terça-feira, 9 de novembro de 2010

Junie.

1995. Paris. Disco vinis. Nostalgia. Junie, 20 anos de idade.


        
          Apaixonada pela professor de ciências biológicas, e amada por um de seus amigos de classe, Otto. Um irmão gay indeciso quanto a idéia de assumir sua sexualidade. Talvez por ser o caminho mais fácil, ela decide se envolver com Otto. Cabelos claros, nariz afilado, olhos azuis, bonito por dentro e por fora. Ingênuo. O namoro dos dois parecia ir bem, até que ela se viu envolvida pelo professor. Mais velho, cabelos pretos e um cigarro na boca. Ela, aparentava ser frágil, despreparada, uma presa fácil, mas estavam todos enganados. Junie era inteligente, observadora, e não pisava em nuvens. Sabia dos riscos que correria se começasse um envolvimento secreto com seu professor, mas foi quase inevitável. Não houveram beijos, mas as trocas de olhares acabaram acontecendo, sempre nos intervalos, sempre que se viam. Otto estava sentindo uma diferença no comportamento da moça, que agora o evitava quase sempre. Uma dor de cabeça incessante , uma falta de paciência, sem tempo... ela alegava não ter mais tempo para Otto. Os estudos, são os estudos, ela justificava. Junie brincava com o perigo, a escola era pequena, e os corredores tinham olhos, olhos por todos os lados. Quando ela se deu conta, já era tarde demais.   Alguém-que-não-sei-quem avistou ela e o professor juntos no intervalo. De perto, ele tentava beijá-la, mas ela o mantinha distante, enquanto tentava empurrá-lo com as duas mãos contra o seu peito. de longe, outra concepção. E foi justo a concepção errada que chegou aos ouvidos de Otto. O rapaz por sua vez, tentou fazer com que a moça contasse, mas ela negava. Não houve nada, e nunca haverá, disse ela. Ele não acreditava, ainda mais depois de saber que ela pretendia sair da cidade. Por que? perguntou. Junie disse que precisava de tempo para pensar, que a escola não havia ajudado, e que provavelmente essa tinha sido a pior escolha, que a morte de sua mãe a tinha atingido mais forte do que imaginava. Ele entendeu que não tinha sido bom o suficiente, e que tinha falhado na sua tentativa de fazê-la melhorar do luto. Ela se importava com ele, mas estava cego a ponto de conseguir perceber isso. O irmão de Junie, esse por sua vez não tinha problema algum. Namorava com Martin, e depois da aprovação da irmã, não tinha mais porque se esconder dos outros. Ainda que mesmo assim, preferia manter o relacionamento longe dos olhos dos outros estudantes. Burburinhos seriam inevitáveis. Manhã na escola, horário do intervalo, Junie ignorava Otto. Ela não sabia que o garoto estava tão abalado, até que o sino tocou. Uma, duas, três vezes. Enquanto todos conversavam no pátio, alguém pulou lá do segundo andar. Uma grande roda abriu-se em volta do corpo. O garoto havia se matado. Ela ficou ali por um tempo, olhando para o corpo. Mas nada, nada podia ser feito. Quer dizer, quase nada. Naquele mesmo dia, o professor foi até a casa de Junie, a fim de convencê-la a ficar na cidade. Chegando lá, soube pelo irmão dela que a mesma teria viajado, ido embora, para bem longe e que não podia dizer para onde, que era melhorar assim, e que por recomendações dela, ele deveria deixá-la em paz e nunca procurá-la. Nessa mesma hora, ela estava já avistava a cidade, cada vez mais distante. Junie viu alguém que a amava se matar, e não conseguia de modo algum, conseguir superar a dor da morte de sua mãe, a dor da morte de Otto, e a dor de amar alguém que jamais poderia amar. Uma hora ou outra, ela sabia que seria trocada por alguma estudante mais nova. Uma hora ou outra, ele iria perceber que se desfazer de mulheres, como se fossem objetos, era mais prejudicial a ele do que poderia se imaginar.

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