domingo, 6 de setembro de 2009

o teatro para um

E então apagaram-se as luzes, a escuridão tomou conta do lugar, nada podia se enxergar. Estava apenas eu, sozinho no teatro, tentando visualizar as cortinas vermelhas. Havia apenas uma luz que indicava a saída, mas eu estava imóvel. Minha parceira já havia saído do teatro, não lembro o que a disse, mas pedi que me deixasse a sós com aquele monumento gigantesco. Apesar de ser o único ali dentro, eu não me sentia sozinho, os personages daquela peça ainda estavam impregnados nas paredes, nas decorações, nos grandes lustres, nas cortinas vermelhas, no teto, no chão, nas cadeiras à minha volta, em meus olhos. Há tempos não assistia algo que desfocasse a minha atenção das coisas supérfluas que me rodeavam lá fora. Os problemas, a rotina, e até a minha parceira costumavam me esgotar psicologicamente. Eu precisava de um grito de alívio, de ar puro, de água vinda direto da fonte, de céus azuis, e encontrei tudo isso neste local oval, pelo menos eu o vejo assim, oval. Confesso que acho um pouco injusto existir um número total de cadeiras em um teatro, embora tenha que reconhecer, que poucas pessoas estão interessadas neste espetáculo. É um misto de dor, alívio e felicidade, bem.. eu não explicar. A peça? O nome pouco importa. O que está por trás da peça, das falas, das encenações, das tiradas engraçadas, tristes, poéticas, é o que conta. Podia se chamar "O Lixo", e eu diria que nunca tinha visto um lixo tão bonito, límpido, e com um cheiro agradabilíssimo. Não, só mais um pouco. - pedi ao estranho que tocava o meu ombro, mas ele não parou. É hora de fecharmos o teatro senhor, amanhã ele abrirá denovo, se quiser pode ver a peça outra vez. - avisou o nobre rapaz, me cegando com a sua lanterna focada em minha face. Amanhã eu não venho, sentimentos como esse só experimentamos uma vez, não é como o amor, que pode ser sentido de várias formas, maneiras, dimensões e sentidos. Valeu a pena gastar a minha última miséria de dinheiro. Agradeci o rapaz da lanterna, e me dirigi a saída do teatro. Quero sentir mais coisas assim, que se desprendam de mim. - pedi olhando para o céu. Espero que alguém aí consiga me ouvir.

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