fora todo o peso carregado, folhas e mais folhas rabiscadas, qualquer música melancólica para embalar."La la la, do you ever feel emptiness? Are you scared it's gonna last forever?" E come mais um pedaço de carboidrato, e chora, e risca, e bate na tela do computador, grita, esperneia, se enraivece, come a ponta dos dedos, arranca alguns fios de cabelo, se deita na cama, apaga a luz, e a música tocando, e ele querendo que acabe, que cesse, que dê uma trégua, que dor nenhuma vai ser igual, filha da puta. Até que estanca, parece estancar. Do nada, pousa uma fita adesiva, ele passa por cima da ferida e deixa estar. Procura um sorriso em meio aos acessórios, e vai trabalhar. Mais um dia atuando. E na faculdade? Outro dia atuando. Como está? Estou ótimo, diz ele. Nunca esteve, nunca esteve muito bem. Ninguém o lê, ou parece se importar. Bem, com o semblante de quem chorou a noite inteira e não dormiu, é provável que ninguém se importe, o óbvio está ali. E se ele se expor? Ora, ora, nenhuma das pessoas a sua volta lhe dará a solução. Sempre usam do velho hábito de mandar um: relaxa, é só uma fase. Que merda de fase, não? Alguém sabe responder o tempo exato que dura uma fase assim? Alguma maneira de fazê-la  passar mais rápido? Essa de ir vivendo definitivamente não está controlando a vontade de entrar em coma.

Dois iguais.

          Ambos eram impulsivos, rancorosos, discutiam e não sabiam como pedir desculpa. Quase sempre, voltavam a se falar naturalmente, no café da manhã ou no caminho para o trabalho.

- Você lembra daquela loja ali?
- Qual? A cafeteria?
- Sim.
- Claro, a gente se conheceu lá. Como eu poderia esquecer?

          E passavam por cima das desavenças. Mas, não foi sempre assim. Eles eram tão parecidos, que geralmente eram confundidos com pessoas da mesma família, como irmãos. Eles tinham gostos distintos, e naturezas iguais. Definir um, era como definir o outro. Eram almas gêmeas, mas depois que eles terminaram o namoro de dois anos, eu fiquei com receio de encontrar a pessoa certa.

- Eu sempre vou sozinho aos shows das minhas bandas preferidas.
- Eu não gosto de mpb.
- Custa ir comigo? É tão ruim assim estar na minha presença?
- O problema é a música e não você.
- Sei, sei. (desdenhou)

          Ele queria alguém que o acompanhasse nas suas aventuras. Mas o outro era tão medroso, tão acomodado, tão satisfeito com o que vinha, que tinha preguiça de descobrir coisas novas.

- Vem comigo. (puxou ele pela mão)
- Onde?
- É surpresa.
- Não sei...
- Quer saber? Fica aí se entupindo de música internacional, eu cansei. (e se dirigiu até a porta do apartamento)
- Calma, onde você vai?
- Relaxar.

          Ele andou um pouco pela cidade, as mãos acolhidas no bolso do casaco, respirava um pouco ofegante, fazia bastante frio nesse dia. 

- Não sei o que eu vi nele. Acho que confundi as coisas. Eu estava admirado pela forma como ele me abordou na cafeteria, e não apaixonado. Acho que fiquei envolvido, e depois confuso. Com medo de ficar sozinho preferi aceitar a condição dele ser tão diferente de mim. Por dentro, somos assim: cabeça dura, ansiosos, metidos, rancorosos, melancólicos e inseguros. Por fora, nada a ver. Ele gosta disso, e eu daquilo. Nossos desejos não se completam. Como poderiam?

          Ele chegou a conclusão de que não era pra valer. Foram dois anos de tentativas, mas o outro era uma âncora e ele um navio. Precisava de alguém que o guiasse, que estivesse com ele, e não que tentasse desviá-lo ou pará-lo. Ainda que doesse, ele voltou para casa decidido a terminar tudo.

- Ainda bem que você voltou.
- Por que está aí parado? Vem aqui, me dá um abraço.
- Não.
- Não?
- Você veio terminar comigo.
- E como você sabe?
- Eu sabia que isso aconteceria desde o dia na cafeteria.
- Isso não tem fundamento, é impossível.
- Não, não é.
- Tudo bem, e se você sabia que terminaria assim, por que me chamou para sair?
- Eu achei que nossas diferenças não fossem influenciar tanto assim.
- Como você acha que poderia, um namoro de duas pessoas com gostos totalmente distintos, dar certo?
- Você me ama, certo?
- Amo.
- E isso não basta?
- Não. Porque eu amo você quando vai ao bar comigo, só que você diz que bebida alcoólica não é sua praia, e me troca por uma reunião com amigos em algum fast food. Eu entro em lugares alternativos, onde as pessoas fumam e você fica do lado de fora, porque alega não querer respirar fumaça.
- Eu tentei gostar das coisas que você gosta.
- Eu sei. Mas não deu certo. E não vai dar nunca, porque precisamos estar livres para encontrar outra pessoa, e não mudarmos para continuarmos juntos.
- Eu nunca vou conseguir gostar de outra pessoa assim.
- Nem eu. Mas amar não é só agarrar pela nuca e tascar um beijo na cozinha.
- Me desculpa.
- Pelo quê?
- Por ter feito você desperdiçar seu tempo.
- Engano seu. Nunca aprendi tanto com alguém, como aprendi com você nesses dois anos.
- Eu vou dormir.

          O outro permaneceu na sala. Olhando pela janela. Pegou um pedaço de papel e deixou um recado. Abriu a porta e foi embora. Eles terminarem me deixou com medo de me enganar. Felizmente, costumo ser sensato. Não aguentaria ficar tanto tempo com alguém tão diferente de mim. Mas quem sou eu pra dar pitaco  quando o assunto é romance? Ninguém. Um namoro de três meses, outro de um mês, e alguns casos fracassados, é experiência de estagiário. No dia seguinte, o outro acordou bastante cansado, como se havia bebido a noite toda, uma puta dor de cabeça. Achou um bilhete em cima da mesa que dizia assim:

"Volto amanhã para buscar minhas coisas. Por hora, a roupa do corpo é suficiente. E ah, por favor, nunca deixe de abordar as pessoas em cafeterias."

          E foi o que ele fez, até que um dia deu certo. É casado faz cinco anos. Tem finais de semana maravilhosos assistindo filme em casa, ou comendo em fast foods. Ambos não gostam de MPB. Não fumam, e nem se interessam por bebidas alcoólicas. E quando um deles pisa na bola? Ah, rapidinho um chega de mansinho e pede desculpas.