sábado, 30 de outubro de 2010

Sobre a religiosidade em excesso.

          Há quem se apegue demais a fé, com uma força tão grande, que começa a querer trazer toda uma galera pra essa mesma vibe. Alguns esquecem que diferente de ser gay, religião é uma opção. Se você quiser seguir o budismo será bem-vindo, se quiser ser judeu, ateu, cristão, e etc. Nunca vou sair por aí pregando minhas crenças, tentando converter as pessoas e fazerem elas acreditarem naquilo que eu acredito. Acreditar é uma coisa, saber se está totalmente correto é outra. Você acredita em Jesus, mas pode me mostrar uma foto dele? Tens alguma prova concreta de que ele existiu? E o pai dele, te ouve quando você reza antes de dormir? Se o mesmo é totalmente bom, onde ele está quando crianças são sequestradas e pessoas inocentes morrem? Só acredito na hipótese de Deus existir, se ele for uma criança, pois só isso explicaria os erros e acertos que acontecem a minha volta. Mas, voltando ao assunto, tudo que é exagerado sufoca e mata. Se você quiser sair por aí lendo a bíblia e tentando convencer todo mundo de que só vai para o céu aquele que beber a água divina, a escolha é sua, só não vá depois pedir ajuda ao Diabo quando um raio partir a sua cabeça ao meio. Raio que geralmente, vem do céu.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

I'm here.


          Estava perambulando pela internet, quando encontrei a trilha sonora bem bonita de um filme. O nome: I'm here. Primeiro ouvi a trilha sonora, e sem exagero nenhum, é muito boa, se não for perfeita. Daí, hoje por sinal, acessei o site para ver o filme: http://imheremovie.tumblr.com/ Você não precisa de cadastro, download, nada. Você só precisa clicar e se apaixonar por Sheldon (Andrew Garfield) e Francesca (Sienna Guillory). Quando vi as feições do Sheldon, logo me identifiquei. Um olhar vago, triste, melancólico, monótono. Ele ia do trabalho para casa, da casa para o trabalho. Ele era simpático, cumprimentava todos, mas, não era visto pelos outros robôs. E eu ia assistindo, e continuava me identificando com esse robô. Até que um dia, ele está na parada de ônibus, cumprindo a mesma rotina de sempre, quando vê uma moça rindo (descontroladamente) em seu carro vermelho. Bastou isso. Sheldon estava apaixonado por ela. Em um outro dia, da mesma forma, ela passou, mas dessa vez, estava com amigos no carro. Foi lá na frente, deu meia volta e o chamou para ir à uma festa. Prefiro parar por aqui, o resto do curta é sensacional. Ah, o curta é em inglês. Ainda não pesquisei para ver se alguém resolveu legendar. Mas, mesmo assim é de fácil entendimento. Em uma das cenas Sheldon dá sua perna para Francesca, pronto, parei. Só pra vocês verem como ficou meio complicado pra mim não chorar na hora que estava assistindo. Espero que vocês gostem!


Francesca e Sheldon passeando.



A trilha sonora pode ser baixada aqui: http://nodata.tv/?p=8381
Sem dúvidas, a música mais linda do filme é "There Are Many Of Us" (clica no nome da música para ouvir a canção)

Não podia perder a chance de dar essa dica. Quem já viu, comenta o que achou. Até mais!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Felicidade que incomoda.

         





Bonito para quem tá "IN"

           Seria feio dizer que a felicidade do outro me incomoda? Seria arrogância pedir para que as pessoas felizes me deixassem um pouco de lado? A alegria do outro lembra a tristeza que eu tranco, dentro do meu quarto, quando eu saio para "badalar". Eu seria cretino se recusasse convites para sair por isso? Me diz, eu tenho culpa de sentir essa coisa toda quando vejo um casal de pombinhos? Isso é inveja? Despeito? Fica bonito na foto um casal e o pardal solteirão do lado? Será que não seriam eles que deveriam se preocupar e ter cuidado com a minha fragilidade emocional? Talvez eu só queira achar que estou entre iguais, e não me sentir excluído, mal amado. Não mereço amar também? É castigo? É temporário? Por que vocês todos sempre dizem a mesma coisa? Relaxa meu amigo, isso passa. Passa quando? E por que vocês também não tiveram essa fase? Se somos todos iguais, por que ele merece mais do que eu, ou eu tenho que sofrer mais do que ele? Me diz qualquer coisa, só pra eu poder pousar minha cabecinha no travesseiro e dormir tranquilo, nem que seja por uma noite.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Humanóide.

Eu no dia-a-dia
        

          Sou como vocês. Pele, ossos, orgãos e um coração um pouco desgastado. Vivo de sonhos e morro nos pesadelos. Já quis ser nadador, mecânico, tentei aprender a tocar piano, dedilhar um violão, dirigir carros de corrida, fazer da minha vida um desenho, um filme de romance, de terror, embora hoje seja só drama. Sou como aquele ali que chora, que pede ajuda, que é acolhido por estranhos e levado para tomar sopa. Ou então, como aquele outro, chutado pelos bem afortunados, sendo obrigado a assistir a própria morte, cada dedo arrancado, língua sangrando, e o grito por socorro. Você vai atendê-lo? Você realmente quer ir lá por você, ou por que não tem outra coisa melhor para fazer? Tentei pintar meu quarto de azul, de amarelo, de vermelho, acabou ficando isso, esse cinza desbotado, essa coisa mórbida, sem vida alguma. Seria eu estampado nas paredes do meu quarto? E esses móveis velhos, seriam meus sonhos enfileirados em uma caixa de sapato? A poeira, bem, a poeira certamente seriam minhas lágrimas derramadas todas as noites antes de dormir, às vezes apoiado com o cotovelo na escrivaninha, outras rolando pelo chão buscando uma solução. Uma, duas pílulas antes de dormir, aonde isso vai dar? Onde meus dias irão terminar? Vendo o sol nascer quadrado, no altar ou em um sanatório? Onde esses passos vão me levar? Viu, eu sou como vocês. Não sou uma máquina de fazer rir e nem um robô projetando o lado feliz. Olha aí ele chorando outra vez. Chega mais perto, não é farelo de ferro não, o meu choro é igual ao teu, como já disse, meu coração está meio desgastado, mas ainda funciona, é só abastecer com um pouco desse fluído que tu tens aí no corpo.

domingo, 17 de outubro de 2010

domingos e domingos.

         


          Domingo, o sol está lá fora, o céu bem azulzinho, parece um dia como os outros, mas não é. Domingos parecem que já surgem com uma sombra ruim. Deve ser porque a gente acorda, e pensa: É domingo, não há nada para fazer. Embora sempre tenham coisas para fazer. Os estabelecimentos estão abertos, há lugares para visitar, são as mesmas nuvens dos dias passados, então, por que essa tristeza? Essa melancolia? Durante a semana estamos muito atarefados para refletir, para pensar no quão ruim a nossa (a minha, no caso) vida anda. Estamos estudando, lendo livros sobre diversos assuntos, trabalhando, ocupando nosso tempo com coisas produtivas. Pronto, está aí a solução: ocupar domingos com coisas úteis. Parece ser fácil quando colocada assim, mas junto com os domingos vêm a preguiça, a vontade de não sair da cama. Se não há a obrigação de ir trabalhar, de ir pra faculdade, por que sair da cama? Hoje eu posso simplesmente ficar aqui, mofando, e deixar as outras pessoas lá fora, quem quiser que aproveite o seu domingo. Não, não gosto de ficar trancado dentro do meu quarto ouvindo músicas, que vão me deixar com vontade de não acordar amanhã, longe disso. Mas é o que eu acho que combine com domingos, com esses dias que não fazem a menor importância pra mim. São os cookies, as gorduras saturadas em excesso, o chocolate, os filmes franceses (que você assiste, mas às vezes nem entende, embora não assuma), e o celular desligado que combinam com dias assim, onde nada, nada faz sentido algum. Domingos são como areia nos olhos. E nem há graça em sair na rua, por que não aproveitar um dia, onde você pode imaginar o que quer e fingir ter a vida que gostaria? Nem me lembro que há casais vagando por aí, eu estou no meu quarto, só me depararei com isso se eu quiser. Já que meus olhos nada podem ver, meu coração logo, nada irá sentir. Bem, o brigadeiro com biscoitos está pronto. Telecine Cult na tv. Esse é o meu domingo, espero que não seja igual ao de vocês.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Por simples medo de arriscar.

          Nada está fazendo sentido. Se eu voltasse cinco anos no tempo, eu diria que não estou onde deveria, ou, gostaria de estar. Faculdade de administração? Sério? Não foi você mesmo que disse: "Administração é coisa de gente confusa. Administração? Números? Argh!"? Mas eu estou confuso. Não, você pensa que está confuso, é diferente, você sabe do que você gosta. Eu gosto de artes, verdade, mas se eu não for bom o bastante? Você sabe quantas mentes criativas por aí não são valorizadas? Então é isso, você está com medo? Claro, pro meu trabalho ser reconhecido ele precisa ser diferente, se for comum ou parecido com algo que as pessoas já estão acostumadas a ver, simplesmente vão me ignorar. Vai por mim, você é diferente. Vindo de você, é fácil falar, eu não sei se é você quem está dizendo, ou se é a voz da nossa intimidade. Desperdício, só o que eu posso te dizer. Sua mente criativa está sendo colocada de lado por medo, e isso é infantil. Bem, talvez eu não tenha crescido o suficiente, eu ainda moro com meus pais, lembra? Eu sei, e o seu complexo de inferioridade também não te ajuda muito. Complexo de quê? In-fe-ri-o-ri-da-de. Não precisava soletrar. Só estou tentando fazer você acordar, antes que seja tarde, antes que você esteja completando trinta anos, sentado na frente de um computador, frustrado, decepcionado, infeliz e comemorando aniversários jogando wii. Eu já tentei me destacar, mas eu não acho espaço. Não encontro lugar pras minhas piadas, para a minha personalidade, aí acabo me fechando mesmo. Antes parecer arrogante, do que uma película cinza, algo que nem fede, nem cheira. A própria imagem que você criou sobre a vida, família e amigos já são temas suficientes para te destacar, você só não está sabendo usar isso ao seu favor. Quer saber a verdade? Eu tenho medo sim. Mas não é medo de me arriscar, não, eu tenho medo das consequências. De não dar certo? Também, mas, principalmente, medo de quando as portas começarem a se fechar, eu não ter alguém que vá me apoiar. Um simples "Acontece, na próxima você vai conseguir" já bastaria, mas eu não vou ter essas pessoas, e nem essas frases para me levantar. Essa de você se achar ruim demais para ser importante na vida de alguém, é totalmente incompreensível. E baseado em que você fala isso? Você só está aqui há cinco minutos. Eu? Por favor, você sabe que estamos conversando sobre isso há muito tempo, e quer saber? Estou cansado de você sempre voltar a esse assunto, no final das contas, você acaba voltando pra vida infeliz que você criou pra si mesmo. Só queria tentar denovo, é pra isso que a consciência serve.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Faith



          Em que você acredita? Quando você está sobrecarregado de energia negativa e nada parece fazer sentido, você apóia seus cotovelos na cama e ora? Ora para quem? Você que acredita em Deus, deixa eu te perguntar uma coisa, ele nos ouve mesmo? Deus é bom? Alguém pode acreditar nele, mesmo depois de uma vida achando que ele era apenas uma nuvem qualquer? Já me denominei religiosamente neutro, agnosticista. Já fui cristão, e frequentava a igreja todos os domingos. Hoje em dia, eu não sei. Não costumo rezar, mas costumo conversar com alguém. E esse alguém, às vezes me dá ouvidos, às vezes parece estar dormindo. Se é Deus, eu não posso te afirmar. Ainda que você acredite nele e na sua história cegamente, não há provas. Eu acredito que o mundo não veio de uma explosão idiota, que há um dedo sobrenatural nas coisas, mas não posso afirmar que o culpado pela criação de tudo é esse que vocês tanto falam. Muita gente se agarra a fé, quando se vê caindo em um buraco sem fim, e eu não quero que pensem que eu só passei a acreditar em algo, porque me senti fraco. Algumas pessoas quando se sentem bem e felizes, não se preocupam em acreditar em alguma coisa, mas quando o chão abre-se diante dos seus pés, tudo muda. É hora de apelar pro invisível. E começam as ameaças. "Deus, se você não me ajudar, eu volto a ser uma má pessoa". E começam a testá-lo. "Deus, se você existe mesmo, faz um favorzinho pra mim?". O que eu sei, é que temos que acreditar em algo. Algo que esteja a cima de nós. Algo que talvez o vizinho não acredite, que seus pais não entendam, que pareça baboseira, imaginação fértil. Todo mundo precisa disso, porque chega uma hora que você se vê completamente sozinho. Seus amigos estão ocupados demais sendo felizes, seus pais não sabem um terço do que se passa com você... é só você, e ele. Ele quem? Não sei, isso aí é você quem vai dizer. Não me julgue por desacreditar em seres divinos, que eu te perdôo por ficar uma hora orando em vão. De qualquer forma... aponte para sua fé e reme, seja ela qual for.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Eles não desconfiam de nada.

                                          "Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo, e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos,  dos choros". Caio Fernando de Abreu








          Todo mundo acha que é sintoma de personalidade mal resolvida, timidez, ou até frescura mesmo. Dizem que ele tem medo de falar, por correr o risco de se comprometer. Que ele prefere evitar tragédias a ter que remediá-las, e que prefere esperar deitado do que sair no sol quente e ir à luta. Já o classificaram como frio, devido a calma com que ele dizia as palavras "não dá, não insista" quando terminava o seu primeiro namoro, nenhuma lágrima, nenhum arrependimento ou preocupação. Enquanto o outro enxergava o céu escurecer, ele via aquilo como uma forma de estar livre e assim, finalmente encontrar alguém que o encantasse o suficiente. Ninguém parou um momento e pensou se aquilo doía, se era fácil, se não era só encenação. É tão fácil sorrir quando as câmeras estão filmando. Nos bastidores, entre quatro paredes, o cenário é outro. Coloca-se para fora todo o peso carregado, folhas e mais folhas rabiscadas, qualquer música melancólica para embalar."La la la, do you ever feel emptiness? Are you scared it's gonna last forever?" E come mais um pedaço de carboidrato, e chora, e risca, e bate na tela do computador, grita, esperneia, se enraivece, come a ponta dos dedos, arranca alguns fios de cabelo, se deita na cama, apaga a luz, e a música tocando, e ele querendo que acabe, que cesse, que dê uma trégua, que dor nenhuma vai ser igual, filha da puta. Até que estanca, parece estancar. Do nada, pousa uma fita adesiva, ele passa por cima da ferida e deixa estar. Procura um sorriso em meio aos acessórios, e vai trabalhar. Mais um dia atuando. E na faculdade? Outro dia atuando. Como está? Estou ótimo, diz ele. Nunca esteve, nunca esteve muito bem. Ninguém o lê, ou parece se importar. Bem, com o semblante de quem chorou a noite inteira e não dormiu, é provável que ninguém se importe, o óbvio está ali. E se ele se expor? Ora, ora, nenhuma das pessoas a sua volta lhe dará a solução. Sempre usam do velho hábito de mandar um: relaxa, é só uma fase. Que merda de fase, não? Alguém sabe responder o tempo exato que dura uma fase assim? Alguma maneira de fazê-la  passar mais rápido? Essa de ir vivendo definitivamente não está controlando a vontade de entrar em coma.

Dois iguais.

          Ambos eram impulsivos, rancorosos, discutiam e não sabiam como pedir desculpa. Quase sempre, voltavam a se falar naturalmente, no café da manhã ou no caminho para o trabalho.

- Você lembra daquela loja ali?
- Qual? A cafeteria?
- Sim.
- Claro, a gente se conheceu lá. Como eu poderia esquecer?

          E passavam por cima das desavenças. Mas, não foi sempre assim. Eles eram tão parecidos, que geralmente eram confundidos com pessoas da mesma família, como irmãos. Eles tinham gostos distintos, e naturezas iguais. Definir um, era como definir o outro. Eram almas gêmeas, mas depois que eles terminaram o namoro de dois anos, eu fiquei com receio de encontrar a pessoa certa.

- Eu sempre vou sozinho aos shows das minhas bandas preferidas.
- Eu não gosto de mpb.
- Custa ir comigo? É tão ruim assim estar na minha presença?
- O problema é a música e não você.
- Sei, sei. (desdenhou)

          Ele queria alguém que o acompanhasse nas suas aventuras. Mas o outro era tão medroso, tão acomodado, tão satisfeito com o que vinha, que tinha preguiça de descobrir coisas novas.

- Vem comigo. (puxou ele pela mão)
- Onde?
- É surpresa.
- Não sei...
- Quer saber? Fica aí se entupindo de música internacional, eu cansei. (e se dirigiu até a porta do apartamento)
- Calma, onde você vai?
- Relaxar.

          Ele andou um pouco pela cidade, as mãos acolhidas no bolso do casaco, respirava um pouco ofegante, fazia bastante frio nesse dia. 

- Não sei o que eu vi nele. Acho que confundi as coisas. Eu estava admirado pela forma como ele me abordou na cafeteria, e não apaixonado. Acho que fiquei envolvido, e depois confuso. Com medo de ficar sozinho preferi aceitar a condição dele ser tão diferente de mim. Por dentro, somos assim: cabeça dura, ansiosos, metidos, rancorosos, melancólicos e inseguros. Por fora, nada a ver. Ele gosta disso, e eu daquilo. Nossos desejos não se completam. Como poderiam?

          Ele chegou a conclusão de que não era pra valer. Foram dois anos de tentativas, mas o outro era uma âncora e ele um navio. Precisava de alguém que o guiasse, que estivesse com ele, e não que tentasse desviá-lo ou pará-lo. Ainda que doesse, ele voltou para casa decidido a terminar tudo.

- Ainda bem que você voltou.
- Por que está aí parado? Vem aqui, me dá um abraço.
- Não.
- Não?
- Você veio terminar comigo.
- E como você sabe?
- Eu sabia que isso aconteceria desde o dia na cafeteria.
- Isso não tem fundamento, é impossível.
- Não, não é.
- Tudo bem, e se você sabia que terminaria assim, por que me chamou para sair?
- Eu achei que nossas diferenças não fossem influenciar tanto assim.
- Como você acha que poderia, um namoro de duas pessoas com gostos totalmente distintos, dar certo?
- Você me ama, certo?
- Amo.
- E isso não basta?
- Não. Porque eu amo você quando vai ao bar comigo, só que você diz que bebida alcoólica não é sua praia, e me troca por uma reunião com amigos em algum fast food. Eu entro em lugares alternativos, onde as pessoas fumam e você fica do lado de fora, porque alega não querer respirar fumaça.
- Eu tentei gostar das coisas que você gosta.
- Eu sei. Mas não deu certo. E não vai dar nunca, porque precisamos estar livres para encontrar outra pessoa, e não mudarmos para continuarmos juntos.
- Eu nunca vou conseguir gostar de outra pessoa assim.
- Nem eu. Mas amar não é só agarrar pela nuca e tascar um beijo na cozinha.
- Me desculpa.
- Pelo quê?
- Por ter feito você desperdiçar seu tempo.
- Engano seu. Nunca aprendi tanto com alguém, como aprendi com você nesses dois anos.
- Eu vou dormir.

          O outro permaneceu na sala. Olhando pela janela. Pegou um pedaço de papel e deixou um recado. Abriu a porta e foi embora. Eles terminarem me deixou com medo de me enganar. Felizmente, costumo ser sensato. Não aguentaria ficar tanto tempo com alguém tão diferente de mim. Mas quem sou eu pra dar pitaco  quando o assunto é romance? Ninguém. Um namoro de três meses, outro de um mês, e alguns casos fracassados, é experiência de estagiário. No dia seguinte, o outro acordou bastante cansado, como se havia bebido a noite toda, uma puta dor de cabeça. Achou um bilhete em cima da mesa que dizia assim:

"Volto amanhã para buscar minhas coisas. Por hora, a roupa do corpo é suficiente. E ah, por favor, nunca deixe de abordar as pessoas em cafeterias."

          E foi o que ele fez, até que um dia deu certo. É casado faz cinco anos. Tem finais de semana maravilhosos assistindo filme em casa, ou comendo em fast foods. Ambos não gostam de MPB. Não fumam, e nem se interessam por bebidas alcoólicas. E quando um deles pisa na bola? Ah, rapidinho um chega de mansinho e pede desculpas.

domingo, 10 de outubro de 2010

Ele por ele mesmo.

          Ele vem vindo, fica quieto. Quem? Ele. Ah tá. (alguns segundos depois) Ele parecia um pouco apressado hoje. Verdade. Deve ser o horário, já passa das sete horas. Que horas começa a aula dele? Sete horas. Entendi. Será que ele aparece na hora do intervalo? Quem sabe? Ninguém nunca sabe. Às vezes, ele só vai no banheiro, finge se olhar no espelho, entra em alguma salinha privada, liga a descarga, finge que desce algo, permanece lá parado por alguns segundos, volta, lava as mãos, se olha mais uma vez no espelho, pensa: "não tem jeito" e volta pra sala de aula. Ele deveria saber que tem jeito. Por que você não conta? Sei lá, ele parece ser tão... malvado. Ele poderia acertar uma pedra em você, caso você ousasse cumprimentá-lo. Por isso não me atrevo. Por outro lado, me excita esse lado dele, esse ar de "fodam-se, quem são vocês mesmo?", provavelmente, fruto de amores mal resolvidos. Me parece mais com fruto de amor nenhum. Você lembra daquele dia que ele sentou na fonte e ficou escrevendo? Lembro, ele estava com um semblante bem pior do que o de costume. Ele pensava, escrevia, olhava para os lados, checava se não vinha ninguém ao seu encontro, e depois continuava a escrever. Quase cheguei até ele neste dia. Por que você não foi mesmo? Você está louca? Provavelmente ele me arremessaria na fonte. Você é um pouco exagerado, ele não deve ser tão malvado assim, é só o fruto, lembra? Eu sei, mas ainda tenho um pouco de receio, ele gosta de pessoas surpreendentes, e eu tenho medo de parecer meio monótono. Você não vai precisar de bazuca, duas pistolas e um canivete para surpreendê-lo. Não? Não... você só precisa convidá-lo a lugares exóticos, aparecer na hora errada sem dizer nada, furar um compromisso e ligar cinco minutos depois dizendo que os planos mudaram, essas coisas. Ele é interessante, mas anda de forma comum. Ele se faz de comum, ele só tá esperando alguém chegar e desvendar a porra do mistério, que nem existe, é tudo fantasia, pique-esconde cibernético. Olha lá ele. E não é que ele desceu pro intervalo? Vai lá, fala com ele. Agora? Claro. Como tá meu cabelo? E a minha roupa? Como faço pra chegar nele sem parecer um intruso? Quantas perguntas, é muito simples, só o surpreenda. Anda, vai!

- João? (diz ele meio afoito)
- Sim. (cara de surpresa)
- É... gosta de... pistache?
- Gosto de quê?
- Pistache.
- Nunca provei, é bom?
- É péssimo. Vem comigo, que eu vou te contar uma história.
- Onde?
- Vem comigo.

E saiu puxando ele pela mão. Alguns minutos depois, estacionou o carro na estrada, e o chamou para subir no capô do carro.

- É bonito. (abriu um sorriso) Mas, da onde nos conhecemos mesmo?
- Eu venho te observando a algum tempo.
- É?
- Sim, desde o dia que você passou por mim, bateu no meu cotovelo com a beira do caderno, e seguiu adiante. Vou te contar tudinho.

          Depois desse dia, eu contei pra uma amiga que estava apaixonado, e que tinha encontrado o homem da minha vida, assim mesmo, sem exagerar. Sabia porque não havia incerteza, não havia um só momento que eu me perguntava se era ou não verdade, antes mesmo de saber se daria certo, eu sabia que daria em algo. Hoje você vinha chegando um pouco apressado e comentei com ela...

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Travessia

        

          Doze linhas me separam de você agora. O sinal permanece verde, os carros passam depressa. O que será que você carrega aí na sacola? Será que já fizemos seis de namoro e eu não lembrei? Eu lhe disse certo dia, que minha memória era uma coisa "não elefantal". Aliás, eu te amo. Você ainda acredita nisso? Houveram muitos tapas e portas na cara, flores arremessadas pela janela. Não sei o que me ajuda mais agora, se são os beijos apaixonados na escada do seu prédio, ou lembrar do dia que você se esqueceu do meu aniversário e me deixou plantado, sozinho, naquele restaurante meia boca que você recomendou. Independente do pecado, prevalecia o perdão. Fico feliz que você resolveu me encontrar, mesmo depois de quase sumir na estação de trem e me deixar para sempre Se eu não tivesse segurado seu braço bem forte, o que teria acontecido com nós dois? Quanta demora. É engraçado a forma como você morde os lábios quando está impaciente. Lembra daquele dia no restaurante? Eu lembro muito bem. Nosso pedido demorou horas para chegar, o atendimento estava fraquíssimo, você me culpava, já que eu tinha escolhido aquele local, depois que terminou de comer, se levantou, foi até o gerente e disse que não iria pagar a conta. Fiquei me perguntando na mesa, de onde vinha aquela coragem enfurecida saindo de um poço de insegurança e timidez. Foram os copos de vinho? Perguntei quando você voltou, me puxou e me levou para fora como se fosse um furacão. Você ficou parado, olhando os carros passarem, e começou a rir.

- Eu quero dormir com você.

E tivemos a nossa primeira noite juntos. Eu mal sabia que seria a primeira de muitas, e também que essas muitas ainda amargariam cada pedaço do meu corpo. O sinal fechou, aberto para pedestres, até que enfim. Fiquei lá parado, esperando que você viesse ao meu encontro.

- Oi! Eu disse.
- Quem é? Respondeu sem tirar os óculos escuros.
- Vê aquela estrela ali? É você. Vê aquela ali do ladinho? Sou eu.
- Lucas?
- Eu mesmo. Por que os óculos? Você sempre gostou de exibir seu belo par de olhos castanhos.
- Já te disse, não há nada de incrível nos meus olhos castanhos.
- Mas os seus são diferentes de qualquer outro castanho que eu tenha visto.
- Lucas...
- Diga.
- Eu sofri um acidente de carro.
- Quando? Por que não me contou antes? Você está bem? Acha que devemos sair do meio da rua?
- Eu estou bem... mas é que no acidente... eu perdi a visão.

          Nesse momento, eu segurei a sua mão bem forte (com a mesma força que usei quando não deixei ele partir, naquele dia na estação de trem) e disse que não me importava. Eu já estava com a face encharcada, o coração murcho. E a sua paixão por fotografia? Nossas noites vendo as estrelas? Lembrava de tudo que ele amava fazer e não mais poderia.

- Você está chorando? Ele disse, interrompendo meu pensamento.
- Não.

Ele colocou a mão direita no meu rosto, e disse que eu estava mentindo.

- Sempre um manteiga derretida mesmo...
- Mas é que...
- Eu estou ótimo. Não estamos aqui, juntos?

Eu me aproximei e lhe dei um beijo. Pareceu uma eternidade, e fora mesmo, mas só me dei conta disso horas depois.

- Ei moço. Você não vai atravessar? Quem você veio visitar?
- Como?
- Algum parente seu morreu recentemente?

Eu fiquei calado. Permaneci ali, olhando para o portão, sem saber se entrava e dizia adeus, ou se voltava para casa e chorava mais um bocado.

- Não, não vou atravessar. Ainda não sou forte o suficiente.
- O que tem lá do outro lado?
- Ele.

um vício chamado: escrever

Se eu vivesse de comentários no blog, eu já teria desistido e excluído esse blog há muito tempo. Algumas pessoas fazem um blog no intuito de receber visitas, de serem vistos, aceitos e amados. Confesso que já quis conquistar pessoas com a minha escrita, com meu modo de ver as coisas. Quis receber elogios, críticas, ou qualquer comentário sobre algum texto meu, nem que fosse para dizer apenas "que merda é essa?". Descobrimos que há uma paixão pela leitura, e pela arte de escrever, quando conseguimos nos entregar de corpo e alma a algo que aparentemente não nos traz futuro nenhum. Engana-se quem acha que isso é verdade. Quando volto a mim mesmo em palavras há dois anos atrás, vejo que muita coisa mudou. Ainda que os sentimentos e os problemas sejam parecidos, eu consigo lembrar de forma detalhada das pessoas que passaram pela minha vida quando eu leio os meus textos. Sou fiel ao que eu escrevo, ainda que ninguém vá entender ao pé da letra. Escrever é um alívio imediato e ao mesmo tempo a longo prazo. Você acaba expelindo tudo que te faz mal, antes que isso comece a afetar ainda mais a sua vida. Esse blog não feito para a massa, provavelmente, sem que eu percebesse o fiz para alguém, que ainda não sei quem.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

dias de morte, dias de vida.

há dias em que até acordar se torna um pesadelo. enquanto estamos dormindo, é nos dada a chance de viver aquilo que gostaríamos, e de estar com quem desejaríamos estar. ao acordar, a vida real. as imagens se apagam, e algumas vezes, nós nem conseguimos lembrar daquilo que aconteceu. toda aquela felicidade vira uma imagem desfocada. não sei de onde vem a felicidade sem motivo, mas quase sempre, sei de onde vem as tempestades exaustivas. morrer nem sempre significa estar à sete palmos do chão. a diferença, é que estar morto em vida, ainda temos a chance de reverter o quadro. agora se me permitem, vou colocar o despertador para o ano que vem, e dormir mais um pouco.

confiar de olhos abertos

não era por falta de vontade, ou coragem, mas algumas vezes eu prefiro me armar de qualquer objeto cortante, e mantenho meus olhos bem abertos, mesmo que seja algo aparente inofensivo. é cada vez mais difícil acreditar em inocência, em um lugar onde ela está cada vez mais bem arquitetada. é preferível que se acredite. não dá de saber se o dardo vai atingir o local correto, se não nos arriscarmos a lançá-lo. não há uma forma de saber se alguém presta, se não dermos uma unica chance que seja. não venho de muitos cacos, quando o assunto é amizade, dificilmente me apego fácil a alguém que conheci a alguns dias. sempre leva-se meses ou anos até que uma certa confiança se estabeleça. foi-se o tempo em que podíamos dar a mão, e seguir alguma direção de olhos fechados.

Enquanto hover sangue.

geralmente, vivemos de marés baixas e marés altas. mas já faz alguns anos que eu tento não me aproximar de alguém, embora nunca tenha conseguido. vez ou outra, me vejo precisando de alguém que seja mais do que um amigo, e mesmo tendo conhecido algumas pessoas, nenhuma delas conseguiu despertar algo de diferente em mim. eu tenho que sentir algo de diferente, certo? é isso que o amor faz, não é? eu acredito que algumas vezes seja eu que não estou disposto a amar, outras vezes, são os outros que não estão procurando a mesma coisa que eu. é uma grande incompatibilidade de desejos. é um grande abismo entre o amor e o medo de ser uma enrascada, onde você só vai se ferir, e perder mais sangue, até que não te reste mais nem uma gota para seguir em frente denovo.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Medo

Medo de quê?
De sofrer
Sofrer de amor
De não morrer de amor
De se deixar abater pela dor
Dor de quê?
Da perda
De um ente
De alguém
E a falta...
Falta das conversas sem nexo
O sexo
De noite, de dia
E o cansaço?
Trabalho
Faculdade
Rotina
E a vontade
Vontade de quê?
De mudar
De se deixar levar
De arriscar
De chorar
De apagar
De lembrar
E o querer latente,
De viver
De sentir
De se embebedar
De dia, de noite
Para esquecer
Esquecer o quê?
Do
Dia
Em
Que
Eu
O
Vi
Era tarde, tardinha pôr-do-sol
Ele olhava
Eu retribuía
O medo consumia
Medo de quê?
De amar
E
De
Mais
Uma
Vez
Me
Enganar.

calmarias & furacões

Minha vida é assim, cheia de contratempos, alguns dias me falta o que fazer, somem as idéias, os dias passam voando. Outros dias eu estou atolado de poesia na cabeça, sem saber se exponho, se deixo quieto. Remexo em coisas que não deveria, textos velhos que retratam o passado, passado que eu deveria esquecer, outros que foram importantes, mas de tão importantes me sentiria infeliz se os visitasse. Melhor deixar o passado onde está. Presente é um verdadeiro ninho de ações sem sentido, vou até a esquina, espio ele do outro lado da rua, volto, decido ir lá falar com ele, volto no meio do caminho, assovio, ele olha e eu me escondo. Mando uma carta, mas troco o endereço do destinatário. Fico fazendo de conta que existe alguém, quando na verdade só existe eu e minha incontrolável vontade de achar ele. De senti-lo, toca-lo... amar. Achei que havia amado pessoas erradas, mas me senti feliz quando descobri que não era amor. Fui amado por alguns , e infelizmente, eles estavam certas sobre seus sentimentos, mas eu não. E sempre que eu refletia, e existia aquele imenso ponto de interrogação, estava mais do que claro que era perca de tempo, quando a gente ama não há pontos de interrogação, só reticências e pontos de continuação. A dúvida é a incerteza, e o amor é certeza na mais pura essência. Há dois anos atrás eu abria um blog com o intuito de expor meus sentimentos, minhas promessas, meus desejos e vontades. De todos os textos que escrevi, poucos foram aquele que terminaram de maneira feliz, que passavam o melhor de mim. Poderia resumir esse blog em tragédias ilimitadas, mas não é algo que eu goste. É o que eu passo, vivo, mesmo não me orgulhando disso, é a verdade, só a verdade. Mas a vida é assim mesmo, ora calmaria, ora furação.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

As pequenas coisas.

Acordei bem cedo hoje, e estava de bom humor. Não diria que acordei sorrindo, mas também não estava com aquela vontade de voltar pra cama o mais rápido possível. Isso é raro, mas eu deveria sentir isso mais vezes. Planejei minha manhã no papel, e por mais que eu detalhasse tudo que eu iria fazer, eu tinha certeza que nada ocorreria exatamente igual. Desci no centro da cidade, de onde segui sozinho até o local onde eu iria fazer meu cartão de passe escolar. É mais prático, mesmo que eu odeie andar de ônibus. E não odeio pelo fato de que a passagem é cara, ou a super lotação, odeio pelo fato de que os ônibus estão em total desarmonia com os meus interesses, ou seja, os ônibus são velhos e mal preparados para encarar a vida social. Estranho, tratei objetos como seres humanos agora, releve. O que eu quis dizer foi... bem, você entendeu. Lá, uma moça me atendeu, e começou a me contar da filha que estava cursando Direito, e iria fazer a prova da OAB. Não me pergunte como a conversa surgiu, ela é daquele tipo de pessoa que puxa conversa com você, sem medo de que você possa dizer "ei, te conheço?" ou "estou atrasado, me polpe do seu blá blá blá". Eu estava no meu melhor dia, e fiquei lá ouvindo a história daquela mulher que só queria contar a novidade para alguém. Uma filha esforçada, se matando de estudar, o seu orgulho, e tudo mais. Não sei se conseguiria contar algo de mim assim, a algum estranho que aparecesse na minha frente, quem sabe um dia eu tente. Ela é espontânea, eu queria ser assim também, vou colocar isso na minha lista de personalidades a engolir com água depois do almoço. Me despedi, coloquei os fones de ouvido, dei play e tocava Britney Spears. Não me pergunte o quão gay é ouvir Britney, e estar com aquelas sandálias no pé. Esqueci o nome dessa bendita sandália, mas é uma de estilo bem característico, daquele tipo que diz "oi, sou gay" quando na verdade diz "oi, tenho estilo." As pessoas confundem tudo... recalque, recalque.  Subia e descia das calçadas, sem me importar se alguém me via naquele momento, e acredite, havia tantos carros e pessoas nas ruas, que eu não devo ter passado despercebido. Entre alguns agudos com minha voz barítona e outras topadas na rua, cheguei ao supermercado. Peguei minha fatura, e descobri que conseguiria pagar todas as contas este mês. Que felicidade, meu nome nunca, nunca vai sambar no SPC. Tá amarrado três vezes. Voltei cantando Stronger, me sentido o solteirão mais feliz e forte do mundo. Observei as pessoas, avistei alguns caras bonitos, tentei jogar um charme, mas abortei a missão, porque charme é algo que eu não tenho tido tempo para aperfeiçoar, se é que há como fazer isso. Comprei um milkshake de capuccino, e nem me arrependi depois de ter degustado todas aquelas colorias em um copo de 500ml. Se for doce, eu só compro se for muito, porque eu sou viciado, e se eu vou contra meus vícios, querido, dou murro em mim mesmo quando chegar em casa. Quase vim andando pra casa, mas o sol atrapalharia minha felicidade repentina, provavelmente queimaria todinha em alguns segundos. Fiz um passeio de ônibus me sentindo bem, como se tivesse a felicidade nas minhas mãos, toda comprimida dentro do meu coraçãozinho. CO-RA-ÇÃO-ZI-NHO, mais gay que ouvir Britney.  Ainda que tenhamos que fazer coisas chatas, como pagamentos de contas, acredite, mesmo doendo no bolso quando o dinheiro sai, se feito com bom humor te remete a uma felicidade de dever cumprido, de manhã não desperdiçada em horas de sono. Agora sai dessa cama, que dormir demais engorda.

sábado, 2 de outubro de 2010

Ruínas.

Ainda que eu tente sorrir, tudo sempre acaba assim: em ruínas. Eu me pego sorrindo por todas as partes, e assim que os remédios deixam de fazer efeito, eu começo a falar sozinho. Esbravejo, peço, rezo, procuro por respostas, dou com a cara no muro, me olho no espelho, outro murro, tudo sangrando, mãos, peito, coração. Cuspo minhas tripas no chão. Ruínas, é tudo que há dentro de mim agora. Demorei tanto tempo modelando meus sentimentos, e agora eles estão voando, embaralhados em algum lugar do meu inconsciente. E não é culpa de ninguém, nem de mim mesmo. Em quem devo desferir um tiro? Meu coração virou giz de cera, cor de cinza, como se estivesse vivendo em meio a fumaça, no escuro. Não sei uma maneira de consertar ou quanto custa, se há vida que se renove aqui dentro, se há um jeito de expelir esse mal que corta, faca pontiaguda, infinidade de cacos de vidro roçando além da epiderme. Eu não encontro uma maneira de ser um pouco feliz, além desses remédios, que me visitam vezenquando. Um dia desses, ainda vou morrer a caminho da farmácia.