sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O estraçalhado e o esparadrapo.

Scott sempre foi assim: diferente da maioria, sempre com opiniões contrárias da "massa", e quase nenhum amigo em volta. Nunca conseguiu se encaixar, e nem queria. Não se achava tão quadrado, e nem esperto o suficiente para conseguir "dominar" outra pessoa. Para se entrar em um grupo de amigos é preciso que você se encaixe, e ele não sabia como fazer isso, e até tinha um pouco de preguiça. Achava que amigos se conquistava naturalmente, ao ar livre, sem pressão, ou puxa saquismo. Além de ter idéias diferentes, e um gosto peculiar para tudo, ele era tímido desde que se entendia por gente. Sempre se achava um pouco atrasado, ou um pouco adiantado perante a sociedade, mas nunca esteve no presente. Quando não era seu gosto musical por músicas "oitentistas", era a sua forma de ver a vida que dispensava qualquer tipo de artifício tecnológico. É meu senhor, a tecnologia só distanciou ainda mais as pessoas. Costumava entregar cartinhas aos amigos na porta de casa, hoje em dia, não precisa vê-los, apenas um email e tempo para digitar qualquer coisa já parece suficiente. Bem, não vamos entrar em detalhes. Sempre puxava algumas pessoas para perto de si com seu humor ácido, e seu mal-humor trabalhado de forma que não desanimasse as outras pessoas. Ainda assim, a maioria delas se desprendia e logo voltava para o aconchego dos amigos cabeça-vazia. Ele também não fazia questão de agradar todo mundo, e dava liberdade para que os amigos que fazia voltassem a qualquer momento para o lugar que os pertencia. E o coração desse rapaz? Dava vergonha de ver em um raio-x. Ainda que colecionasse muitos ferimentos de doer a vista, ele não deixava que isso enrijecesse o seu caráter. Pegava a sua sensibilidade e estocava em qualquer parte escondida do seu corpo. Logo depois, voltava ainda mais sensível e forte, como uma fênix. Era um ciclo que não se acabava. Sofria, se escondia, e voltava, mas nunca, nunca pensou em apelar para o suicídio. Ainda que a vida fizesse questão de esbofetear a sua cara, ele não se dava por vencido, e nem perdia as esperanças de que um dia as coisas iriam mudar. Esforçava-se para não ser um merda, ainda que vezenquando tivesse que cortar raízes sujas que tentavam lhe sugar a energia que continha em seu peito. Vingança é uma coisa, auto-defesa é outra. Sabe se lá quantos esparadrapos fazem parte desse coração estraçalhado. Vou te dizer uma coisa que Scott me contou um dia desses: é difícil espantar os corvos quando se têm apenas duas mãos para tentar fazê-los acreditar que sim, aquele corpo ainda permanece de pé.

2 comentários:

Luh disse...

Esse Scott, realmente, não fazia questão de agradar todo mundo, né?!... Mas muito me agradou, e, em alguns momentos, até me lembrou uma pessoa muito íntima de mim.

=)

Três Egos disse...

Muitas vezes uns esparadrapos são necessários...

Deixei um selinho para vc em meu blog.

Beijo!