segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

terça-feira, 26 de abril de 2011

Devaneios II

Algumas pessoas gostam de serem necessárias. Algumas pessoas
ficam desconfortáveis em festas, outras nascem com a habilidade
de fazer amigos às avessas. Algumas pessoas não possuem ninguém,
ainda que tenham alguns amigos aqui e aculá. Às vezes, você acha
que possui o direito de ser feliz, e que você está sofrendo agora
para que mais tarde coisas boas venham a acontecer, mas elas não
acontecem. E então, você acorda no dia seguinte com a esperança
viva de que naquele dia, naquele maldito e ensolarado
dia, tudo pode mudar. E ele termina do mesmo jeito. Com o passar
do tempo, você começa a achar que não merece ser amado por ninguém,
e que os outros que se aproximam de você, só estão ali por pena
ou por falta do que fazer. Você se vê no espelho, e não consegue
enxergar além dele. Sem qualidades, só carne viva. Algumas pessoas
precisam ouvir de outras, que elas são especiais, para então
passarem a acreditar nelas mesmas. Ser otimista é cansativo,
acordar todo dia com um sorriso estampado, dar bom dia ao mundo,
agradecer o rapaz do supermercado cedo da manhã, mesmo estando
de mal-humor, é difícil. A verdade é que você não é assim pela
manhã, mas você se faz, porque você acha que coisas boas acontecem
quando você passa a ser bom com tudo a sua volta. As pessoas
cansaram de me dizer que as coisas vão melhorar, porque até elas
já não acreditam mais que isso vai acontecer. Agora, quando elas
me encontram chorando, elas batem no meu ombro e vão embora, como
se dissessem: É a sua vida, aceite como ela é.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

De tempos em tempos.

Já faz algum tempo que eu não saio desse quarto, tanto tempo que já o tenho decorado dos pés a cabeça, talvez mais a cabeça que os pés, não sei direito. Eu olho para o celular, jogado lá no meio das calças sujas de barro, e não há chamadas perdidas, e nem chamadas a serem esperadas. E eu sinto tanta falta daqueles dias em que o riso batia mais a porta, que o tremer do celular no bolso apertado da calça não parava o dia inteiro, mas hoje... hoje é outra coisa. Já faz algum tempo que não recebo visitas, que não recebo tortas, cartas, nem qualquer conta atrasada. Tanto tempo que a porta range quando aberta devagar, como se fizesse efeito sonoro de filme de suspense de propósito. Eu sei que metade disso é culpa minha, mas e a outra? Tudo bem, eu afastei qualquer coisa com vida que batia na minha porta, e o celular permanece desligado desde então, mas não sei se são motivos suficientes para repelirem tudo que eu havia construído nesses dez anos. Mas como alguém me disse um dia: “Tudo que é sólido, uma hora ou outra acaba desmoronando”. E foi isso que aconteceu. Desmoronou a família quando os meus pais morreram, desmoronaram as amizades quando eu deixei de atender o telefone, e faltou pouco, muito pouco para o teto desse quarto cair sobre a minha cabeça, e devia ter caído, e se caísse eu não me esquivaria, ou colocaria as mãos sobre o rosto tentando me proteger de algum pedaço de concreto maciço, porque se alguma dia eu quis que a minha cabeça explodisse e meu coração sangrasse até não parar mais, esse dia está ficando cada vez mais próximo de mim. "Me ajuda", grito eu. Mas quem ouve?

terça-feira, 12 de abril de 2011

Onde é minha casa?

Não sei a que lugar pertenço. E nem para quais pessoas devo me abrir. Não sei mais quem são as pessoas dignas de confiança. Não sei de quem devo me aproximar, quem devo repelir. Eu não sei mais onde é a minha casa. Não gosto daquelas cores, não sei de onde vieram aqueles móveis feios, opacos, sem brilho. Tiraram as cortinas, as jarras de água, os tapetes, mudaram a cama de lugar e jogaram fora as medalhas. Quem são essas pessoas que comem comigo à mesa? Quem são essas pessoas que me ligam dizendo que eu sumi, e que eu tenho que aparecer? Eu sumi? Sempre tive a impressão de nunca ter saído do lugar, e algumas pessoas falam justamente o contrário. Cadê os melhores amigos? De quem sou melhor amigo? Ninguém. Se dizem ter saudade de mim, deve ser da riqueza que ainda vou ter um dia... do que mais poderia ser? Ou você vai me dizer que é sincero, que não existe interesse por trás de tanta bondade? Eu cresci assim, desconfiado de tudo, desacreditado do mundo. Vivia enquanto assistia pessoas serem decapitadas pela traição de outro, pequenos grupos de nômades rompendo no meio da estrada. Colhi os cacos de inocentes. Mesmo lembrando da trajetória, não sei onde era minha casa... Tudo soa estranho, principalmente aqueles a quem chamo de amigos.

sábado, 2 de abril de 2011

Mancha tecnológica.

Eu ainda lembro da época em que choviam cartas. Um telefonema era o mais longe que podíamos estar de outra pessoa. As conversas no portão de casa às sete horas. Os seus, os meus filhos, irão lembrar disso? Eles chegarão em uma era totalmente devastada pela tecnologia. Não que eu ache isso totalmente ruim, mas eu gosto mais da época passada. Onde foram parar as brincadeiras no meio da rua? A roupa suja de areia? Há quem diga que foi um avanço que veio para o bem, eu não sei. De fato, trouxe coisas que hoje se tornaram indispensáveis para muita gente, como o próprio celular. Não, não tenho celular. Com isso percebi o tanto que a tecnologia me pediu em troca, quando eu deixei que a mesma adentrasse minha casa.

- Sua vida pode se tornar mais fácil, mais moderna... Você quer?

Eu devia ter hesitado, respirado fundo, e batido a porta na cara dela. Mas aí eu já estava totalmente apegado aos computadores e jogos eletrônicos. Li rapidamente o contrato, e esqueci das linhas em amarelo, que acabaram passando despercebidas. Era simples, nessas mesmas linhas estava escrito o que seria tomado de mim em troca de tanta modernidade. E se foram as cartas, as conversas tarde da noite no portão de casa, e aquela chuva de cartas que chegavam por correio, e pela própria mão de quem as escrevia. Toda essa sensibilidade, deu lugar ao "feliz aniversário" via redes sociais, aos SMS contando as novidades, as idas para a pizzaria sábado a noite sumiram, tudo que era de valor sentimental sumiu. E ainda que não tenha se acabado por completo, até você mesmo que ainda convive diariamente com seus entes queridos, vai concordar que tudo mudou um pouco, deu uma esfriada. Bem, eu que já era deslocado socialmente só precisava desse avanço para me encontrar sozinho em meio a tantas pessoas maravilhadas com essa incrível tecnologia.

A tecnologia revolucionou, e só agora eu me dei conta de que para isso, levou consigo boa parte do que me respondia enquanto ser humano. Fazer o que, não é? Enquanto não houver uma máquina do tempo, o jeito é se adaptar e... calma aí, preciso responder um e-mail agora, já volto.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Saber para onde ir.

Desde o começo da faculdade, me vi desmotivado para chegar até o final. Por vários momentos quando o professor perguntava: alguém aqui está cursando, apenas por cursar? Eu, mentalmente, me via com a mão levantada. Não via a hora disso terminar, e me empenhar em algum outro curso, até que comecei a me apegar a algumas matérias. Uma delas foi Marketing e Relações Humanas. A partir do apego, fui atrás do que fazer para me aperfeiçoar nessas áreas quando terminar o curso, e encontrei pós-graduação e tudo que você imaginar. Conhecimento não falta no mercado pra quem quer adquirir. O que falta? Interesse. E foi traçando objetivos futuros, que me vi interessado na faculdade que estou cursando. Quando comecei, era apenas por falta do que fazer, e mágoa por não ter estudado o suficiente para entrar na federal. Mas agora, vejo com outros olhos. Tenho um emprego, e com ele pago para adquirir conhecimento. Não sei, talvez eu mude meus planos futuramente, talvez eu me apaixone por contabilidade, ou mercado exterior. São opções que podem surgir no caminho que tracei, e enquanto estiver indo em direção aos meus anseios, poderei optar por acolhê-los em meu âmbito, ou descartá-los. O que importa agora é ter uma direção para seguir, um futuro para ser admirado e desejado de onde estou agora. Às vezes o que falta pra dar aquela acordada pra vida é tão simples, mas tão difícil de enxergar, que a gente acaba achando que tá longe e que não consegue alcançar.

sábado, 19 de março de 2011

Devaneios I

Mas quando eu o vejo nos braços do outro, só sinto uma vontade de arremessar esse vaso de samambaia bem longe. E quando perco oportunidades por causa da minha timidez exagerada, é minha cabeça que se encontra encharcada de sangue, ao entrar em choque com o espelho que fica logo ali no banheiro. E eu não sei o que fazer com essa grama morta, a do vizinho anda sempre mais verde do que a minha. Amigos... sinto falta do meu ensino médio e fundamental, onde havia companhia toda manhã, todo lanche, noite e dia. Hoje, se foram. Aquela de "quando acabar permanecemos juntos" é pura ficção. E eu ainda acreditei... até que se passaram alguns meses, e cada um tomou rumo de vida diferente, e eu acordei. A realidade não era tão clara quanto havia sido, a água tinha escurecido, e eu parecia ter mais tempo de vida. Aprendi a gastar esse tempo livre com meus amigos, com as tatuagens de caneta, com as cartas e bolas de papel, fotos tiradas de cima, ângulo clichê. O que fazer com esse tempo de sobra? Estava acostumado a gastá-lo com conversas que me fizeram ser quem sou hoje. Boas, ótimas conversas. Mas é essa a verdade de hoje... aqueles amigos não voltam mais, nunca, infelizmente. Não me queixo dos de hoje, se parecem mais comigo, fazem o meu tipo. Embora sejam tão ocupados sendo felizes. Isso, vou ocupar esse tempo livre sendo feliz. Como que eu faço? Já tomei a iniciativa, mas não entendo muito de felicidade. Não sou o que podemos chamar de "exemplo a ser seguido", embora quando estejam comigo eles dizem: contigo não tem tempo ruim. Ah, se eles soubessem como é a vida ao passar da porta do meu quarto, como é encharcado o travesseiro, e a vontade de morrer sempre ali... rondando pela janela, doidinha pra virar roteiro de filme baseado em fatos reais. Sei não, quando o vejo assim, feliz com outra pessoa, me vêm tantas dúvidas na cabeça, tantos erros que posso ter cometido, incertezas, e a unica saída é procurar um caminho menos dolorido. Que vida é essa que prega peças tortas todo santo dia?