quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A caixa.

De repente, ele parou o carro no meio da estrada e disse que não podia mais aguentar um só segundo. Aguentar? O que? Nada foi respondido. Ele olhava pela vidraça do carro, a chuva caindo lá fora, as luzes do poste mirando quase que o rosto dele. Estava um pouco escuro dentro do carro, eu perguntei se poderia ligar a luz, e pegando levemente na minha mão, interrompeu e disse - quase que mandando sutilmente - para que eu ficasse quieto e de boca fechada. Consenti. Então, voltei meu olhar para fora da janela, assim como ele o fazia. Quis perguntar, mas também não quis interromper o pensando que talvez transcorria pelo cérebro dele naquele momento. Eu sentia uma tensão que estava quase que sufocando. O carro fechado, aquela chuva abafando o lado de fora, de dentro. Sem querer acabei soltando um: Porra Caio! Ele não se mexeu, continuou ali olhando para o lado de fora, talvez se perguntando quando que finalmente aquela chuva pararia de cair, e eu comecei a me preocupar. Apertei as coxas dele, como se pedisse com muita vontade que ele finalmente abrisse a boca e me dissesse, ainda que fosse para nunca mais entrar naquele carro, sair da vida dele, qualquer coisa. Então, ele retirou uma caixa do banco traseiro e colocou no meu colo. Enquanto eu expressava uma curiosidade nos olhos, ele abria vagarosamente um sorriso. Antes de abrir, não me contive e perguntei se era algo ruim.

- Eu não sei o que eu vou fazer se você estiver terminando comigo, Caio. Esses aqui são os meus presentes que eu te dei, não é?
- Por que você não abre? Por que você precisa sempre ficar duvidando de tudo? Abre logo isso, poxa.

Eu entendi "porra" ali no finalzinho, mas quando chegamos em casa, ele me explicou que havia falado "poxa" mesmo, ainda que pela pressão do momento queria ter dito "porra". Eu disse que seria grosso da parte dele, e ele riu. Saímos do quarto, e fomos para a sala. Lá estavam todos os amigos reunidos, cinco. Eu estava noivo, e dali pra frente seria a pessoa mais feliz do mundo.

Um comentário:

Clara Campelo disse...

Acho muito bom aqui, sabia?
Gosto.
Bons textos.
;*