Já faz algum tempo que eu não saio desse quarto, tanto tempo que já o tenho decorado dos pés a cabeça, talvez mais a cabeça que os pés, não sei direito. Eu olho para o celular, jogado lá no meio das calças sujas de barro, e não há chamadas perdidas, e nem chamadas a serem esperadas. E eu sinto tanta falta daqueles dias em que o riso batia mais a porta, que o tremer do celular no bolso apertado da calça não parava o dia inteiro, mas hoje... hoje é outra coisa. Já faz algum tempo que não recebo visitas, que não recebo tortas, cartas, nem qualquer conta atrasada. Tanto tempo que a porta range quando aberta devagar, como se fizesse efeito sonoro de filme de suspense de propósito. Eu sei que metade disso é culpa minha, mas e a outra? Tudo bem, eu afastei qualquer coisa com vida que batia na minha porta, e o celular permanece desligado desde então, mas não sei se são motivos suficientes para repelirem tudo que eu havia construído nesses dez anos. Mas como alguém me disse um dia: “Tudo que é sólido, uma hora ou outra acaba desmoronando”. E foi isso que aconteceu. Desmoronou a família quando os meus pais morreram, desmoronaram as amizades quando eu deixei de atender o telefone, e faltou pouco, muito pouco para o teto desse quarto cair sobre a minha cabeça, e devia ter caído, e se caísse eu não me esquivaria, ou colocaria as mãos sobre o rosto tentando me proteger de algum pedaço de concreto maciço, porque se alguma dia eu quis que a minha cabeça explodisse e meu coração sangrasse até não parar mais, esse dia está ficando cada vez mais próximo de mim. "Me ajuda", grito eu. Mas quem ouve?
Um comentário:
Que tal atualizar a agenda do celular e começar a atender as ligações??!!
É bom deixar a porta entreaberta, mas nunca fechada totalmente, né?!
João, tô postando pouco mesmo, é um tanto por falta de tempo, mas mais ainda por falta de inspiração, rs.
Beijos.
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