quarta-feira, 22 de setembro de 2010

terno e gravata.

Eu estava andando pela cidade, um pouco cansado, um pouco de fome, comprei uma barra de proteínas e sentei na praça para assistir a pressa alheia. Fiquei tentando imaginar, brincava sobre o destino que as pessoas buscavam, algumas deveriam estar querendo chegar logo em casa para ver alguém, outras correndo para uma liquidação. Tentei imaginar outra coisa e fui interrompido.

- Oi...

Pareceu tão próximo, embora não achasse que tivessem falado comigo, eu me virei. Não o conhecia, mas ele vestia terno e gravata, parecia um promotor.

- Você estuda Direito? Já se formou? É advogado, então?

Ele estranhou tantas perguntas. Eu me esqueci de retribuir o "oi" e fiquei parecendo arrogante. Resolvi recomeçar a conversa.

- Você quer se sentar? Está um pouco sujo, se quiser

Ele sentou, nem colocou algo no banco para não sujar seu terno, que parecia tão limpo.

- Eu estou estagiando ali naquele prédio.
- E você gosta de Direito?
- Claro. Você não?
- Eu gosto, mas não é minha praia. Eu prefiro sentar e escrever.
- E sobre o que está escrevendo agora?
- Depois te mostro. Vamos conversar.
- E você, cursa o que?
- Eu estudo Administração.
- E você gosta de Administração?
- Nem um pouco. Estou tentando me acostumar, mas estou é desacostumando a viver.
- Por que?
- Estou me tornando meio amargo.
- Por causa do do curso?
- Acho que tem a ver.
- E o seu trabalho?
- Também não é a minha praia.
- Mas você gosta?
- Não. Mas, preciso pagar a faculdade, certo?
- Estranho. Você já parou para pensar em tudo isso? Você estuda algo que não gosta, e trabalha em algo que não gosta, para sustentar um sonho que não é seu. Não faz sentido.
- Nunca pensei nisso dessa forma. Você está certo. Mas, não sei o que fazer. Acho que tenho medo de sair da zona de conforto, e quebrar o resto das esperanças que restaram.
- Esperança não é como uma garrafa de coca-cola que se acaba, e não pode mais ser preenchida.
- Se eu cair, eu não tenho quem me levante, sabe?
- Você certamente já deve ter caído outras vezes, e deve ter se levantado sozinho, apenas esqueceu isso.
- Você não está atrasado?
- Acho que meu chefe vai entender.
- Entender, o que?
- Sei lá. Acho que eu estou onde eu deveria estar.
- Você sempre aborda gente desconhecida na rua?
- Você não é um desconhecido.
- Não?
- Pelo menos não visualmente.
- E onde você já me viu?
- Você ficaria assustado se eu te respondesse. Já te vi em quase todos os lugares dessa cidade.
- E como não lembro de você?
- Não sei. Talvez, porque você deve estar tão preocupado em procurar, que se esquece de observar. Sabia que parando para olhar um pouco ao redor, você acaba encontrando aquilo que deseja?
- Eu parei aqui para observar e ainda não achei o que eu procuro.
- Então olha mais um pouco, eu vou ficar aqui, quando achar, você me avisa?

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