domingo, 26 de abril de 2009

Metades.

erro o passo. uma mão aponta em uma direção e a outra é contrária. corro, caio, nem milhões de travesseiros amorteceriam minha queda. luto, sofro, debaixo das cobertas é impossível não recorrer as lanternas. grito, me calo, tento afugentar minhas neuras, minhas loucuras, minhas incertezas, e as minhas derrotas. uma metade ainda acredita em amor de novela, a outra chora de angústia, sem esperança e certa de que só se ama as pessoas erradas. sinto o perfume de chocolate branco ao longe, o café esfria na mesa, nenhuma roupa é boa o bastante, até o barulho das folhas nas àrvores me aborrece. tento criar uma linha de raciocínio, tracejar objetivos distintos, completar o quadro com cores ofuscantes, nada se completa, nada de somas perfeitas. pergunto onde estão aqueles sorrisos surreais, ninguém sabe, ninguém viu, não deixou rastros nem pistas do seu paradeiro. os procuro incessantemente, talvez eu os escontre, não mais tão felizes, talvez totalmente aterradores. a música agitada se torna uma melodia sem fim, tão dramática quanto poemas e versos transcritos sobre a pele de alguém que já é um ser sem luz. metade é totalmente reflexiva, a outra nunca está pronta para se sentar e olhar o horizonte inquieto. me convida pra sorrir, enlouqueça comigo, se surpreenda com as minhas metades, crie comigo imagens marcantes, fatos importantes, dias tão bons quanto aqueles inconstantes. siga-me para um caminho de incógnitas, de seres sem resposta, de anjos enfurecidos em busca da magia que é a vida. só diga sim e aperte minha mão insegura, e então sairemos em busca do novo que todo mundo procura.

Mais pesado do que podemos imaginar.

Carregar uma sacola com 5kg de laranjas nas costas ou dois sacos de cimento, pode nos fazer derreter em suor antes de concretizar o ato. Algo que fica leve quando nos deparamos com situações, em que parecemos pequenas formigas carregando o mundo nas costas. É, ele desabou. Desabou e não quer saber se você vai ter forças para suportar, se você vai achar uma solução para lidar com isso, ou se simplesmente vai pular de um grande edifício na avenida mais próxima. Buscamos ajuda nas coisas mais diversas e inusitadas, nos agarramos a uma bílbia ou culpamos o todo poderoso por tamanha desgraça, encaramos de frente o problema a fim de assustá-lo, como se disessemos "Eu não tenho medo de você, agora pode dar meia volta e sumir daqui.", achando que de fato a solução para um problema é mostrar a ele que ele não tem solução nenhuma. Encharcamos nossos travesseiros de lágrimas, gritamos contra cada pedaço do nosso quarto, quebramos pequenos objetos inofensivos, comemos os dedos como se os mesmos tivessem apontado para a má escolha da situação. Quem tem culpa? Você? Eu? O mundo? As pessoas que estão a minha volta? É o destino? O que está feito, está feito. Perder tempo procurando o indíviduo culpado por total destruição emocional não vale a pena, nem se ele é um ser vivo sabemos, teríamos que nos focar também nessa incessante e louca aventura em achar o culpado, mas já temos um grande problema, um grande caos para nos livrar. O mundo conspira contra os meus desejos, nada dá certo, nada parece tão bom, nada os faz sorrir, tudo parece negro, pálido, rígido, pesado. É como se uma cortina de fumaça fúnebre dominasse os meus pensamentos, os meus objetivos, a minha vida. Não consigo ver o colorido, nem em pinturas, nem nas coisas mais vivas desse mundo. Perdão, talvez eu não possa aguentar, talvez eu seja mesmo um fraco, mas não como uma formiga, que está sempre lutando contra o destino de ser pisoteada a qualquer instante, e sim como uma pessoa que um dia chorou, brincou, amou e agora resolve desistir de tudo por simples egocentrismo. Assuma os seus atos, libere as suas mais terríveis e incuradas feridas, desça ao térreo dos seus pesadelos mais sombrios, deixe que o seu eu tome conta de você, chega de fantasias, de máscaras irredutíveis, de achar que o mundo gira em torno da sua vida e ninguém nunca te estende a mão quando precisas. Há um mundo lá fora, e uma vida dentro de si mesmo, se o mundo ousou em cair sobre suas costas, mostre a ele o quanto estão preparadas para suportar quantos mundos quiserem cair sobre elas. Os problemas só irão te esmagar por completo se você os permitir.

João Paulo.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Tudo pra você.

Não, não precisa se levantar, não. Você pode ouvir tudo isso aí mesmo, no sofá. E pode fechar também esse sorriso. Eu não estou de volta. Está ouvindo? Dirigi até aqui, passei pelo seu porteiro curioso, subi por esse seu elevador cheirando a mofo, pra lhe dizer exatamente que eu não estou de volta. Que você pode ficar com tudo. Com seu livros empilhados, com seus discos mal guardados, com suas plantas quase-mortas, por não serem mais regadas. Você pode ficar com tudo. Com esse seu vaso de flores amarelas de plástico, empoeiradas pelo que vem dessa janela sempre entreaberta. Pelo que vem com o cinza dessa cidade imunda. Fique com tudo. Com esse seu apartamento minúsculo. Com essa caixa de fósforos do décimo sexto andar. Não quero nada. E só achei que deveria saber que você pode ficar com tudo. Com os meus beijos e com os meus apertos, inclusive. Com os meus carinhos feitos quando eu, tolo, acreditava que você era o que eu andava precisando. Só achei que deveria saber que esta é a última vez que me viu por aquele olho-mágico da porta, antes de me espiar por ele, de costas, indo embora, de uma vez por todas, por aquele corredor com marcas de mãos pretas pelas paredes. Achei que precisava lhe avisar que não quero mais nada. Que você precisava saber que esta é a última vez que estou pisando nesse seu carpete desfiado. Olhando para todo esse caos, que um dia chegamos a chamar de paraíso. Não, não precisa se levantar, não. Você pode ouvir tudo isso aí, com essa bunda grudada no sofá. Eu só passei mesmo pra dizer que não quero nada de volta. Nem aqueles beijos todos. Poderia fazer com que cuspisse um por um, agora mesmo, de joelhos sobre o tapete. Mas eles não vão me fazer falta. E eu estou meio com pressa. Me desculpe, mas eu só passei por aqui realmente pra avisar que não, eu não estou de volta.



[Eduardo Baszczyn]

O tudo sobre o mundo.

E mais um sol nasce ao longe,
as plantas parecem mais vivas do que ontem.
O verde das folhas ilumina a natureza,
pássaros voam, liberdade entre as nuvens.
Eu passo na frente da agenda,
nada hoje, nada amanhã, e nada depois.
O dia parece que ganhou 24 horas a mais,
custa tanto a passar,
que às vezes eu acho que a noite nunca vai chegar.
O que os meus olhos vêem, meu coração não sente.
Onde eu enxergo fumaça nunca há fogo,
nada me surpreende, nada me choca,
nada muda, nem se transforma.
Bocas que não falam, olhos inexpressivos,
sentimento invisível que consegue te dominar
de uma forma que nem você consegue entender.
Você aceita, você espera, e as perguntas nem sempre
são respondidas, talvez um dia, talvez nem nesta vida.
As pessoas brincam, fingem, mentem, enganam,
te exploram, te sugam a energia, se aproveitam da
sua generosidade, e até da sua ingenuidade fingida.
Depois elas cuspem na sua cara, te deixam falando
sozinho, e usam uma borracha para apagar tudo
aquilo que elas tinham te dito.
Matemática, Física, Química, para todos esses cálculos
há um resultado exato. Ser humano, sentimentos, amor,
quem me consegue responder uma pergunta correta,
sem titubear no meio da resposta?
Eu acho, talvez, não sei, quem sabe, é cedo para se decidir.
Amanhã chega depressa pra quem não espera,
e demora anos para aqueles que anseiam desesperadamente.
Reveja seus conceitos, seus desejos, seus sonhos,
todo dia é dia de mudar, amanhã talvez pode nem chegar.

sábado, 18 de abril de 2009

Não quero falar de amor.

Fica tão repetitivo, quanto mais se fala de amor, mas ele se torna algo extremamente necessário na vida de alguém, e quem seria eu para dizer o contrário? Chega a ser tão importante pra mim como a minha própria vida, sem exageros. Eu não tenho medo da morte, eu só tenho medo do dia em que isso pode acontecer. Eu tenho sonhos a serem realizados, e eu não gostaria que minha vida fosse impedida no meio do caminho, sem eu ter tentado. Pior que morrer de uma hora para outra, é morrer sem ter amado alguém na vida. Às vezes eu acho que eu nasci na época errada, sou muito atrasado para os dias atuais, onde poucas pessoas dão valor aos sentimentos alheios, onde poucas pessoas de preocupam com o caráter, onde muitas vivem por viver e definem felicidade como sendo uma coisa suja & hipócrita. Não tô bancando o santo, alguns acontecimentos no meu passado falariam por mim agora, mas sem eles eu não teria aprendido o que eu sei hoje. Eu bebo, transo (não fumo), mas nem por isso eu preciso sujar a minha personalidade com ideais sem fundamento. Eu gosto do inovador, do atual, da tecnologia avançada. Tudo a minha volta evolui e muda para melhor, mas certos valores só acabam regredindo a cada século que passa, e logo esses que tantas pessoas tiveram o cuidado para que não caissem no esquecimento, ou pior, para que não fossem "usados" de forma errônea. Chega, são coisas que talvez algumas pessoas já perderam e nunca mais vão aprender. Não vou tentar mudar nada, não sou responsável por ninguém além de mim mesmo, então.. quem quiser repensar como leva a sua vida, se é isso mesmo que quer para si mesmo, sinta-se a vontade.

Em terra de cegos, quem tem olho não é rei.

Convenhamos que poder enxergar os objetos, os tons, os locais por onde você passa, as pessoas que te rodeiam, as luzes fortes que fazem seus olhos doerem, é muito bom. Ninguém gostaria de viver na escuridão, de ter que enxergar usando as mãos, de não poder ver quem passa e sorri para você. É tão melhor acordar e contemplar o sol, o azul claro das nuvens, o verde das folhas, a mistura de cores de uma natureza sem fim. Mas e quando a visão de uma hora para outra some? Como se você fechasse os olhos e quando os abrisse tudo está branco como leite? Você não teve tempo de se acostumar com a idéia, não planejou, simplesmente aconteceu abruptamente de uma hora para outra. Você os fecha, os abre, os fecha, os abre, e tudo continua branco. Tão estranho, eu achava que estar cego era viver na escuridão, mas agora eu vivo na luz, será que eu estou morto? Não, mas de fato estar cego é estar meio morto, ou melhor.. meio vivo. É como se você passasse a viver lendo um livro, onde as pessoas te contam os acontecimentos em geral, e como você não os pode ver, você tem que imaginá-los como acha que devem ter ocorrido, e daí flui sua imaginação. Com o tempo a gente vai se acostumando, não é tão fácil como quem aprende a andar de bicicleta ou a dirigir, mas ou aprendemos a viver sem os olhos ou morreremos por causa deles. É uma luta para poucos, não sei se posso chamar um cego de privilegiado, mas de certa forma é assim que deveriam se sentir. Tudo tem seu lado bom e o ruim, mas se pararmos para ficar pensando nos contras de não poder ver as coisas, só iremos descer cada vez mais baixo em direção ao oposto da luz. Talvez seja isso que falta em algumas pessoas, a cegueira. Ser obrigado a enxergar somente o interior do seu semelhante, sem descriminação de cor, de aparência, de nada. Apenas sentir e tocar. Apenas sorrir e amar. Nada mais que isso. Meus olhos foram multilados por alguém sem nome, eu não vejo mas eu sinto tudo que acontece a minha volta. Se você tem seus olhos para olhar, veja. Se você pode ver, repara.



[Pequeno texto feito por mim depois de ler O Ensaio sobre a Cegueira. Um resumo em texto completo da obra, ficaria muito extenso.]