- Esqueci a pasta de amendoim.
- Desde quando você gosta de pasta de amendoim?
- Oi?
- Eu perguntei, desde quando você gosta de pasta de amendoim.
- Desde que eu te conheci. Não lembra?
- Bem...
- Você não lembra, né?
- De verdade? Não. rs
- Há dois anos atrás, quase nesse mesmo bosque, nosso primeiro piquenique...
- Ahhhh...
- Lembrou?
- Eu lembro que choveu, e tivemos que sair correndo.
- E o resto?
- Que resto? Daí dormimos na sua casa, e combinamos de vir de novo no próximo final de semana.
- Você não lembra por que choveu?
- E eu lá vou saber porque diabos choveu naquele dia, João.
- Foi a pasta de amendoim.
- A pasta de... Você tá querendo dizer que a pasta de amendoim causou aquele "aguaçeiro" todo?
- Lógico. Foi só eu te oferecer o pote, e o céu desabou em cima de nós.
- Deve ter sido o fato de eu não ter aceitado sua pasta de amendoim.
- E hoje?
- Hoje não deve chover, você já viu o solzão que tá lá em cima?
- Não, digo, hoje você vai aceitar a pasta de amendoim?
- Talvez.
- Talvez sim, ou, talvez não?
- Os dois.
- Você nunca tem uma opinião formada, nunca.
- Eu disse sim quando você me pediu em namoro.
- E quando foi isso?
- Ontem, quando você me buscou na faculdade.
- Tem certeza?
- Claro. Eu lembro que você entrou, você já veio reclamando do novo professor, da pressão que as bactérias faziam sobre você, daquela mulher que senta do seu lado e fica perguntando as horas de meia em meia hora.
- Sim, disso eu lembro, e onde fica a parte que você me pedia em namoro?
- Então, eu te interrompi e te entreguei uma caixa. Você ainda não abriu?
- Calma aí.
E abriu a bolsa atrás da bendita caixa.
- Essa aqui?
- Não.
- Essa?
- Não, ela é vermelha, tem uns detalhes que não sei definir direito, algo meio moderno underground, sei lá!
- Acho que sei onde eu coloquei.
- Onde?
- Deixei na escrivaninha, para abrir depois que chegasse em casa.
- Você não é nenhum pouco curioso, hein?
- Pelo contrário.
- E então, por que não abriu?
- Eu tava ocupado escrevendo uma coisa pra você.
- Pra mim?
- Sim. Coloca a mão no seu bolso.
João tirou um papel do bolso que dizia, mais ou menos assim:
"Eu aceito ser parte de você, como você é parte de mim. Eu aceito sua pasta de amendoim."
- Hahahahaha...
- Não gostou?
- Desde quando você sabe fazer rimas, Gabriel?
- Ahhhhh, seu bobo!
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