domingo, 20 de setembro de 2009

clarice

Não Clarice, isso não é de comer. Nao têm mas, nem meio mas. Precisava se sentir viva, achou que conseguiria isto comendo um coração de verdade. Eu preciso muito, o meu coração foi estraçalhado por algo muito estranho, talvez um carnívoro qualquer.. não sei, ela dizia. Eu a aconselhava de todas as formas, mas não surtia efeito algum. Ela estava determinada a experimentar do músculo humano, e na pior das hipóteses, um animal poderia satisfazê-la facilmente. Eu tinha um certo medo de Clarice, mas sabia que ela nunca me faria mal, eu até tentava entender toda essa sede que ela tinha dentro de si. Ninguém sabia de sua dor. Clarice sofreu diversas vezes. Primeiro com a morte de sua mãe, a sua única e melhor amiga desde sempre. Tentou fazer amizades, mas elas sempre se diluíam. Muitas se cansaram das piadas da garota, outros simplesmente acharam mais prazeroso conversar com alguém imaginário, feito de nada. A companhia de Clarice pouco era necessária para os outros, ela entendeu.. e se fez necessária para si mesma. Um egoísmo foi se formando, consolidando, sendo polido.. sem que ela mesma notasse. Quando caiu em si, já não enxergava as coisas com os mesmos olhos serenos de antes. Se olhou no espelho certa manhã, e se viu abatida, como se tivesse chorado a noite inteira, como se tivesse perdido noites e noites de sono, mas nada disso havia acontecido. A sua rotina era a mesma de antes, a mesma de sempre. Não fazia questão de ser educada, mas era. Não fazia questão de sorrir, mas elaborava alguns sorrisos para a platéia se sentir satisfeita. Não se reconheceu. Achou que havia perdido seu coração, em algum lugar da sala, ou do quarto quem sabe. Se alimentou de alguns poucos corações, de emoções alheias, tentou sentir os mesmos sentimentos, mas.. coração algum iria resolver o seu problema. Ela tá decidia a encontrar o seu eu interior denovo, ela não gosta de enxergar uma sombra quando vai pentear os cabelos na frente do espelho.

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