terça-feira, 12 de outubro de 2010

Eles não desconfiam de nada.

                                          "Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo, e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos,  dos choros". Caio Fernando de Abreu








          Todo mundo acha que é sintoma de personalidade mal resolvida, timidez, ou até frescura mesmo. Dizem que ele tem medo de falar, por correr o risco de se comprometer. Que ele prefere evitar tragédias a ter que remediá-las, e que prefere esperar deitado do que sair no sol quente e ir à luta. Já o classificaram como frio, devido a calma com que ele dizia as palavras "não dá, não insista" quando terminava o seu primeiro namoro, nenhuma lágrima, nenhum arrependimento ou preocupação. Enquanto o outro enxergava o céu escurecer, ele via aquilo como uma forma de estar livre e assim, finalmente encontrar alguém que o encantasse o suficiente. Ninguém parou um momento e pensou se aquilo doía, se era fácil, se não era só encenação. É tão fácil sorrir quando as câmeras estão filmando. Nos bastidores, entre quatro paredes, o cenário é outro. Coloca-se para fora todo o peso carregado, folhas e mais folhas rabiscadas, qualquer música melancólica para embalar."La la la, do you ever feel emptiness? Are you scared it's gonna last forever?" E come mais um pedaço de carboidrato, e chora, e risca, e bate na tela do computador, grita, esperneia, se enraivece, come a ponta dos dedos, arranca alguns fios de cabelo, se deita na cama, apaga a luz, e a música tocando, e ele querendo que acabe, que cesse, que dê uma trégua, que dor nenhuma vai ser igual, filha da puta. Até que estanca, parece estancar. Do nada, pousa uma fita adesiva, ele passa por cima da ferida e deixa estar. Procura um sorriso em meio aos acessórios, e vai trabalhar. Mais um dia atuando. E na faculdade? Outro dia atuando. Como está? Estou ótimo, diz ele. Nunca esteve, nunca esteve muito bem. Ninguém o lê, ou parece se importar. Bem, com o semblante de quem chorou a noite inteira e não dormiu, é provável que ninguém se importe, o óbvio está ali. E se ele se expor? Ora, ora, nenhuma das pessoas a sua volta lhe dará a solução. Sempre usam do velho hábito de mandar um: relaxa, é só uma fase. Que merda de fase, não? Alguém sabe responder o tempo exato que dura uma fase assim? Alguma maneira de fazê-la  passar mais rápido? Essa de ir vivendo definitivamente não está controlando a vontade de entrar em coma.

4 comentários:

Juliane Rocha disse...

adorei mesmo. :)

gema disse...

Eu godto de todods os textos

Não é fa cil escrever e se expor

mas vc escreve, não conta muito de si mas escreve
já é alguma coisa....

Posso dar sugestões para post?

Gema

Caio. disse...

Pode sim Gema. E pode ser que não, mas há muito de mim nos meus textos, ainda que nas entrelinhas.

=)

x disse...

as pessoas não percebem tristesas,querem a felicidade transbordando em nossa face,mas nem sempre somos ''sorrisos''.
adorei as palavras, Caio F. Abreu sempre presente.
seguindo aqui.