sábado, 18 de abril de 2009

Em terra de cegos, quem tem olho não é rei.

Convenhamos que poder enxergar os objetos, os tons, os locais por onde você passa, as pessoas que te rodeiam, as luzes fortes que fazem seus olhos doerem, é muito bom. Ninguém gostaria de viver na escuridão, de ter que enxergar usando as mãos, de não poder ver quem passa e sorri para você. É tão melhor acordar e contemplar o sol, o azul claro das nuvens, o verde das folhas, a mistura de cores de uma natureza sem fim. Mas e quando a visão de uma hora para outra some? Como se você fechasse os olhos e quando os abrisse tudo está branco como leite? Você não teve tempo de se acostumar com a idéia, não planejou, simplesmente aconteceu abruptamente de uma hora para outra. Você os fecha, os abre, os fecha, os abre, e tudo continua branco. Tão estranho, eu achava que estar cego era viver na escuridão, mas agora eu vivo na luz, será que eu estou morto? Não, mas de fato estar cego é estar meio morto, ou melhor.. meio vivo. É como se você passasse a viver lendo um livro, onde as pessoas te contam os acontecimentos em geral, e como você não os pode ver, você tem que imaginá-los como acha que devem ter ocorrido, e daí flui sua imaginação. Com o tempo a gente vai se acostumando, não é tão fácil como quem aprende a andar de bicicleta ou a dirigir, mas ou aprendemos a viver sem os olhos ou morreremos por causa deles. É uma luta para poucos, não sei se posso chamar um cego de privilegiado, mas de certa forma é assim que deveriam se sentir. Tudo tem seu lado bom e o ruim, mas se pararmos para ficar pensando nos contras de não poder ver as coisas, só iremos descer cada vez mais baixo em direção ao oposto da luz. Talvez seja isso que falta em algumas pessoas, a cegueira. Ser obrigado a enxergar somente o interior do seu semelhante, sem descriminação de cor, de aparência, de nada. Apenas sentir e tocar. Apenas sorrir e amar. Nada mais que isso. Meus olhos foram multilados por alguém sem nome, eu não vejo mas eu sinto tudo que acontece a minha volta. Se você tem seus olhos para olhar, veja. Se você pode ver, repara.



[Pequeno texto feito por mim depois de ler O Ensaio sobre a Cegueira. Um resumo em texto completo da obra, ficaria muito extenso.]

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