quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Você têm uma nova mensagem.

          Foi isso que eu ouvi quando cheguei em casa cansado, coloquei o terno sobre a parte alta do sofá-cama e apertei o botão da secretaria eletrônica. Fiquei pensando em quem poderia ter me ligado. Eu não tinha amigos, minha família já não se importava se eu estava vivo ou morto, e eu acabara de sair do trabalho. Apoiei as mãos no parapeito da janela e permaneci ali por alguns segundos. Nem me dei conta de que não havia fala na mensagem. Decidi aumentar um pouco o volume, me agachei no chão e coloquei os ouvidos próximos, mais próximos, afim de tentar ouvir alguma coisa. Até que doze segundos depois, saiu isto:

- Ele não vai lembrar de mim... {e desligaram}

          O meu telefone tinha bina, e facilmente eu poderia descobrir quem havia ligado. Nunca fui muito curioso. Ok, minto. Já houve uma época em que eu era muito, muito curioso. Mas isso faz bastante tempo. Eu passei a viver em uma redoma. Não achava ninguém interessante ou divertido, logo, não me importava se alguém se aproximava de mim pelos meus bens exteriores ou interiores. Resultado: ninguém chegava perto. Ou, eu os afastava, não sei bem. O que iria mudar na minha vida ou em mim saber quem havia me ligado? Provavelmente era alguém que errou de número. Isso acontece sempre. Aliás, aconteceu na semana passada.  Ligaram se declarando, dizendo mil e uma coisas que eu gostaria de ouvir, até que o rapaz se deu conta de que havia ligado para a pessoa errada. Eu respondi: É, são sempre os errados. Desliguei na cara, sem dizer adeus. Suponho que ele não tenha entendido bem a minha revolta. E nem precisava. Ah, cansei.
          Eu já estava deitado na cama, sonhando com ruas, ou becos, não sei... Enfim, quando o meu celular resolve tocar. E eu, meio que instantaneamente resolvi atendê-lo.

- Por que não me retornou? {em um tom meio agressivo}
- Você poderia primeiro me dizer quem teria me ligado mais cedo? E outra, eu não entendi nada, nada sobre o que você disse na ligação.
- Você estava dormindo?
- São duas da manhã, sabia?
- Desculpa, mas você não retornava... eu já estava enlouquecendo.
- Sim, o que você quer?
- Terminar nossa conversa de hoje à tarde.
- Que conversa?
- Você aceita, ou não?

          Eu me levantei da cama em um pulo, quando me veio uma lembrança remota na minha cabeça. Não sei como esqueci tão rápido. Eu estava almoçando em um restaurante qualquer ao lado da Galeria de Artes, quando alguém entrou no estabelecimento.

- Você era o cara do almoço?
- Sim... responde minha pergunta, não tenho tempo.
- Calma aí.

          Eu já havia acabado de almoçar e como tinha o resto do dia livre, resolvi ficar por ali e colocar minha leitura acadêmica em dia. E então, um rapaz se aproximou com o seu almoço em mãos.

- Direito Administrativo? {ele disse interrompendo minha leitura}
- Sim... E pelos visto - olhei para os livros que ele trazia embaixo do braço - você faz o mesmo curso que eu.
- Eu? - fez uma cara de desentendido levantando uma das sobrancelhas e espiou os livros que trazia - Não, não. Esses livros são de um guri que eu estou conhecendo.
- Ah, sei.
- Posso me sentar aqui?
- É... claro, fique à vontade.

          Idades. Relacionamentos anteriores. Onde trabalhava. O que fazia durante o dia, durante a noite. Músicas favoritas. Filmes. Artes, no geral. Planos. Idades - minha memória costuma ser meio fraca. Desejos. Assuntos sem nexo. E risos, e bebidas. E minha leitura interrompida. Conversa agradável. Sol se pondo. Noite vindo. E horas. Voando, tempo. E por último... nomes. Um aperto de mãos, abraço curtinho. Mesmo sendo tudo de forma rápida, já fazia anos que eu não me sentia daquele jeito. Aquele jeito meio babaca que fica a nossa expressão facial, quando a pessoa vai desaparecendo conforme vai ficando mais, e mais longe da gente.
          Na verdade, eu não havia esquecido. Minha memória não é tão ruim assim. A verdade é: eu não achei que daria em alguma coisa, que essa pessoa me ligaria, e que me pediria em namoro antes do aperto de mãos e do abraço curtinho. Eu não esperava. E foi justo por não esperar, que eu me senti nas nuvens. Só que... não queria cair de novo. Cair é doloroso. Depois de viver de quedas - lembra quando contei que eu vivo em uma redoma? - me isolei de tudo que fosse in, dentro. Fiquei desconfiado, me sentia sempre com vontade de continuar ali deitado, sem forças para levantar sequer meu corpo da cama. Ia trabalhar, mas não ia com qualquer mínima vontade que fosse. Eu já não sabia o porque de existir, e nem para que. Preferi não pensar nisso, e fui tocando a vida. Sem olhar para os lados. Era eu comigo mesmo. Sempre.
          Permaneci ali olhando a janela. Quando fui ouvir a mensagem de novo, não era nada. Doze segundos de silêncio e eu fantasiando amores que nunca vão acontecer de verdade.

Um comentário:

Luh disse...

João!

disponha sempre...e obrigada tbm pela visita em meu blog.
Hei de te visitar sempre tbm.

E essa postagem...hum...bom, acho que nossos amores são bem mais saudáveis quando acontecem somente em fantasia, pq a dor será apenas uma fantasia tbm.

Bjo raro ;*