sábado, 29 de janeiro de 2011

Mudanças.

"Quando ele disse que era tarde demais, que se eu tivesse dito antes tudo seria diferente, ele estava mentindo. Essa é a forma menos dolorosa de dizer 'não... eu não quero você'. E até foi. Não que eu estivesse apaixonado por ele, eu apenas achava que... daria em alguma coisa. Só isso."


Engraçado, eu sempre fui sonhador demais. E isso nunca foi bom pra mim. Talvez vá ser no futuro, quando eu usar tudo isso para escrever um livro, um filme, uma peça, ou qualquer coisa assim. Mas para mim mesmo, não... nunca foi bom. Sempre quis me ver perdidamente apaixonado por alguém, independente de preferências, se aquela pessoa iria ser compatível comigo ou não. Aos poucos, estou conseguindo enfiar na minha cabeça a idéia de que não existe a pessoa certa. Por hora, é melhor assim. E está funcionando. Vejo os outros apenas como qualquer coisa, são só seres humanos. Sem achá-los bonitos, sem trocar olhares na rua, nada. Pedaços de carne que vem e vão. Sorriso qualquer. De fora, pode parecer que eu estou me fazendo de rocha, como se eu fosse muito exigente... mas não sou, no fundo, no fundo, não sou. Mas esse fundo vai ser trancado a sete chaves. Talvez abri as portas demais, escancarei demais, e deu no que deu. Entrou quem quis, fizeram o que fizeram, e a sujeira? Tive de limpar sozinho. E quando está frio? Não há nenhum deles por perto. É o momento certo para trancafiar o sensível, aflorar o ser menos racional que existir dentro de mim. Só haverá beleza em paisagens, pessoas serão apenas cartas... torres de xadrez. Iguais, e sem beleza nenhuma, até que alguma me prove o contrário.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

stay




Dizemos adeus na chuva,
E eu fico em pedaços enquanto você vai embora.
Fique, fique.
Porque toda a minha vida me senti assim,
Mas eu nunca consegui encontrar as palavras para dizer...
Fique, fique.



Stay - Hurts

Culpa.

É culpa minha se visitei os lugares errados. E justo naquele dia, esqueci minha carteira em cima da mesa. Mas você, você não tinha nada que ser generoso e trazê-la até o meu carro. Se tivesse feito vista grossa, a carteira passava despercebida e você se pouparia de toda a destruição que eu traria pra sua vida. E é aí que entra outro ponto: foi mesmo só destruição? Você faz parecer que sim. No meio da noite, você me acordava só pra lembrar o quanto era bom estar ali comigo, e agora diz que nada valeu a pena? Foi culpa minha se eu te vi como refúgio e acreditei que poderia lhe contar tudo que me afligia. É uma droga mesmo ser assim, um criador de expectativas. Viver sem os pés no chão. Mas era você que me trazia tudo isso. Uma sensação de leveza, de estar acima de qualquer coisa ruim. Enquanto eu vivia no céu, um terreno com cacos de vidro era preparado, e quando você finalmente me fez cair na real, eu já chorava sentado em uma poça de sangue. Foi culpa minha achar que alguém tão diferente de mim, poderia cuidar das minhas partes tão sensíveis e feridas por tantos outros. Depositar esperanças em alguém é um tiro no escuro mesmo...

sábado, 22 de janeiro de 2011






Então é isso que a solidão faz: põe seu coração em uma gaiola.




quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Incompatível

Eu digo que não ligo, que pouco me importa a idade, ou o tamanho dos dedos. É tudo mentira. Não é que eu tenha um desenho dessa pessoa guardado na gaveta, medidas e cor da pele. Mas certas coisas é questão de gosto, de olhos. O que é feio pra mim, pode não ser bonito para o meu amigo aqui, e assim por diante. Decidi que não ligaria, que olharia para dentro. Mas aí você me veio com seus gostos populares, desejos pequenos, idéias pobres. Terminei. Daí, me vieram com frases assim: você procura um princepezinho. Arriscaram dizer que eu nunca encontraria alguém, porque esse alguém que eu havia criado na minha cabeça não existe. Por um momento achei que era verdade, que eu sonhava demais, exagerava na dose de qualidades, e cor dos cabelos, e formato de rosto, tipo de beijo. Droga! Que porra de filmes eu ando vendo pra andar tão nas nuvens, pra querer alguém que venha a cavalo branco. Dia desses eu te encontrei no parque, estava acompanhado de uns sete pombos brancos. Me sentei do seu lado, e você começou a me contar como andava a vida. Que tinha errado ao meu respeito. Que tentou romances com pessoas incompatíveis, e que terminaram de forma desastrosa. Ainda acha que procuro um ser que não existe? perguntei. Permaneceu calado, a resposta vazava entre os lábios fechados, pelo canto da boca, olhos. Expliquei: quando terminei com você, não foi o fato das suas mãos serem grandes, ou você calçar quarenta e quatro, sabe? Como daria certo alguém que frequenta baladas sertanejas, com alguém que não suporta este tipo de música? Enquanto eu quero algo calmo: um bom filme. Você optava por algo mais movimentado: shows. E daí por diante: a preferência pelo dia; odiava o que eu escrevia; se contentava em transar em locais abandonados. Nada, nada em comum. Estava ali por estar. Não foi o destino que fez você cruzar comigo, foi um erro na troca de olhar. Eu achei você bonitinho no aniversário de um amigo, e só. Achei que dava para levar isso pro claro, não deu.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Lágrima em silêncio.

- Martin, venha aqui! - [chamou o pai]
- Pois não?
- Sua mãe e eu estamos muito preocupados com você. Você tem dormido bem? Há algum problema na escola que você não tenha nos contado?
- Não, pai.
- Como você sabe, eu sou pastor em uma cidade próxima daqui. Um dia desses, uma mãe trouxe o seu filho para conversar comigo. Ele tinha a mesma idade que você, e também os mesmos sintomas. O garoto estava extremamente fatigado. Seus olhos tinham olheiras, fundos e sem alegria. Sempre evitou olhar seus pais nos olhos, até que alguns dias depois, ficou doente. Isso durou quase meio ano, e tudo foi ocorrendo de forma rápida. Perdeu o apetite, o sono, suas mãos começaram a tremer, sua memória começou a falhar, e seu corpo inteiro começou a se encher de bolhas/pústulas. O corpo que eu havia abençoado, tinha a aparência de um homem velho. Agora você entende o motivo da minha preocupação? O que você acha que fez com que o garoto tivesse um fim tão miserável?
- Não sei.
- Eu tenho certeza que você sabe.
- Eu...
- Bem, eu vou te dar a resposta então. Pouco antes de ficar doente, o garoto viu alguém. Esse alguém danificou os nervos do seu corpo, e forçou entrada por barreiras colocadas ali por Deus. Enquanto doente, o garoto fazia um barulho enquanto dormia, que lembrava soluço, mas um soluço diferente, como se agonizasse. E então filho, você quer me contar algo?
- Não...
- Por que você ficou ruborizado então?
- Ruborizado? Não... Eu senti pena do garoto. [O garoto então começa a se debulhar em lágrimas]
- Então por que está chorando? Seja sincero, Martin. Você está fazendo a mesma coisa que o pobre do garoto?
- Sim.


A fita branca.

Esqueça o passado.

Você vai ser o caminho para recomeçar.
Você vai ser a água sobre a mancha.
Vai ser aquele que chamará pelo meu nome,
Jamie, Jamie.
Você é quem irá matar,
todos os medos que existem no que eu escrevo.
Em mim: todo o seu mundo.
Encontre-me, meu amor.

Você vai ser a essência do fogo,
Você vai tomar todo o meu desejo,
Você me fará ser ousado e inspirado,
Conheça-me.
Você vai ser o olho da tempestade,
as paredes do meu pensamento.
Você vai ser o sonho e o trono,
Me conheça, meu amor.

Você será a calma das minhas tempestades,
e irá me contar todos os seus desejos,
enquanto deitamos na grama e esquecemos do passado.

Você vai ser o caminho para recomeçar.
Você vai ser a água sobre a mancha.
Vai ser aquele que chamará pelo meu nome,
Jamie, Jamie.



Forget the past - The Irrepressibles.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Broken...





Arte & Música.

Apartamento de um amigo.

Eram quase três da tarde, quando Martin recebeu um telefonema de... Flávio.

- Oi, é o Caio?
- Isso. Quem está falando?
- Aqui é o Flávio, conversamos ontem pelo bate-papo.
- Ah... estou por dentro. E aí, o que você manda?
- Não tá afim de vir aqui em casa? Estou sozinho no apartamento de um amigo, podemos conversas, beliscar algo.

[Uma pessoa sozinha em um apartamento com você. E vocês acham mesmo que a intenção era de beliscar e conversar?]

- Me passa o endereço.

Alguns minutos depois, Martin estacionou o carro próximo a onde o rapaz morava e avistou alguém abrindo a porta. Quando viu que o rapaz não era tão rapaz assim, se deu conta de que nem havia lhe perguntado a idade, ou qualquer coisa do tipo. Ainda assim, fazia tanto tempo que... acabou saindo do carro mesmo assim.

- Pode entrar.
- Obrigado.

Foram para a sala. Onde havia pouquíssimas coisas. Um notebook, onde ele ficou mostrando vídeos pornôs. Uma rede. Duas cadeiras e uma brancura enorme por todo o lugar. Não havia cor. Era de cegar os olhos.

- Você é bonito, disse ele.

[Martin pensou em dizer o mesmo, mas não consiguia mentir. O cara era interessante, mas não lhe agradava muito pessoas com aparência de velho...]

Fingiu ficar tímido, e agradeceu o elogio.

- Caio é mesmo o seu nome?
- Sim. E você se chama Flávio?
- Claro. Aliás, odeio que mintam. Já me enrolei com outros garotos, e a gente consegue perceber nos olhos da pessoa, quando ela tem má índole.
- Você consegue é?
- É fácil. Por exemplo, você aparenta ser uma pessoa de bom coração.
- É... eu sou...

Estava prestes a usar aquele homem como um objeto qualquer de desejo sexual. Satisfazer o que o corpo mandava e ir embora dali, o mais rápido possível. Mas, e daí? Era recíproco. Flávio o chamou para ir ao quarto, que lá ficariam mais à vontade. Corria tudo normal quando o homem do apartamento lhe sussurrou algo no ouvido.

- Posso fazer uma coisa com você?
- Que tipo de coisa?
.....
- Não.
- Por que?
- Eu não quero. Nunca fiz, e não tenho vontade de fazer...
- Mas você vai ser pago por isso.
- Você não falou disso quando conversamos, achei que seria só o...
- Básico?
- Isso que você quer que eu faça é mais que avançado pra mim.
- Besteira, você sempre vê isso em filmes pornô.
- Mas eu não sou um...
- Ator? E garoto de programa é o quê?
- Eu tenho que ir embora.
- Não.

Martin tentou sair da cama, mas foi impedido pela mão forte do outro em seu braço.

- Larga meu braço, se não eu vou te esmurrar até que seu cérebro espoque aqui no meio dessa cama.
- Você teria coragem?
- Não. Mas se você continuar me forçando a fazer o que eu não quero, você pode me testar pra ver...
- Vamos... só vai doer um pouco.

Ele colocou a mão na boca do garoto e tentou forçar, e forçar... Até que foi empurrado com as pernas para fora da cama.

- Seu filho da puta, por que você fez isso?
- Se você tocar outro dedo em mim, eu vou na polícia.
- E vai dizer o quê? Que estava se prostituindo e eu não quis te pagar? Por favor...
- Não sei, eu digo apenas que eu... sou de menor. Isso já bastaria. O que acha?
- Mas você disse que tinha vinte e dois anos.
- Eu disse. Te comprovei isso?

Ele avançou para cima do garoto e desferiu um murro no seu rosto. Com um pouco de sangue na boca, saiu do quarto e foi correndo para o banheiro.

- O que você está fazendo aí, meu filho?
- Vomitando, respondeu.

Ele se vestiu no banheiro e voltou até o quarto. Onde encontrou o homem rindo na cama.

- Vocês [garotos de programa] se acham muito espertos...
- Eu não sou garoto de programa. Seria minha primeira vez.
- Você tem jeito pra coisa, mas precisa aprender a fazer de tudo.
- Pode abrir a porta por favor?
- Você não vai contar nada né?
- Abre, se não vai ser pior.

Ele foi embora. Derramou algumas lágrimas enquanto dirigia. Aliás, nem sabia para onde estava indo. E nem porque havia feito aquilo. Mexeu no bolso traseiro, e encontrou vinte reais. Comprou curativo, remédios, e foi para casa cuidar do machucado.

domingo, 16 de janeiro de 2011

É cada um por si.

"A tecnologia tomou o lugar do colo..."

Quando eu preciso de ajuda para ser impedido, eu ligo para algum 0800. E então converso com alguém que é pago para ajudar os outros. Veja bem: é pago. Hoje em dia é assim, você precisa ser pago para ajudar o próximo, para ouvir seus problemas. Um abraço está custando o mesmo preço de um celular. Uma palavra de carinho só é dita se você prometer, jurar que vai devolver outra, tão bonita quanto a que será dita. Ninguém liga. É normal mentir, enganar, iludir, brincar com as outras pessoas. Todo mundo é forte o suficiente para cair e levantar, quantas vezes forem necessárias. E daí eu pergunto: onde eu me encaixo nisso tudo? Eu já fui sincero, a ponto de fazer outra pessoa sofrer, mas não menti. Disse que não amava, libertei a pessoa para que vivesse isso com alguém de verdade, e não com um filho da puta cheio de indecisões. Às vezes me questiono sobre mim mesmo, se realmente estou seguindo aquilo que deveria ser. Se essa atração por pessoas do mesmo sexo é realmente real, ou se foi uma idéia que puseram na minha cabeça, quando o rapaz me levou para um quarto, me encostou na parede e levou a língua até o céu da minha boca. Revejo os pontos, as voltas, os conceitos, e tiro isso da minha cabeça. Não há dúvidas. É só uma vontade de não ser eu mesmo, de criar uma identidade com mentiras. Novo nome. Nova identidade sexual. Acho que aprendi valores demais quando estudei em colégio de freiras. Esqueci do meu lado de diversão por prazer. Apostei no amor verdadeiro e desde então minha vida tem se tornado uma sucessão de arrependimentos. Cheguei a conclusão de que não há amor para mim. Não há amor vindo da família, dos amigos, de ninguém. A única forma disso acontecer é arrecadando fundos, ir juntando e comprar tudo isso. Amor, afeto, carinho, abraços, conversas ao pé do ouvido. O que eu sou hoje não é suficiente para ser admirado por alguém, enquanto outras pessoas, são elogiadas pelo simples fato de terem uma costela mais bonita que a minha. Fui um erro que virou ser humano por engano. O plano era vir como ser irracional.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Um pouco de autocrítica.

É muita água, e pouca terra no que eu escrevo. Sempre nublado, dia cinzento, nunca ensolarado. Há muita tristeza, melancolia, cada palavra escrita é como uma ponta de faca.As músicas nunca fazem estalar os dedos, é sempre aquela mesma melodia, ficar deitado na cama, esperando que caia um riso de cima. Não cai. Só lágrimas. Vários travesseiros para suprir a necessidade de uma companhia, eu e eu mesmo. Sempre, sempre. Cadernos e mais cadernos feitos de diário, toda a derrota em mais de duzentas páginas. Há esperança demais no que eu escrevo, esperança que tento regar todos os dias, rotina. É, rotina. Como se os caminhos já estivessem traçados. Do trabalho para casa, da casa para o trabalho. Nunca uma surpresa, um desvio. Sempre os mesmos filmes. Os finais, meios e começos perfeitos. Cadê o meu momento de êxtase? Fiz muito pelos amigos, hoje não precisam da minha ajuda, se foram. Talvez eu precise escrever com outra vida, qualquer vida que não seja a minha.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

lado A, lado B.

          Todo mundo gosta daquele meu lado divertido: que faz piada de tudo, de todos, e às vezes, faz graça com nada. Sou convidado para dar shows em casas noturnas, entreter os outros, deixar todos os clientes com um sorriso de orelha a orelha. Às vezes, me convidam para uma conversa sobre tudo. Me saio bem, apesar de me dar mal quando o assunto é política. Nas boates, não costumo ficar parado. Qualquer música é animada, e me faz querer levantar os bracinhos e cantar, mesmo sem saber ou conhecer a dita cuja. Todo mundo curte esse meu lado "sorrisinho", de gargalhada alta e piadas de humor negro, às vezes, de mau gosto mesmo. Mas, é só começar a falar de assuntos pessoais, e todo mundo se cala. Cada um conta a sua experiência, mas quando eu tento falar, me interrompem. Ninguém dá a mínima. Dizem: você não é a pessoa certa para esse tipo de assunto. Por que? Eu questiono. Eles se entreolham, e nada respondem. Viro meu rosto pro lado, e finjo que não é comigo. Não querem saber o que se passa, talvez meu problema seja grave demais. Quando tentam me aconselhar, indicam livros de auto-ajuda. Já li, já li, já li, já li. E esse? Já li também. E você ainda está assim?
Todo mundo gosta do meu lado A, mas quando eu tento virar o disco, eles voltam pra primeira faixa, e nunca deixam eu completar. Talvez eu tenha nascido para viver sendo uma metade, o completo é pesado demais para a sociedade conseguir gostar.

como me tornei estúpido.

"Tinha poucos amigos, porque padecia dessa espécie de anti- sociabilidade que resulta da demasiada tolerância e compreensão. Os seus gostos não-exclusivos, disparatados, baniam-no dos grupos que se constituíam a partir de desgostos comuns. Se ele desconfiava da anatomia odiosa das multidões, era sobretudo a sua curiosidade e paixão desprezadoras de todas as fronteiras e clãs que faziam dele um apátrida no seu próprio país. Em um mundo em que a opinião pública está confinada nas pesquisas às possibilidades sim, não e sem opinião, Antoine não queria preencher nenhum quadradinho. Ser a favor ou contra era para ele uma insuportável limitação às questões complexas. Além disso, possuía uma delicada timidez à qual se aferrava como a uma reminiscência infantil. Parecia-lhe que um ser humano era tão vasto e tão rico que não poderia haver maior vaidade neste mundo que estar demasiado seguro de si com respeito aos outros, com respeito ao desconhecido e às incertezas que cada um representava. Por um momento teve medo de perder a sua singela timidez e juntar-se ao bando dos que nos desprezam se não os dominamos; mas, graças a uma vontade obstinada, soube conservá-la como um oásis da sua personalidade. Apesar de ter recebido numerosos e profundos ferimentos, isso em nada lhe tinha enrijecido o caráter; ele guardava intacta a sua extrema sensibilidade, que, como uma fênix, renascia mais pura que nunca cada vez que era maltratada e morta. Enfim, se acreditava razoavelmente em si mesmo, esforçava-se por não acreditar demasiadamente, por não concordar facilmente com o que ele próprio pensava, pois sabia como as palavras do nosso espírito gostam de nos prestar serviço e nos reconfortar logrando-nos." 


De Martin Page, lido faz alguns dias.

fala por mim:

"Tem horas em que o que eu mais quero é desabafar com alguém. alguém que eu sei que vai me entender e me dar um pouco de colo, e que não vai me dizer o que estou cansado de ouvir e saber, até porque eu não espero ouvir nada que modifique o estar das coisas. então eu olho pros lados e... a única pessoa que poderia, no fundo, não tá nem aí, tem mais o que fazer."
















Achei aqui.

hoje: sexta

Sair com os amigos. Barzinhos. Alcoólicos. Cigarros. Conversas que duram horas. Piadas sem graça. Imitações. Coloca gasolina, escuta algumas músicas no carro. Pára no encostamento, precisamente na ponte. Passa os olhos pelo lugar, bela paisagem quando se anoitece. Então é isso, sexta. O que vai ter? O As deve sair com o namorado. A Ally deve permanecer com os livros enfiados na cara ou vice-versa. Ela quer ser juíza, te contei?
Eu quero saber de você, o que você vai fazer hoje? Então, reservei mesa para um naquele restaurante famoso do centro. Eu sei, eu sei, o lugar não é um dos melhores, mas eu gosto daquela música calma que os cantores apresentam. Aquela que me deixa menos ridículo por ser o único a sentar numa mesa para quatro, ocupando apenas uma cadeira. Se você quiser eu... Não, você tem seus programas, seus amigos, e a gente nem se conhece direito. O meu celular quebrou, eu joguei fora, se não te daria meu número. Por que fez isso?
Não sei, cansei de tecnologia. Se meu celular servia apenas de despertador, melhor eu comprar um despertador. Aposto que devem ter ligações perdidas. Se eu fosse você apostava em permanecer com esse corte de cabelo, te deixa mais bonito. É sério. E outra, nem me procura nas redes sociais, deletei todas as minhas contas. Só existo como antigamente, se quiser me mandar uma carta eu te passo meu endereço.

dois mil e sete

De você só ficou uma coisa. Recordação não, minha memória é fraca, te avisei, não avisei? Eu falo daquela foto que você me entregou um dia antes de eu terminar com você. Foi por bobagem? Provavelmente. Eu tinha lá meus dezessete, você quase vinte e três. Me julguei novo demais para viver o amor que você tinha me proposto, e te julguei corajoso por querer arriscar-se em mim depois de tantas feridas. Me faltaram forças para dizer sim, mas eu disse. Quase quatro meses. E depois ficamos naquele vai-e-vem, chove não molha, vive não vive, era engraçado, triste, cruel da minha parte. Durante dois anos fiquei nessa indecisão, sem saber direito o que sentia, porque você tinha sido o único. E eu ficava me perguntando: haverão outros? E se passaram meses, anos... e não chegaram outros. E eu ligava: volte. E você voltava, vinha correndo. Até que um dia você encontrou alguém. Eu tive então certeza que de haveriam outros, ainda que até hoje não tenha aparecido nenhum. De você ficou isso de bom: esperança. Não sei se ela vai durar. Tento dar de comer a ela todos os dias, mas não é tão fácil assim. Ela se alimenta de algo que custa caro no mercado, sabe como é?

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Pela manhã.

Acordei hoje com sintomas de gripe, mas não havia dor no corpo e com o nariz estava tudo bem. Fui até o espelho e notei que meus olhos estavam vermelhos. Era como se eu tivesse passado a noite acordado, mas me lembro muito bem de ter ido dormir, e de ter pegado no sono logo. Sentei na cama e me senti tão inútil, tão sem fé... minha unica vontade era de ficar ali, encostar a cabeça no travesseiro, e pegar no sono de novo, nem que fosse de leve. Mas, eu tinha obrigações. Um horário para chegar no trabalho, e fazer toda aquela mesma coisa de sempre, para receber a quantia que pagaria a faculdade no fim do mês. Eu achei que me divertiria mais, sabe? Que eu acordaria sempre antes da hora, ansioso para chegar no trabalho, sem saber o que iria acontecer, mas há sempre uma mesa reservada, uma cadeira, um computador. Tudo igual. E no trabalho, eu sou só o cara incompreendido que prefere ler livros sobre suicídio, do que falar sobre o cotidiano da terra como os demais. O cara que espera todo mundo sair da cozinha, para então ir lá... esquentar duas fatias de pão integral e comer com leite. O cara que ninguém sabe onde mora. Se precisa de meia hora de conversa, um abraço ou se está perfeitamente bem como está. O que não fala nada, além de "bom dia" e "estou indo embora". Resumindo, nada. E não sei se quero passar uma imagem diferente. Parece estranho?
Às vezes, sinto uma necessidade enorme de me sentir incluso. Na maioria, prefiro passar despercebido. Eu quero me encaixar em grupos que tenham interesses parecidos, gostos parecidos. Não consigo forçar relações onde eu tenha que falar sobre o que não gosto, o que não me atrai, daí... fico ali, de escanteio. Voltando aos meus olhos vermelhos, sentado na cama, lembrei do sonho que tive. Não sei bem o motivo, mas eu havia chorado durante as cinco horas em que permaneci dormindo. Alguém tinha morrido, eu tinha pedido demissão, trancado a faculdade, encontrado o amor da minha vida, não sei.  De fato, não havia sintomas de gripe. Era pior que isso.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

É sempre assim:

ele chega, aperta minha mão, dá dois tapinhas nas minhas costas, senta do meu lado e começa a puxar assunto. literatura. cinema. música. arte. e outras bobagens. pede uma, ou mais doses de vodka. e continua. às vezes um aperto na coxa direita, seguida de uma risada ao pé do ouvido. e canta, canta qualquer música que lhe venha ao pensamento. e é uma voz bonita de se ouvir, e dá vontade de ficar ali por horas, mas ele logo cessa a cantoria e faz jeito de tímido. olha pros lados, vê se ninguém está o observando e começa de novo. eu fico tentando acompanhar o ritmo, improvisando algumas batidinhas na mesa. perguntam se estou com ele, e antes que eu responda qualquer coisa, ele se adianta: é só um amigo. E então me pergunta se eu já fiquei com pessoa tal, como vão os estudos, o coração. pronto. chegou ao assunto certo. meu coração vai bem, respondo. não vai não, eu penso. ele balança a cabeça positivamente. a noite termina, ele se despede de mim com um abraço longo e fala que deveríamos sair mais vezes.

é sempre assim: eu fico esperando que a gente saia de novo, quem sabe dali há poucas horas, e isso só acontece de mês em mês, vai entender.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Cada coisa em seu lugar.

Você que tanto pede, já fez o suficiente para merecer? Ou é só um desses errantes que perambulam pelas cidades, exigindo seus direitos sem nada fazer? Às vezes, o sensato é se fazer de desentendido, que tristeza nenhuma existe e procurar seguir em frente, com a maior carga de otimismo que couber na sacola. Disseram que eu devia me perder para me encontrar, aliás, não só me disseram, como pude ouvir em algumas canções. Não, não lembro quais, mas ouvi por aí, tenho - quase - certeza disso. Já no meio do sono, eu li alguém escrevendo 'você tem aquilo que merece' e fiquei me perguntando e me debatendo na cama, se eu realmente merecia toda aquele amontoado de coisas erradas que tinha virado minha vida, até que no meio da noite, alguém sussurrou no meu ouvido que eu devia deixar pra lá. E eu acordei deixando. Fazendo o que tinha de ser feito: ergui a cabeça e enxuguei os olhos molhados na manga da camisa. E arremessei-a no cesto, junto com as demais. Até que em uma conferência completa pelo meu quarto, descobri que: havia uma pilha de roupas sujas, copos usados, escovas de dente e toalhas molhadas. Eu tinha que reavaliar minha vida como um todo. Estava tudo fora de lugar; Objetos, cacos de vidro e coração.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Felicidade é

arriscar. É matar o tempo arremessando argolas em um pote de vidro vazio, tentando fazer com que o mesmo transborde e assim permaneça, pelo máximo de tempo que conseguirmos. É tentar abstrair os demônios que nos perseguem, e enxergar a luz onde as pedras já alcançaram as luminárias de teto. Felicidade pode ser branca, preta, azul, roxa, só depende de nós mesmos pintarmos como quisermos. É sentimento que se exige, mas que geralmente não fazemos por onde. Nos acomodamos em nossos sofás, e esperamos que em um belo dia, este venha a bater na nossa porta, de maneira incessante, arrombando, nos trazendo conforto e paz de espírito. De fato, não há mapa para encontrar tal tesouro, mas geralmente, a felicidade que procuramos está tão perto e tão óbvia, que acabamos a ignorando e achando que devemos procurá-la em locais úmidos e de difícil acesso.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Amor é um feitiço?



Mesmo com personalidades distintas, seus cavalos andaram, menos o meu. E agora, olhando por essa janela, me pergunto se não deixei minha chance passar, ou se de fato - espero que assim seja, esperançosamente - ela ainda não bateu à porta de minha casa. Logo eu, que gosto de dar flores, escrever cartas e sonho com todo tipo de conversa embaixo de uma cerejeira, ainda não encontrei de fato, o tolo que vai arrematar meu coração pálido, que luta contra a correnteza para bater sem parar, ainda com sucesso. Talvez o que deva ser feito, é parar de me comparar aos demais. Talvez quando parar de me preocupar tanto em ir ao cinema com o tolo - ainda anônimo - ele vai aparecer, assim, como quem não quer nada, me perguntando as horas, ou dizendo que me observava há muito tempo. Mas então, me pergunto se o amor é assim mesmo, chega sem fazer barulho, sem que eu precise me esforçar, suar um pouquinho que seja. Ou se ele é de fato, uma ratasana traiçoeira que precisa ser encontrada, e não sendo suficiente, ser capturada e enfeitiçada. Logo eu, que nasci tão independente, me sinto como se precisasse de alguém para atravessar a rua, ou que me leiam um conto de ficção para poder, enfim,  pegar no sono. E começa aquela luta entre a verdade e a mentira, entre o problema ser eu ou o pobre lerdo do destino. Estarei me fazendo interessante o suficiente para atrair olhares da multidão? Ou eles estarão me vendo como um belo mocinho feliz, de aliança no dedo e compromisso marcado? Dá vontade de sair pelos quatro cantos do mundo e ver qual é a dessa necessidade emocional, se é frescura de um pós-adolescente, falta com o que se preocupar ou quem sabe, de fato, personagem de uma história de amor, onde descubro ter câncer nos rins e morro ao encontrar o tolo (e por que não lento?) parado em frente a uma livraria na Espanha.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Falar ou calar?

Nunca soube descrevê-lo facilmente. Cabelo curto não tão preto, um corpo não tão atlético, mas o sorriso... ah, esse era de pausar o tempo. O encontrei algumas vezes parado ao lado de algum bar, e era sempre a mesma conversa: olhares se encontrando, a boca mexendo devagar, ensaiava cumprimentá-lo, mas não passava disso... eram só ensaios e nenhuma palavra dita. Eu ficava em casa tentando imaginar como devia ser o som daquele riso quando instigado com uma piada cretina. Se ele iria atender as minhas necessidades, se me acharia agradável nos horários incovenientes, se eu seria de grande ajuda, ou se pioraria ainda mais a sua vida. Mas, não passava disso, imaginação explorando os quatro cantos do seu corpo, mas não... nem chegou a acontecer de fato. O máximo que chegamos a estar perto, foi quando sentamos em mesas próximas. Eu tentava ouvir a sua voz, mas a música alta não deixava. Eu queria ir lá, dizer meu nome, mas os meus pés travavam, não saíam do lugar, não me obedeciam. Pensei em acenar, mas minhas mãos estavam suando, iria sair um sorriso amarelo, e com certeza não iria passar aquilo que eu gostaria, ficaria uma coisa tímida seguida de uma coisa pálida, é... que bom que permaneci apenas olhando. Eu lia nas entrelinhas, e éramos tão parecidos, com dores tão iguais que pareciam se completar, e até deveriam... mas eu não sabia se ele estava disposto a me deixar ver as feridas, e muito menos, se as deixaria aos meus cuidados. Eu queria... queria dizer que ele me chamava atenção, e não era só o seu sorriso, ou o seu cabelo, ou a sua fotogenia em fotos... era todo o resto, todo o resto que eu não conhecia, mas morria de curiosidade em conhecer, cada particularidade daquele braço, daquela perna, daqueles olhos um pouco cansados, daquelas mãos... mas, não tenho coragem suficiente, nunca tive, e provavelmente, nunca irei ter. Acho melhor deixar assim, sempre que eu tento ser sincero, acabo piorando ainda mais a minha situação. E ele? Bem... talvez ainda tenha que lidar com outras pessoas antes de vir me procurar.

domingo, 2 de janeiro de 2011

coisas que você deve saber sobre mim

eu prefiro o legendado porque dói na alma dublagem escrota. me animo no escuro, me entristeço no claro. jogo a roupa suja em cima de vidros quebrados e durmo quase que nu. pareço simpático, e geralmente tento ser. ajudo, e se não pedir ajuda, eu acabo ajudando assim mesmo. acumulo rancores, nunca esqueço um tapa na cara. minto dizendo que amo, talvez um dia isso seja verdade. perco sapatos, mas não da forma com que gostaria. estou preferindo amar coisas, pessoas andam me dando náuseas e embrulhos no estômago. gosto do doce, mas não sei onde colocaram as gorduras localizadas que deveriam estar entre meu umbigo e a minha cintura. tenho a mão feia, isso é o que dizem. nunca recebo elogios, já me acostumei com "bonitinho" e "engraçadinho". não sei dar um jeito no meu cabelo, e quase sempre o decepo com minhas próprias mãos. queria ter um nariz menos batatístico e pernas não tão tortas. procuro não ser totalmente sincero, mas minhas feições sempre me entregam. vivo no mundo da lua, e gosto de lá, porque as pessoas me acham interessante, eu vivo um romance de filme antigo, e tenho em quem apoiar meus medos quando não consigo achar o interruptor da luz do quarto. gosto de mim mesmo, ainda que eu passe o dia inteiro pensando em como seria minha vida se eu fosse branquinho, de olhos claros e tivesse o cabelo cacheadinho.