terça-feira, 3 de agosto de 2010
isa, gritou ele
engraçado seria, mas ela perdeu as duas pernas brincando de esconde-esconde. foi procurar um local escuro, longe da luz, e caiu em sono profundo. acordou cinco dias depois, respirando com dificuldade, em uma sala branquinha branquinha. só mexia os olhos. pequenos olhos negros, sem saber o que acontecia, sem saber o motivo de estar ali, deitada, imóvel. bem, ela ainda nem sabia que sairia de lá imóvel. foi sua mãe quem deu a notícia a ela. Mas que merda, hein? ela, uma esportista. fazia aulas de dança, gostava de correr no parque, brincar de esconde-esconde. agora, vai viver de costurar suas bonecas, de comer bolachas de chocolate, e suco de maçã no final da tarde. logo ela, uma menina cheia de sonhos, uma vontade de viver incrível. não demorou muito, até que chegasse a adolescência e entrasse em depressão. suas amigas, viviam saindo para baladas, e sempre se desculpavam quando falavam: Isabella, você vem com a gente? Não demorava dois segundos, até as meninas saírem correndo de tanta vergonha. Isabella aceitaria ir, se as meninas não corressem, mas elas nunca ficavam para ouvir a resposta. Nunca teve um namorado, vivia de amores virtuais. Aliás, no virtual ela podia correr, voar, planar, nadar, sem qualquer dificuldade. Podia namorar, também. Quem sabe, até casar. Mas, ela sentia falta de algo verdadeiro. Cansa viver de tecnologia, clica aqui, ali, digita aculá. Que entediante. E mais um vestido de boneca era feito, rasgado, refeito. Um dois três amigos imaginários. Uma coisa a mantinha viva: seus livros e seu capuccino. Sempre sempre, ela seguia até o final da rua, virava a esquerda, e pronto. Estava de frente com a Kolecoffee. E tomava café, e lia, e tomava café, e devorava mais uma página de qualquer romance barato. O fato de pessoas serem felizes no imaginário, alimentava as esperanças de Isabella encontrar alguém na vida real. Um dia desses, lendo e tomando seu capuccino, um rapaz adentrou a cafeteria. Todo bonitinho. Tinha um óculos, que o deixava bastante intelectual, embora ela não sabia se o mesmo sabia definir estratosfera, ou falar pneumultramicroscopicosilicovulcanoconiótico sem respirar. Ela colocou seus óculos escuros, parecia se esconder. Havia muitas pessoas aquele dia, e não havia lugares vazios. Renner, acabou se sentando na mesma mesa que Isabella. Ela tremia, tadinha. Ela não sabia se lia, se corria, digo, se ia embora, ou se ensaiava um "oi, tudo bem?". Então, nada fez. Ele a convidou para brincar de esconde-esconde na casa dele. Isa rapidamente aceitou. vou contar até dez, disse o rapaz. dez segundos depois, um barulho e tudo desmoronou. isa, isa, isa - gritava ele. por que você aceitou brincar comigo? - ele se perguntava, enquanto desferia socos no corpo pálido e imóvel.
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