segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Humanóide.

Eu no dia-a-dia
        

          Sou como vocês. Pele, ossos, orgãos e um coração um pouco desgastado. Vivo de sonhos e morro nos pesadelos. Já quis ser nadador, mecânico, tentei aprender a tocar piano, dedilhar um violão, dirigir carros de corrida, fazer da minha vida um desenho, um filme de romance, de terror, embora hoje seja só drama. Sou como aquele ali que chora, que pede ajuda, que é acolhido por estranhos e levado para tomar sopa. Ou então, como aquele outro, chutado pelos bem afortunados, sendo obrigado a assistir a própria morte, cada dedo arrancado, língua sangrando, e o grito por socorro. Você vai atendê-lo? Você realmente quer ir lá por você, ou por que não tem outra coisa melhor para fazer? Tentei pintar meu quarto de azul, de amarelo, de vermelho, acabou ficando isso, esse cinza desbotado, essa coisa mórbida, sem vida alguma. Seria eu estampado nas paredes do meu quarto? E esses móveis velhos, seriam meus sonhos enfileirados em uma caixa de sapato? A poeira, bem, a poeira certamente seriam minhas lágrimas derramadas todas as noites antes de dormir, às vezes apoiado com o cotovelo na escrivaninha, outras rolando pelo chão buscando uma solução. Uma, duas pílulas antes de dormir, aonde isso vai dar? Onde meus dias irão terminar? Vendo o sol nascer quadrado, no altar ou em um sanatório? Onde esses passos vão me levar? Viu, eu sou como vocês. Não sou uma máquina de fazer rir e nem um robô projetando o lado feliz. Olha aí ele chorando outra vez. Chega mais perto, não é farelo de ferro não, o meu choro é igual ao teu, como já disse, meu coração está meio desgastado, mas ainda funciona, é só abastecer com um pouco desse fluído que tu tens aí no corpo.

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