quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Eu estou parado aqui agora, em frente a sua casa, não sai se saio e bato palmas, chamo teu nome e ouço tudo denovo, ou se me manco de vez, e aceito, de cabeça baixa, tudo o que você disse pra mim. É que eu não concordo em alguns pontos. Eu não fui frio, não fui exageradamente carinhoso, e nem super protetor. Eu só estive do seu lado quando precisou, me calei quando achei que era conveniente, e cuidei de você quando chorava de madrugada sem parar, e sem me dizer o motivo. Nunca te cobrei reciprocidade em tudo. Não fazia questão de que você dividisse comigo todas as suas histórias, e nem que me contasse seu dia detalhadamente. Deve ser por isso que eu sentia sempre um buraco, como se a chave nunca se encaixasse na porta, como se nunca o sol estivesse bonito o bastante. Deve ter sido pela sua falta de zelo comigo, as vezes que você me deixou na cama falando sozinho, ou os aniversários de namoro que você sempre esquecia. E a culpa é toda minha, no final das contas. Bem feito pra mim que me entreguei, que deixava você me fazer de babaca, pela frente e pelas costas, que dormia na hora que você se recolhia, e que acordava na hora que você precisava ir pro trabalho. As camisas passadas, as torradas, o café quentinho, tudo feito com amor e levado até sua cama. Como eu fui trouxa, e como você tem razão em tudo que disse. Eu pequei, e pequei demais. Mas não pequei por me ceder totalmente aos teus desejos, eu pequei por servir de boneco para alguém que nunca disse "obrigado", que nunca sentou do meu lado e fez carinho, só por fazer. Que me deixava trancado do lado de fora, que rasgava os meus ternos na raiva, pratos e mais pratos no chão. Ainda que eu te sinta rasgando todos os meus orgãos, todo santo dia, toda santa noite, e ainda que eu peça desesperadamente para você sair de dentro de mim, eu te desejo toda a paz do mundo, te desejo tudo o que for necessário para que você viva os seus dias, lembrando de tudo isso que você chama de "merda" e que na verdade, deve ter sido a melhor coisa que aconteceu na sua vida. Ainda bem que eu bati palmas, eu precisava dizer isso na sua cara.
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