Já fazem onze anos desde que ele morreu. E a última coisa que eu disse quando ele saiu de casa, antes de sofrer um ataque cardíaco aos trinta e três anos, foi que me trouxesse um café sem açúcar.
12 de junho, 2000.
“Estava terminando de preparar as coisas para o aniversário do Eduardo. Dessa vez, eu iria – e esperava – surprendê-lo com um jantar romântico à beira mar. Ele nunca tinha visto o mar, então comprei passagens para o litoral, iríamos depois do almoço e chegaríamos lá antes mesmo do anoitecer. Só que houve um problema no trabalho do meu namorado. Justo nesse dia, a filha do seu chefe, que estava grávida, entrou em trabalho de parto e acabou vivendo uma tragédia, o filho havia nascido morto. Eduardo não teve como avisar, até tentou ligar no meu celular, mas eu acabei não atendendo. Fiquei com raiva por achar que ele havia esquecido, e já
tinha cancelado tudo. Jantei e fiquei aguardando na sala. Quando a porta finalmente se abriu, iniciei uma briga desnecessária.
- Você esqueceu?
- Esqueci, o que?
- Não acredito Eduardo, nós iríamos viajar hoje para o litoral, eu estava preparando uma surpresa pra você.
- A filha do chefe perdeu o bebê, eu tive que ficar lá no lugar dele enquanto ele estava no hospital.
- Não podia ter avisado?
- Eu liguei no seu celular, mas ele não estava com você. Nós podemos ter essa discussão outra hora? Realmente foi um dia difícil.
Ele passou andando para a cozinha, encheu um copo de água e ficou sentado. Enquanto isso, fui ao nosso quaarto e procurei meu celular. Realmente, havia várias chamadas não atendidas. Fui andando para a cozinha e parei na porta.
- Eduardo?
- Oi.
- Me desculpa?
Ele fez um gesto com a mão pedindo que eu fosse até ele. O abracei bem forte e perguntei como estava Aline (filha do chefe). Está lidando com a perda, é difícil sabe, explicou ele. Eu tinha uma grande dificuldade para expressar meus sentimentos, mas nunca tive tanta vontade de dizer que eu o amava, quanto naquele dia. Aproximei minha boca do seu ouvido e…
- Posso te dizer uma coisa?
- Claro. Mas antes, deixa eu ir ali no supermercado comprar café pra gente?
- Aqui não tem café?
- Acabou, eu acabei de me certificar disso.
- Tudo bem, pode ir.
- O que você ia dizer pode esperar, certo? É urgente?
- Não, tudo bem amor, eu falo quando você voltar.
Antes dele fechar a porta e sair, gritei:
- Eu quero o meu sem açúcar.
- O que?
- Sem açúcar.
- Tudo bem.
O supermercado não era longe, e ele estava demorando muito. Resolvi ligar no celular dele, e alguém atendeu:
- Alô? Amor, por que está demorando tanto?
- Alô, quem está falando?
- Aqui é o Paulo… E você quem é? O Eduardo está por perto?
- Desculpe, eu achei esse celular aqui no chão, acho que é do rapaz que acabaram de levar para o pronto-socorro mais próximo.
Desliguei o celular. O hospital mais próximo estava apenas a duas quadras de onde nós moravámos. Não demorei muito, apenas dez minutos depois e eu já estava lá aguardando notícias dele. Minhas mãos suavam, e eu sentia que precisava ir até onde ele estava. Contrariando a placa de “não entre”, passei pela porta e encontrei a sala onde Eduardo estava. Os médicos estavam apreensivos, o coração batia, até que tudo parou. Eu não acreditava no que via. Parado. O coração dele havia parado, e mesmo com as infinitas tentativas de fazê-lo voltar… não foi possível, Eduardo estava morto.”
O que eu tinha para dizer era urgente, mas a gente sempre acha que pode esperar mais um pouco.
12 de junho, 2000.
“Estava terminando de preparar as coisas para o aniversário do Eduardo. Dessa vez, eu iria – e esperava – surprendê-lo com um jantar romântico à beira mar. Ele nunca tinha visto o mar, então comprei passagens para o litoral, iríamos depois do almoço e chegaríamos lá antes mesmo do anoitecer. Só que houve um problema no trabalho do meu namorado. Justo nesse dia, a filha do seu chefe, que estava grávida, entrou em trabalho de parto e acabou vivendo uma tragédia, o filho havia nascido morto. Eduardo não teve como avisar, até tentou ligar no meu celular, mas eu acabei não atendendo. Fiquei com raiva por achar que ele havia esquecido, e já
tinha cancelado tudo. Jantei e fiquei aguardando na sala. Quando a porta finalmente se abriu, iniciei uma briga desnecessária.
- Você esqueceu?
- Esqueci, o que?
- Não acredito Eduardo, nós iríamos viajar hoje para o litoral, eu estava preparando uma surpresa pra você.
- A filha do chefe perdeu o bebê, eu tive que ficar lá no lugar dele enquanto ele estava no hospital.
- Não podia ter avisado?
- Eu liguei no seu celular, mas ele não estava com você. Nós podemos ter essa discussão outra hora? Realmente foi um dia difícil.
Ele passou andando para a cozinha, encheu um copo de água e ficou sentado. Enquanto isso, fui ao nosso quaarto e procurei meu celular. Realmente, havia várias chamadas não atendidas. Fui andando para a cozinha e parei na porta.
- Eduardo?
- Oi.
- Me desculpa?
Ele fez um gesto com a mão pedindo que eu fosse até ele. O abracei bem forte e perguntei como estava Aline (filha do chefe). Está lidando com a perda, é difícil sabe, explicou ele. Eu tinha uma grande dificuldade para expressar meus sentimentos, mas nunca tive tanta vontade de dizer que eu o amava, quanto naquele dia. Aproximei minha boca do seu ouvido e…
- Posso te dizer uma coisa?
- Claro. Mas antes, deixa eu ir ali no supermercado comprar café pra gente?
- Aqui não tem café?
- Acabou, eu acabei de me certificar disso.
- Tudo bem, pode ir.
- O que você ia dizer pode esperar, certo? É urgente?
- Não, tudo bem amor, eu falo quando você voltar.
Antes dele fechar a porta e sair, gritei:
- Eu quero o meu sem açúcar.
- O que?
- Sem açúcar.
- Tudo bem.
O supermercado não era longe, e ele estava demorando muito. Resolvi ligar no celular dele, e alguém atendeu:
- Alô? Amor, por que está demorando tanto?
- Alô, quem está falando?
- Aqui é o Paulo… E você quem é? O Eduardo está por perto?
- Desculpe, eu achei esse celular aqui no chão, acho que é do rapaz que acabaram de levar para o pronto-socorro mais próximo.
Desliguei o celular. O hospital mais próximo estava apenas a duas quadras de onde nós moravámos. Não demorei muito, apenas dez minutos depois e eu já estava lá aguardando notícias dele. Minhas mãos suavam, e eu sentia que precisava ir até onde ele estava. Contrariando a placa de “não entre”, passei pela porta e encontrei a sala onde Eduardo estava. Os médicos estavam apreensivos, o coração batia, até que tudo parou. Eu não acreditava no que via. Parado. O coração dele havia parado, e mesmo com as infinitas tentativas de fazê-lo voltar… não foi possível, Eduardo estava morto.”
O que eu tinha para dizer era urgente, mas a gente sempre acha que pode esperar mais um pouco.
3 comentários:
Lindo post, João!
Ainda bem que resolvi vim aqui quando vi o seu comentário no Labirinto...
E é mesmo assim...
Às vezes ficamos racionando o amor como a merda de um chocolate de leite, porque vivemos sempre como se o tempo nos pertencesse infinitamente, como se pudéssemos sempre repetir tudo de novo, como se pudéssemos alguma coisa... E sabe? Certas coisas não dão para adiar. A gente não tem todo o tempo que pensa.
Gostei muito daqui. E quer saber? Me identifiquei com você de cara. :)
Um abraço, querido. E volta sempre pelo labirinto.
Que bom que gostou. Realmente, não temos o tempo que - talvez- achamos ter. A morte é imprevisível, e nunca, nunca se sabe onde e quando...
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